Números
Escritor: Moisés
Lugar da Escrita: Ermo e planícies de Moabe
Data: Cerca de 1405 aC.
Os Eventos da jornada dos israelitas pelo ermo foram registrados na Bíblia para o nosso proveito hoje. Como disse o apóstolo Paulo: “E essas coisas foram-nos feitas em figura, para que não cobicemos as coisas más, como eles cobiçaram.” (1 Cor. 10:6) O vívido registro de Números inculca em nós que a sobrevivência depende de santificar o nome de Deus, de lhe obedecer em todas as circunstâncias e de mostrar respeito pelos seus representantes. Seu favor não resulta de bondade ou de mérito de seu povo, mas de Sua grande misericórdia e graça.
O nome Números se refere à numeração das pessoas, efetuada primeiro junto ao monte Sinai e, mais tarde, nas planícies de Moabe, segundo registrada nos capítulos 1 4 e 26 de Números. Este nome vem do título Numeri, na Vulgata latina, e se deriva de A•rith•moí na Septuaginta grega. Contudo, os judeus chamam esse livro mais apropriadamente de Bemidh•bár, que significa “No Ermo”. A palavra hebraica midh•bár indica um lugar descampado, desprovido de cidades e povoados. Foi no ermo, ao sul e ao leste de Canaã, que ocorreram os eventos de Números.
Números evidentemente fazia parte do volume quíntuplo original, que incluía os livros de Gênesis a Deuteronômio. O primeiro versículo (1:1) começa dando continuidade com o que precede. Assim, deve ter sido escrito por Moisés, o escritor dos registros precedentes. Isto também fica claro da declaração no livro de que “Moisés registrava” e do colofão: “Estes são os mandamentos e as decisões judiciais que Deus ordenou aos filhos de Israel por meio de Moisés.” Núm. 33:2; 36:13.
Os israelitas haviam saído do Egito um pouco mais de um ano antes. Iniciando o relato no segundo mês do segundo ano depois do Êxodo, Números abrange os próximos 38 anos e nove meses. (Núm. 1:1; Deut. 1:3) Embora não se enquadrem nesse período, os eventos relatados em Números 7:1-88 e 9:1-15 são incluídos como informações de fundo. As partes iniciais do livro foram, sem dúvida, escritas à medida que os eventos se desenrolavam, mas é evidente que Moisés não poderia ter completado Números senão perto do fim do 40° ano no ermo.
Não pode haver dúvida quanto à autenticidade do relato. A respeito da terra geralmente árida pela qual viajavam, Moisés disse que se tratava dum “grande e atemorizante ermo”, e, mesmo em nossos dias, os dispersos habitantes se locomovem constantemente em busca de pastos e água. (Deut. 1:19) Ademais, as instruções detalhadas a respeito do acampamento da nação, da ordem de marcha e dos sinais de trombeta para governar os assuntos do acampamento atestam que o relato foi realmente escrito “no ermo”. Núm. 1:1.
Até mesmo o temeroso relatório dos espias, quando retornaram de sua expedição a Canaã, no sentido de que “as cidades fortificadas são muito grandes”, é confirmado pela arqueologia. (13:28) As descobertas atuais têm revelado que os habitantes de Canaã daquele tempo haviam consolidado seu domínio mediante uma série de fortificações que se estendiam pelo país em diversos lugares, desde a baixada de Jezreel, no Norte, até Gerar, no Sul. Não só eram as cidades fortificadas, mas eram em geral construídas no cume de colinas, com torres que se elevavam acima de suas muralhas, tornando-as muitíssimo impressionantes para pessoas como os israelitas, que haviam residido por gerações na terra plana do Egito.
As nações do mundo tendem a encobrir os seus fracassos e a magnificar as suas conquistas, mas, o relato de Números narra, com honestidade que denota verdade histórica, que Israel foi totalmente derrotada pelos amalequitas e pelos cananeus. (14:45) Admite francamente que o povo mostrou ser sem fé e tratou a Deus sem respeito. (14:11) Com notável candura, Moisés, profeta de Deus, expõe os pecados da nação, de seus sobrinhos e de seu próprio irmão e irmã. Tampouco poupa a si mesmo, pois fala da ocasião em que deixou de santificar a Deus, quando se supriu água em Meribá, de modo que perdeu o privilégio de entrar na Terra Prometida. 3:4; 12:1-15; 20:7-13.
Que o relato é parte genuína das Escrituras, que são inspiradas por Deus e proveitosas, se evidencia de que quase todos os seus principais eventos, bem como muitos pormenores, são diretamente citados por outros escritores da Bíblia, muitos dos quais destacam a importância deles. Por exemplo, Josué (Jos. 4:12; 14:2), Jeremias (2 Reis 18:4), Neemias (Nee. 9:19-22), Asafe (Sal. 78:14-41), Davi (Sal. 95:7-11), Isaías (Isa. 48:21), Ezequiel (Eze. 20:13-24), Oséias (Osé. 9:10), Amós (Amós 5:25), Miquéias (Miq. 6:5), Lucas, no seu registro sobre o discurso de Estêvão (Atos 7:36), Paulo (1 Cor. 10:1-11), Pedro (2 Ped. 2:15, 16), Judas (Jud. 11) e João, ao registrar as palavras de Jesus à congregação de Pérgamo (Ap. 2:14), citam do registro de Números, como fez o próprio Jesus Cristo. João 3:14.
A que objetivo, então, serve Números? Na verdade, o seu relato é mais do que de valor histórico. Números salienta que Deus é o Deus de ordem, que requer de suas criaturas devoção exclusiva. Isto é vividamente inculcado na mente do leitor, ao passo que observa o recenseamento, a provação e a peneiração de Israel, e vê como o proceder desobediente e rebelde dessa nação é usado para frisar a necessidade vital de se obedecer a Deus.
O registro foi preservado para o proveito das gerações futuras, segundo Asafe explicou, “para que pusessem a sua confiança no próprio Deus e não se esquecessem das práticas de Deus, mas observassem os próprios mandamentos dEle” e que “não se deviam tornar como seus antepassados, uma geração obstinada e rebelde, uma geração que não preparara seu coração e cujo espírito não era fidedigno para com Deus”. (Sal. 78:7, 8) Vez após vez, os eventos de Números foram mencionados nos salmos, que eram cânticos sagrados entre os judeus, de modo que eram repetidos com freqüência como sendo de proveito para a nação. Salmos 78, 95, 105, 106, 135, 136.
CONTEÚDO DE NÚMEROS
Números se divide logicamente em três partes. A primeira delas, findando no capítulo 10, versículo 10, abrange eventos que ocorreram enquanto os israelitas ainda acampavam junto ao monte Sinai. A parte seguinte, concluindo com o capítulo 21, narra o que sucedeu durante os seguintes 38 anos e mais um ou dois meses, enquanto se achavam no ermo e até chegarem às planícies de Moabe. A parte final, até o fim do capítulo 36, tem a ver com os eventos nas planícies de Moabe, enquanto os israelitas se preparavam para entrar na Terra Prometida.
Eventos junto ao monte Sinai (1:1-10:10). Os israelitas já estão na região montanhosa de Sinai por cerca de um ano. Aqui eles foram moldados numa organização bem entrosada. Às ordens de Deus, faz-se agora um recenseamento de todos os homens de 20 anos de idade ou mais. As tribos variam em tamanho, segundo se revela, de 32.200 varões vigorosos em Manassés a 74.600 em Judá, totalizando 603.550 homens aptos para servir no exército de Israel, além dos levitas, das mulheres e das crianças um acampamento composto provavelmente de três milhões de pessoas ou mais. Sustentar tão grande número de pessoas no deserto, demandava um milagre permanente. A tenda de reunião está situada, juntamente com os levitas, no centro do acampamento. Em lugares designados, de cada lado, acampam os outros israelitas, em divisões de três tribos, cada tribo tendo recebido instruções quanto à ordem da marcha, isto é, quando o acampamento precisa locomover-se. Deus emite as instruções, e o registro diz: “Os filhos de Israel passaram a fazer segundo tudo o que Deus mandara a Moisés.” (2:34) Obedecem a Deus e mostram respeito por Moisés, o representante visível de Deus.
Os levitas são então colocados à parte para o serviço de Deus, como resgate dos primogênitos de Israel. São divididos em três grupos, segundo sua respectiva descendência dos três filhos de Levi: Gérson, Coate e Merari. As posições no acampamento e as responsabilidades de serviço são determinadas à base desta divisão. Os de mais de 30 anos têm de fazer o trabalho pesado de transportar o tabernáculo. Para que o serviço mais leve seja feito, faz-se provisão para que outros sirvam a partir dos 25 anos de idade. (Reduzidos para 20 anos nos dias de Davi.) 1 Crô. 23:24-32; Esd 3:8.
Para que o acampamento seja mantido puro, dá-se instruções sobre pôr de quarentena os que adoecem, fazer expiação pelos atos de infidelidade, resolver casos em que um homem suspeite da conduta da esposa, e sobre assegurar a conduta correta dos que são colocados à parte por voto a fim de levar uma vida de nazireu para Deus. Visto que o povo tem de levar sobre si mesmo o nome de seu Deus, precisa comportar-se em harmonia com os Seus mandamentos.
Suprindo alguns pormenores do mês anterior (Núm. 7:1, 10; Êxo. 40:17), Moisés fala a seguir das contribuições de materiais, feitas pelos 12 maiorais do povo, por um período de 12 dias, desde a inauguração do altar. Não houve competição nem a procura de glória pessoal nisso; cada qual contribuiu exatamente o que os outros contribuíram. Todos precisam reter em mente que, acima desses maiorais, e acima do próprio Moisés, está Deus, que dá instruções a Moisés. Nunca devem esquecer a sua relação com Deus. A Páscoa deve fazê-los lembrar-se de sua maravilhosa libertação do Egito feita por Deus, e eles a celebram aqui no ermo na ocasião determinada, um ano depois de partirem do Egito.
Assim como dirigira a marcha de Israel para fora do Egito, Deus continua a conduzir a nação nas suas viagens, por meio duma nuvem que cobre o tabernáculo da tenda do Testemunho, de dia, e por meio de aparecimento do fogo ali, de noite. Quando a nuvem se locomove, a nação se locomove. Quando a nuvem permanece sobre o tabernáculo, a nação permanece acampada, seja por poucos dias seja por um mês ou mais, pois o relato nos diz: “Acampavam-se à ordem de Deus e partiam à ordem de Deus. Cuidavam da sua obrigação para com o Senhor segundo Sua ordem mediante Moisés.” (Núm. 9:23) Quando se aproxima o tempo de partirem do Sinai, providenciam-se toques de trombeta tanto para reunir o povo como para dirigir as diversas divisões do acampamento na jornada pelo ermo.
Eventos no ermo (10:11-21:35). Por fim, no 20° dia do segundo mês, Deus faz erguer a nuvem de sobre o tabernáculo, deste modo dando sinal para que Israel parta da região do Sinai. Com a arca do pacto de Deus no meio deles, rumam a Cades-Barnéia, uns 240 quilômetros ao norte. Enquanto marcham durante o dia, a nuvem de Deus paira sobre eles. Toda vez que a Arca parte, Moisés ora a Deus para que este se levante e disperse seus inimigos, e toda vez que ela vem a descansar, ele ora a Deus para que volte “às miríades dos milhares de Israel”. 10:36.
Contudo, surgem dificuldades no acampamento. Na viagem para o norte, para Cades-Barnéia, há pelo menos três ocasiões de queixas. Para reprimir a primeira manifestação, Deus envia fogo para consumir alguns do povo. Daí, a “multidão mista” faz Israel lamentar-se de que não mais tem como alimento peixe, pepino, melancia, alho-porro, cebola e alho do Egito, mas apenas maná. (11:4) Moisés fica tão angustiado que pede a Deus que o mate em vez de deixá-lo continuar a servir de aio para todo aquele povo. Deus, mostrando consideração, retira parte do espírito de Moisés e coloca-o sobre 70 anciãos, que passam a ajudar Moisés como profetas no acampamento. Daí vem carne em abundância. Como já sucedera antes, um vento da parte de Deus traz codornizes do mar, e o povo gananciosamente se apodera de grande suprimento, estocando-o egoisticamente. A ira de Deus se acende contra eles, abatendo muitos por causa do ardente desejo egoísta deles. Êxo. 16:2, 3, 13.
As dificuldades continuam. Deixando de reconhecer devidamente seu irmão mais novo, Moisés, como representante de Deus, Miriã e Arão o criticam por causa de sua esposa, recém-chegada ao acampamento. Exigem mais autoridade, comparável à de Moisés, embora ‘o homem Moisés fosse em muito o mais manso de todos os homens na superfície do solo’. (Núm. 12:3) O próprio Deus corrige o assunto, revelando que Moisés ocupa uma posição especial e ferindo com lepra a Miriã, a provável instigadora da queixa. Foi só mediante a intercessão de Moisés que ela mais tarde se restabeleceu.
Chegando a Cades, Israel acampa no limiar da Terra Prometida. Deus instrui Moisés a enviar espias para fazer reconhecimento do país. Entrando pelo Sul, eles viajam para o Norte, até a “entrada de Hamate”, caminhando centenas de quilômetros em 40 dias. (13:21) Quando retornam com alguns dos ricos frutos de Canaã, dez dos espias argumentam sem fé que seria tolo ir contra um povo tão forte e tão grandes cidades fortificadas. Calebe tenta acalmar a assembléia com um relatório favorável, mas sem êxito. Os espias rebeldes lançam medo no coração dos israelitas, afirmando que se trata duma terra que “consome os seus habitantes” e dizendo: “Todo o povo que vimos no meio dela são homens de tamanho extraordinário.” À medida que queixas de rebelião se espalham no acampamento, Josué e Calebe rogam: “Deus está conosco. Não os temais.” (13:32; 14:9) Mas, a assembléia passa a falar em apedrejá-los.
Deus então intervém diretamente, dizendo a Moisés: “Até quando me tratará este povo sem respeito e até quando não depositarão fé em mim, em vista de todos os sinais que realizei entre eles?” (14:11) Moisés lhe implora que não destrua a nação, visto que o nome e a fama de Deus estão envolvidos. Deus decreta, então, que Israel continuará a vagar pelo ermo até que todos os que foram registrados entre o povo, de 20 anos ou mais, tenham morrido. Dos varões registrados, apenas Calebe e Josué terão permissão de entrar na Terra da Promessa. É em vão que o povo tenta subir por sua própria iniciativa, apenas para sofrer terrível derrota às mãos dos amalequitas e dos cananeus. Que preço elevado paga o povo pelo desrespeito para com Deus e seus leais representantes!
Realmente, eles têm muito a aprender no tocante à obediência. Apropriadamente, Deus lhes dá leis adicionais, que acentuam tal necessidade. Ele lhes informa que, quando entrarem na Terra Prometida, será preciso fazer expiação pelos erros, mas os deliberadamente desobedientes precisam ser eliminados sem falta. Assim, quando um homem é apanhado ajuntando lenha em violação da lei sabática, Deus ordena: “O homem, sem falta, deve ser morto.” (15:35) Como lembrete dos mandamentos de Deus e da importância de obedecer a eles, Deus instrui que usem franjas nas orlas das vestimentas.
Não obstante, irrompe outra vez a rebelião. Corá, Datã e Abirão e 250 homens de destaque na assembléia se reúnem em oposição à autoridade de Moisés e Arão. Moisés leva a questão perante Deus, dizendo aos rebeldes: ‘Tomai porta-lumes e incenso e apresentai-os perante Deus, e deixai que ele escolha.’ (16:6, 7) A glória de Deus aparece então a toda a assembléia. Ele executa velozmente o julgamento, fazendo com que a terra se abra e trague as famílias de Corá, Datã e Abirão, e envia fogo para consumir os 250 homens, inclusive Corá, que oferecem o incenso. Logo no dia seguinte, o povo passa a condenar a Moisés e a Arão por aquilo que Deus fez, e novamente Ele os flagela, eliminando 14.700 queixosos.
Por causa desses eventos, Deus ordena que cada tribo apresente um bastão perante ele, inclusive um bastão com o nome de Arão para a tribo de Levi. Demonstra-se, no dia seguinte, que Deus escolheu Arão para o sacerdócio, pois apenas o bastão dele apresenta flores plenamente desabrochadas e dá amêndoas maduras. O bastão há de ser preservado na arca do pacto “como sinal para os filhos da rebeldia”. (Núm. 17:10; Heb. 9:4) Depois de instruções adicionais para o sustento do sacerdócio por meio de dízimos e sobre o uso da água de purificação com as cinzas de uma vaca vermelha, o relato nos leva outra vez a Cades. Ali Miriã morre e é sepultada.
Novamente, no limiar da Terra Prometida, a assembléia alterca com Moisés, por causa da falta de água. Deus considera isso como altercação com Ele, e aparece na sua glória, ordenando a Moisés que tome o bastão e faça sair água do rochedo. Será que nessa ocasião Moisés e Arão santificam a Deus? Em vez disso, Moisés golpeia duas vezes o rochedo com ira. O povo e seu gado obtêm água para beber, mas Moisés e Arão deixam de dar o crédito a Deus. Embora a jornada no ermo esteja quase no fim, ambos incorrem no desagrado de Deus e se lhes informa que não entrarão na Terra Prometida. Arão morre mais tarde no monte Hor e seu filho Eleazar assume os deveres de sumo sacerdote.
Israel vira para o leste e procura atravessar a terra de Edom, mas é repelido. Ao fazer um grande desvio em volta de Edom, o povo entra outra vez em dificuldades, queixando-se de Deus e de Moisés. Estão fartos do maná e têm sede. Por causa de sua rebeldia, Deus envia-lhes serpentes venenosas, de modo que muitos morrem. Por fim, quando Moisés intercede, Deus instrui-o a fazer uma ardente serpente de cobre e colocá-la numa haste de sinal. Os que foram mordidos, mas que fitam a serpente de cobre, são poupados com vida. Rumando para o norte, os israelitas são impedidos, respectivamente, pelos reis beligerantes Síon, dos amorreus, e Ogue, de Basã. Eles derrotam a ambos em batalha, e Israel ocupa os seus territórios ao leste do vale de abatimento tectônico.
Eventos nas planícies de Moabe (22:1-36:13). Em ávida antecipação de sua entrada em Canaã, os israelitas se reúnem então nas planícies desérticas de Moabe, ao norte do mar Morto e ao leste do Jordão, defronte de Jericó. Vendo este vasto acampamento espraiado diante deles, os moabitas sentem temor mórbido. Seu rei Balaque, consultando os midianitas, manda chamar a Balaão para que este use de adivinhação e amaldiçoe a Israel. Embora Deus diga diretamente a Balaão: “Não deves ir com eles”, ele quer ir. (22:12) Ele quer a recompensa. Por fim vai mesmo, mas o que acontece é que ele é interceptado por um anjo e a sua própria jumenta fala miraculosamente para o repreender. Quando finalmente Balaão chega a proferir declarações sobre Israel, o Espírito de Deus o impele, de modo que os seus quatro ditos proverbiais profetizam apenas bênçãos para a nação de Deus, predizendo até que uma estrela sairá de Jacó e um cetro surgirá de Israel para subjugar e destruir.
Tendo enfurecido a Balaque com o seu fracasso em amaldiçoar a Israel, Balaão procura obter o favor do rei, sugerindo que os moabitas usem as mulheres de seu povo para engodarem os homens de Israel a participar nos ritos licenciosos relacionados com a adoração de Baal.(31:15,16) Aqui, bem na fronteira da Terra Prometida, os israelitas começam a cair vítimas da crassa imoralidade e da adoração de deuses falsos. Quando a ira de Deus se acende num flagelo, Moisés exige punição drástica dos malfeitores. Quando Finéias, filho do sumo sacerdote, vê o filho dum maioral trazer uma midianita para a sua tenda, dentro do próprio acampamento, ele vai atrás deles e os mata, ferindo a mulher pelas suas partes genitais. Assim se faz parar o flagelo, depois de 24.000 terem morrido em resultado dele.
A seguir, Deus ordena a Moisés e a Eleazar que façam um novo recenseamento do povo, conforme se fizera quase 39 anos antes, junto ao monte Sinai. A contagem final mostra que não houve aumento nas suas fileiras. Pelo contrário, há 1.820 homens a menos registrados. Não resta nenhum dos que foram registrados junto ao Sinai para o serviço do exército, exceto Josué e Calebe. Conforme Deus indicara que sucederia, todos eles haviam morrido no ermo. Deus dá a seguir instruções relativas à divisão da terra como herança. Repete que Moisés não entrará na Terra da Promessa, por ter deixado de santificar a Deus junto às águas de Meribá. (20:13; 27:14). Josué é designado sucessor de Moisés.
Mediante Moisés, Deus a seguir lembra Israel da importância de Suas leis sobre sacrifícios e festividades e da seriedade dos votos. Faz também com que Moisés ajuste contas com os midianitas, por causa de sua participação em seduzir Israel no tocante a Baal de Peor. Todos os varões midianitas são mortos em batalha, juntamente com Balaão, e só são poupadas as moças virgens, 32.000 destas sendo levadas cativas juntamente com o saque que inclui 808.000 animais. Nem sequer um israelita morre na batalha, segundo se informa. Os filhos de Rubem e de Gade, que são criadores de gado, pedem para estabelecer-se no território ao leste do Jordão, e, depois de concordarem em ajudar na conquista da Terra Prometida, o pedido é concedido, de modo que essas duas tribos, juntamente com metade da tribo de Manassés, recebem como posse esse rico planalto.
Depois de uma recapitulação dos lugares de parada, durante a viagem de 40 anos, o registro focaliza outra vez a atenção na necessidade de obediência a Deus. Deus lhes dá aquela terra, mas eles têm de tornar-se Seus executores, expulsando os habitantes depravados e adoradores de demônios e destruindo todo vestígio de sua religião idólatra. Descrevem-se em pormenores as fronteiras da terra que Deus lhes dá. Ela deve ser dividida entre eles por sortes. Os levitas, que não têm herança tribal, devem receber 48 cidades, com seus pastios, 6 das quais têm de ser cidades de refúgio para o homicida não intencional. O território tem de permanecer dentro da tribo, nunca devendo ser transferido a outra tribo por meio de casamento. Se não houver herdeiro masculino, então as filhas que recebem uma herança por exemplo, as filhas de Zelofeade têm de casar-se dentro de sua própria tribo. (27:1-11; 36:1-11) Números conclui com estes mandamentos de Deus por intermédio de Moisés e estando os filhos de Israel prestes a finalmente entrar na Terra Prometida.
PROVEITO PARA OS DIAS ATUAIS:
Jesus se referiu a Números em diversas ocasiões, e seus apóstolos e outros escritores da Bíblia demonstram claramente quão significativo e proveitoso é seu registro. O autor da carta aos Hebreus comparou especificamente o fiel serviço de Jesus ao de Moisés, que está registrado principalmente em Números. (Heb.3:1-6) Também, nos sacrifícios animais, e em aspergir as cinzas da novilha vermelha, de Números 19:2-9, vemos outra vez retratada a provisão muito maior da purificação mediante o sacrifício de Cristo. Heb. 9:13, 14.
Similarmente, Paulo mostrou que fazer sair água do rochedo no ermo é repleto de significado para nós, dizendo: “Costumavam beber da rocha espiritual que os seguia, e essa rocha significava o Cristo.” (1 Cor. 10:4; Núm. 20:7-11) Apropriadamente, o próprio Cristo disse: “Quem beber da água que eu lhe der, nunca mais ficará com sede, mas a água que eu lhe der se tornará nele uma fonte de água que borbulha para dar vida eterna.” João 4:14.
Jesus fez também referência direta a um incidente registrado em Números, que prefigurou a maravilhosa provisão que Deus fazia por intermédio dele. “Assim como Moisés ergueu a serpente no ermo”, disse ele, “assim tem de ser erguido o Filho do homem, para que todo o que nele crer tenha vida eterna”. João3:14,15; Núm. 21:8, 9.
Por que foram os israelitas sentenciados a vagar por 40 anos no ermo? Por falta de fé. O autor da carta aos Hebreus, deu forte admoestação sobre esse ponto: “Acautelai-vos, irmãos, para que nunca se desenvolva em nenhum de vós um coração iníquo, falto de fé, por se separar do Deus vivente; mas, persisti em exortar-vos uns aos outros cada dia.” Por causa de sua desobediência, por causa de sua falta de fé, aqueles israelitas morreram no ermo. “Façamos, portanto, o máximo para entrar naquele descanso [de Deus], para que ninguém caia no mesmo exemplo de desobediência.” (Heb. 3:7-4:11; Núm. 13:25-14:38) Advertindo contra os homens ímpios, que falam injuriosamente das coisas sagradas, Judas se referiu à ganância de Balaão por recompensa e à fala rebelde de Corá contra Moisés, servo de Deus. (Jud. 11; Núm. 22:7, 8, 22; 26:9, 10) Balaão foi também mencionado por Pedro como sendo alguém que “amava a recompensa de fazer injustiça”, e pelo glorificado Jesus, na sua revelação por intermédio de João, como sendo alguém que ‘pôs diante de Israel uma pedra de tropeço de idolatria e de fornicação’. Certamente, a congregação cristã hoje deve ser acautelada contra tais ímpios. 2 Ped. 2:12-16; Ap. 2:14.
Quando surgiu imoralidade entre os da congregação coríntia, Paulo escreveu-lhes a respeito do ‘desejo de coisas prejudiciais’, referindo-se especificamente a Números. Admoestou: “Nem pratiquemos a fornicação, assim como alguns deles cometeram fornicação, só para caírem, vinte e três mil deles, num só dia.” (1 Cor. 10:6, 8; Núm. 25:1-9; 31:16) Que dizer da ocasião em que as pessoas se queixaram de que obedecer aos mandamentos de Deus acarretava dificuldade pessoal e de que estavam descontentes com a provisão do maná feita por Deus? Sobre isso, Paulo diz: “Nem ponhamos Deus à prova, assim como alguns deles o puseram à prova, só para perecerem pelas serpentes.” (1 Cor. 10:9; Núm. 21:5, 6) Daí, Paulo continua: “Nem sejamos resmungadores, assim como alguns deles resmungaram, só para perecerem pelo destruidor.” Quão amargas foram as experiências de Israel por resmungarem contra Deus, seus representantes e suas provisões! Estas coisas que “lhes aconteciam como exemplos” devem servir de advertência clara a todos nós hoje, para que possamos continuar a servir a Deus na plenitude da fé.1Cor.10:10,11; Núm.14:2, 36, 37; 16:1-3, 41; 17:5, 10.
Números fornece também o fundo histórico, que serve para se entender melhor muitas outras passagens da Bíblia. Núm. 28:9,10 Mat.12:5; Núm.15:38Mat.23:5; Núm.6:2-4Luc.1:15; Núm.4:3Luc.3:23; Núm.18:311Cor. 9:13, 14; Núm.18:26Heb.7:5-9; Núm.17:8-10Heb 9:4.
O que está registrado em Números é deveras inspirado por Deus, e é proveitoso para nos ensinar a importância da obediência a Deus e do respeito por aqueles que ele fez ministros entre seu povo. Mediante exemplo, reprova a transgressão, e mediante acontecimentos de significado profético dirige nossa atenção Àquele que Deus proveu qual Salvador e Líder de seu povo hoje. Supre um elo essencial e instrutivo no registro, que conduz ao estabelecimento do justo reino de Deus, às mãos de Jesus Cristo.
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