quarta-feira, 5 de março de 2014

Gênesis (Parte II) *

Professor Janildo Arantes: Gênesis (Parte II) *: --> O GÊNESIS - II


O GÊNESIS - II
 


O evolucionismo científico perante a Bíblia
É conveniente salientar que a narração bíblica das origens do mundo e das coisas não tem nada a ver com a explicação que a ciência moderna atribui a estes fatos. Ela está conforme a concepção cosmológica popular da época em que foi escrita, para ser entendida por aquele povo. Quanto a nós, não deve nos impressionar a narrativa literal dos fatos, mas devemos apenas retirar dali as idéias centrais ou a mensagem contida na narração. Se atualmente, com todos os subsídios de que dispomos de ciência e de técnica, ainda não se chegou a um acordo sobre as origens, que dizer daqueles que viveram uns 5.000 anos antes de nós?... Enquanto os cientistas divergem em suas pesquisas e afirmações, atualmente a Igreja Católica já aceita o evolucionismo, desde que tenha Deus em seu início.
Conforme os estudos geomórficos, os cientistas procuraram compreender a evolução do planeta e para isto é comum dividir os períodos de formação da terra.
1º. período: pré-cambriano - Anterior ao aparecimento da vida. Há uns 4,7 bilhões de anos, havia apenas uma nuvem de hidrogênio que foi aos poucos se aglutinando, transformando e enriquecendo com outros elementos. Daí, à custa de explosões atômicas foi se compondo, e o hidrogênio se transformou em hélio, que por sua vez se queimou e virou carbono. O carbono é encontrado principalmente em matérias orgânicas. Portanto, a partir daí estamos muito próximo do aparecimento da vida.
2. período: cambriano - Foi quando apareceu a vida, há uns 600 milhões de anos. No início, havia vida no mar, apenas (algas, por exemplo).
3. período: ordoviciano - 500 milhões de anos. Continuação e evolução da vida ainda na água.
4. período: silusiano - 440 milhões de anos. Aparecem as primeiras plantas na terra.
5. período: devoniano - 400 milhões de anos. Época do aparecimento dos primeiros anfíbios, animais que conseguiam viver na água e na terra. Evolução da vida na passagem do mar para a terra.
6. período: carbonífero - 350 milhões de anos. Aparecem outras espécies de árvores. Surgem também os animais invertebrados.
7. período: permiano - 270 milhões de anos. Aparecem os répteis e insetos.
8. período: triássico - 220 milhões de anos. Surgem os primeiros mamíferos.
9. período: jurássico - 180 milhões de anos. Aparecem os grandes répteis, os dinossauros e as primeiras aves.
10. período: cretáceo - 135 milhões de anos. Evoluem as espécies que continuam e desaparecem outras.
11. período: esceno - 70 milhões de anos. Proliferação de espécies de mamíferos, maxime macacos.
12. período: oligocêno - 40 milhões de anos. Aparecem os primeiros macacos sem cauda.
13. período: mivano - 25 milhões de anos. Evolução de algumas espécies de macacos (ex: proconsul, cliopteco).
14. período: plioceno - 11 milhões de anos. Evolução em especial dos macacos.
15. período: pleistoceno – l milhão de anos. Aparecimento dos animais domésticos (cão, cavalo, camelo) e do homem.
Os quatro primeiros períodos formam a era paleozóica; do 5º até o 10º período, a era mesozóica; do 11º ao 14º, temos a era terciária; e do 15º em diante, a era quaternária.
O aparecimento do homem
Com relação ao aparecimento do homem no período pleistoceno, há aproximadamente 1 milhão anos, os primeiros eram um tipo ainda intermediário entre o homem e o macaco. Assim, o primeiro destes hominídeos de que se tem notícia é denominado 'homem de Java', de aproximadamente uns 800 mil anos atrás. Ele tinha apenas 700 cm3 de cérebro. É maior do que o cérebro de um macaco, mas menor do que o de um homem. O outro espécime data de 600 mil anos. É o 'pitecantropo', que também é intermediário e tem 750 cm3 de cérebro.
A partir daí, a ciência não tem ainda dados claros de como e quando se deu a 'hominização'. Os estudiosos vacilam entre 400 a 300 mil anos. Deste período não foi encontrado nenhum espécime, de modo que tudo são apenas conclusões. Mas sabe-se que à medida que os anos foram se passando, foi aumentando a capacidade craniana, o polegar foi se distanciando dos outros dedos e a coluna vertebral foi ficando mais ereta. Até quando chegou num ponto onde houve aquele "estalo" da inteligência e da consciência, e o ser intermediário se transformou em homem. O Neanderthal data de 120 mil anos e já é homem. O Cro-Magnon é de 30 mil anos. É do tempo em que o homem começou a utilizar a caça e a pesca. E o primeiro "homo sapiens", que é o homem moderno, do qual se tem notícia é de 10 mil anos.
Estes dados científicos, mas não assim são tão matemáticos. Os meios de que a ciência dispõe ainda não chegam a uma precisão. Mas a evolução hoje é uma questão de inteligência. São sinais que não se notam de uma geração para a outra, mas que contados os anos em milhões, dá muita diferença. A ficção científica explora muito o homem do futuro, que deverá ter uma cabeça descomunal, sem cabelos, o corpo esguio, sem o dente do ciso e sem sabe lá o que mais... é preciso esperar para ter certeza. Já o conhecimento de outros antepassados do homem está a depender de outras pesquisas e descobertas.

 


O GÊNESIS - III


O sentido por trás das narrativas




Para entender as narrações bíblicas da história da criação, vamos analisar certos detalhes:
1. Em Gen. 2,19 (história da costela).

Esta narrativa tem o objetivo de dizer que o homem e a mulher são seres da mesma natureza. Era uma afirmação ousada para a cultura da época. O cristianismo trouxe esta verdade com sua doutrina. A mulher era tida, nas culturas daquele tempo, como um ser intermediário entre o homem e o aniMl. O cristianismo atribui-lhe o mesmo status do homem.
2. Em Gen. l,14 (criação dos astros).

Os astros eram divinizados por muitos povos antigos. O hagiógrafo quer dizer, com a narativa da criação dos astros, que eles são apenas criaturas de Deus, não são deuses. Tanto que os chama de faróis, embora já soubesse os seus nomes. Deus os colocou lá no alto para separar a noite do dia e para fazer o calendário.
3. Em 1,26 (criação do homem).
Neste ponto, a narrativa bíblica muda a flexão do verto e fala na primeira pessoa do plural: Façamos o homem... ‘Imagem e semelhança’: A relação que os antigos faziam entre a 'imagem' e a própria pessoa era tão viva que era tida como se fosse a pessoa mesma. Dizer que o homem é imagem de Deus é o mesmo que dizer que o homem é a representação de Deus no mundo. A semelhança, para dizer que não é a mesma coisa, não é outro Deus. De que modo o homem representa Deus no mundo? Em seu 'espirito'. É o que distingue o homem do restante do universo: as faculdades intelectuais, o estar acima da criação para conduzi-la, como se fosse Deus.
4. 'Cultivai a terra'...

Aqui está inserido o conceito de trabalho. O trabalho já existia antes do pecado do homem. Foi o primeiro preceito que Deus mandou ao homem. Antes mesmo de mandar oferecer sacrifícios, mandou trabalhar. O que o pecado trouxe foi a penosidade do trabalho, o 'suor' do rosto, o esforço corporal para a sua realização.
5. 'Adão' é nome comum coletivo.
O nome 'Adão' é mais do que o designativo de um ser singular. Significa um homem ou a humanidade. Assim também Eva tem um sentido coletivo. A distinção de sexo não é uma diferença apenas biológica, necessária para a reprodução da espécie humana, mas também uma distinção ética: corresponde ao relacionamento que deve haver entre ambos.
6. Inimizade entre homens e animais também não houve desde o inicio, mas com o pecado.
7. A árvore da vida é o aproveitamento de um elemento mitológico e é símbolo da imortalidade.
A história da árvore do bem e do mal é para fazer notar que todo o mal deriva do pecado, mas que apesar do pecado, o destino final do homem é a imortalidade. Por que a serpente neste contexto? Ela era conhecida como o animal mais astuto da natureza. Por isso, ela foi usada pelo autor para personificar o Ml. A segunda finalidade desta referência é apologética, porque era a serpente adorada como deus por algumas nações contemporâneas deles. O autor insiste em que ela é apenas criatura.
8. "Estavam nus e não se envergonhavam"
Esta referência significa a harmonia do paraíso. Concretamente, nunca aconteceu um paraíso do modo como está na Bíblia. Observa-se que, sempre na natureza, as coisas acontecem numa evolução de perfeição, ou seja, do menos perfeito para o mais perfeito. Não houve este estado inicial de total equilíbrio para depois haver a desarmonia. O paraíso é mais que uma 'saudade', é uma 'esperança'.
9. O fruto do bem e do mal nada tem a ver com a maçã.
Esta associação com a maçã tem origens culturais bem antigas, mas não é bíblica. Também não é apenas o conhecimento do bem e do mal que importa. "Conhecer" para os hebreus tinha um sentido bem mais profundo e íntimo. Não é o mero saber intelectual, mas o fato de ser árbitro entre o bem e o mal, de poder decidir entre o bem e o Ml. Isto não aconteceu apenas naquela ocasião, mas acontece cada vez que o homem comete um pecado. Quer dizer, o pecado acontece porque o homem inverte os valores e quer julgar por si próprio ou segundo o seu parecer o que é bem e o que é Ml. Só Deus tem este poder. Querendo se sobrepor a Deus, o homem erra, e então acontece aquela desordem.
1. O conceito bíblico de pecado
O primeiro pecado aconteceu quando o homem, pela primeira vez usou mal da liberdade. Isto acontece com cada pessoa no mundo. O entendimento do pecado original na concepção antiga não pode mais ser aceito hoje em dia no sentido histórico de um homem e uma mulher que pecaram e os filhos estão sofrendo as conseqüências. É necessária uma nova compreensão desta verdade bíblica.
É importante, para melhor compreensão desta parte da Bíblia considerar Adão não como um só homem singular, mas como representante de toda a humanidade. O hagiógrafo, ao dizer que "tudo era bom", tinha em vista responsabilizar o homem pela entrada do mal no mundo. Nos primeiros capítulos do gênesis, apresenta o mundo perfeito. Do terceiro em diante, faz quase uma oposição do que disse: isto significa que o homem é inclinado para o mal pela sua própria natureza e nisto está a essência do que se chama 'pecado original'.
Até pouco tempo, se acreditava que o pecado original era uma herança do pecado de um só homem (Adão), o que sempre repugnou que uma criança inocente já nascesse em pecado. Atualmente, se crê e se aplica este conceito ao fato de que a pessoa, ao nascer num mundo onde já há o pecado, embora sem culpa dele, terá esta tendência para fazer o mal, que pode ser superada com a graça de Deus. Visto que o homem é um ser imperfeito, ele poderá vacilar e praticar o mal, e assim o 'pecado' de cada indivíduo vai "contribuindo" para a continuação do mal no mundo.
O Batismo, como se entendia antigamente, servia apenas para 'apagar' o pecado original. Mas não é este o sentido mais adequado deste sacramento. Antes de tudo, o Batismo é uma consagração para dar ao indivíduo condições de vencer a luta contra o Ml. Cristo veio diminuir a força do mal com os meios que trouxe, isto é, com a graça que trouxe do Pai. Mas esta força que inclina o homem para o mal sempre existe, embora contra a sua vontade. E é tão evidente que foi personificada como o 'demônio'...
Se todos continuam pecando, o pecado vai aumentando no mundo, ao invés de se acabar, e a situação vai piorando a cada dia, em vez de melhorar. E a tal vitória final do bem, que se espera, como fica? Isto vai depender do esforço de cada pessoa. JC já fez a sua parte e deixou os meios para que cada um fizesse a sua. A promessa divina de que o bem vencerá finalmente é válida e se caminha para isso. Mas a liberdade humana também continua viva e só quando o homem souber utilizá-la devidamente é que o mal perderá terreno. E o uso pleno da liberdade pelo homem só se dará na plenitude.
2. O ponto de vista da ciência
Na perspectiva evolucionista científica, como se explica tudo isto? Há duas explicações:
a) a monogenista, que defende a teoria de ter havido um único casal de homínidas que ultrapassou a barreira da hominização (racionalidade);
b) a poligenista, que acredita terem sido vários os casais que, numa mesma faixa temporal, conseguiram ultrapassar a barreira da irracionalidade para a racionalidade.
O monogenismo tem em seu favor o próprio texto da Bíblia, sobretudo a posição de Paulo em Romanos, 5, 12-15. O poligenismo tem como principal dificuldade para sua aceitação pela Igreja exatamente este texto paulino, pelo conflito que inviabiliza qualquer tentativa de conciliação. Mas é preciso se considerar que São Paulo tem aí neste texto o interesse em opor o pecado existente no mundo com a graça divina: ou seja, se o pecado é grande, a graça é bem maior. Na verdade, ele não quer ensinar um conceito, por exemplo que o pecado original é de um só ou de muitos, mas enfatizar a superabundância da graça sobre o pecado. Entendido assim, para a validade do argumento de S.Paulo não é de necessidade absoluta a premissa de um só autor do pecado. Isto tem sido uma complementação histórico-cultural. Do mesmo modo que a história de Jonas, pelo fato de que JC a repetiu no Evangelho, nem por isso deixa de ser simbólica. Porém, explicar como se deu o pecado original, isto não se pode dizer com absoluta certeza nem no monogenismo nem no poligenismo.

 


Cronologia e História da Salvação


1. Bíblia e cronologia
O fator cronológico não está presente na Bíblia de uma forma linear. Assim, muitas histórias que aparecem no início da Bíblia são, de fato, mais recentes do que se pode pensar. A história de Caim e Abel, por exemplo, supõe um tempo em que os homens já estavam espalhados na terra, para que pudesse haver perseguição a ele. O dilúvio, a torre de Babel e outras estão nesta linha, pois supõem a existência de muitas pessoas e lugares. Por que juntar estes relatos fantasiosos à história verdadeira? Têm algum valor esta apelação para fatos que não aconteceram, a fim de completar a história?
A história da salvação, mais do que uma história propriamente dita, é uma interpretação da história humana. O fato em si, na história da salvação, não é tão importante quanto a interpretação do fato, a mensagem que se pode tirar dele: ele pode ser o paradigma de uma intervenção de Deus num fato real. Não importa, por exemplo, como foi criado o mundo (monogenismo, poligenismo, em sete dias, diretamente ou não, ...) o que importa é que foi criado por Deus. O pecado original também não importa como aconteceu; mas que aconteceu. Caim e Abel não se sabe onde viveram nem se viveram mesmo, mas esta história representa um modo histórico de agir do homem. Abraão com Isaac, Jacó com Labão... não importa que tenham ou não acontecido, mas importa a interpretação destes fatos, de como Deus intervém em favor de seus amados.
Entre os capítulos IV e V, assim como entre os cap. X e XI do gênesis, há genealogias de Adão a Noé e de Noé a Abraão, respectivamente. O que isto significa? Qual a intenção do escritor sagrado? Estas genealogias foram intercaladas aí com o intuito de fazer a ligação, estabelecer a seqüência dos fatos. Elas, provavelmente, não são autênticas. Podem até ter sido transcritas de livros de genealogias dos reis da Babilônia (ante e pós diluvianos). A própria história do dilúvio mostra, assim, um progressivo distanciamento dos homens de Deus, preparando a chegada dos patriarcas.


http://professorjanildoarantes.blogspot.com.br/2009/09/genesis-parte-ii.html?spref=bl

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