Introdução ao 5º livro bíblico: Deuteronômio
Escritor: Moisés.
Lugar da Escrita: Planícies de Moabe.
O livro de Deuteronômio contém uma mensagem dinâmica para o povo de Deus. Depois de vaguearem pelo ermo por 40 anos, os filhos de Israel achavam-se então no limiar da Terra da Promessa. O que os aguardava? Quais seriam os problemas peculiares a enfrentar do outro lado do Jordão? O que teria Moisés a dizer finalmente à nação? Podemos também perguntar-nos: Por que é proveitoso para nós hoje saber a resposta a essas perguntas?
A resposta encontra-se nas palavras que Moisés proferiu e assentou por escrito no quinto livro da Bíblia, Deuteronômio. Embora repita muitas coisas dos livros precedentes, Deuteronômio é importante por notáveis razões próprias. Como assim? Acrescenta ênfase à mensagem divina, tendo sido fornecida numa época da história do povo de Deus em que os israelitas realmente necessitavam de liderança dinâmica e direção positiva. Estavam prestes a entrar na Terra Prometida sob um novo líder. Necessitavam de encorajamento para ir avante, e, ao mesmo tempo, necessitavam de advertências divinas para habilitá-los a adotar o proceder correto, que lhes proporcionaria as bênçãos de Deus.
Devido a essa necessidade, Moisés foi movido poderosamente pelo Espírito de Deus a exortar Israel de modo franco a mostrar obediência e fidelidade. Através do livro inteiro, ele sublinha que Deus é o Senhor Altíssimo, que exige devoção exclusiva e deseja que seu povo ‘o ame de todo o coração, de toda a alma e de toda a força vital’. Ele é “o Deus dos deuses e o Senhor dos senhores, o Deus grande, poderoso e atemorizante, que não trata a ninguém com parcialidade, nem aceita suborno”. Ele não tolera nenhuma rivalidade. Obedecer a Deus significa a vida, desobedecer significa a morte. A instrução de Deus, dada em Deuteronômio, era precisamente a preparação e o conselho que Israel necessitava para as tarefas gigantescas à frente. É também a espécie de admoestação que necessitamos hoje, para que continuemos a andar no temor de Deus, santificando o seu nome no meio de um mundo corrupto. Deut. 5:9, 10; 6:4-6; 10:12-22.
O nome Deuteronômio deriva-se do título da tradução grega Septuaginta, a saber, Deu•te•ro•nó•mi•on, nome composto formado de deú•te•ros, que significa “segundo”, e de nó•mos, “lei.” Significa, portanto, “Segunda Lei; Repetição da Lei”. Vem da tradução grega da frase hebraica em Deuteronômio 17:18, mish•néh hat•toh•ráh, corretamente traduzida ‘cópia da lei’. Não obstante o significado do nome Deuteronômio, este livro da Bíblia não é uma segunda lei, tampouco é mera repetição da Lei. Em vez disso, é uma explicação da Lei, que exorta Israel a amar e a obedecer a Deus na Terra Prometida em que entraria em breve. 1:5.
Visto que este é o quinto rolo, ou volume, do Pentateuco, o escritor deve ter sido o mesmo que o dos quatro livros precedentes, a saber, Moisés. A declaração inicial identifica Deuteronômio como sendo “as palavras que Moisés falou a todo o Israel”, e expressões posteriores, tais como “Moisés escreveu . . . esta lei” e “Moisés escreveu este cântico”, provam claramente que ele foi o escritor. O nome dele aparece quase 40 vezes no livro, em geral como a autoridade para as declarações feitas. A primeira pessoa, referindo-se a Moisés, é usada predominantemente em todo o livro. Os versículos concludentes foram acrescentados depois da morte de Moisés, com toda a probabilidade por Josué ou pelo sumo sacerdote Eleazar. 1:1; 31:9, 22, 24-26.
Quando ocorreram os eventos contidos em Deuteronômio? O próprio livro declara no início que, “no quadragésimo ano, no décimo primeiro mês, no primeiro dia do mês, . . . Moisés falou aos filhos de Israel”. Ao se completar a narrativa em Deuteronômio, o livro de Josué continua o relato três dias antes da travessia do Jordão, que se deu “no décimo dia do primeiro mês”. (Deut. 1:3; Jos.1:11; 4:19) Isto deixa um período de dois meses e uma semana para os eventos de Deuteronômio. Entretanto, 30 dias deste período de nove semanas foram reservados para prantear a morte de Moisés. (Deut. 34:8) Isto significa que, a bem dizer, todos os eventos relatados em Deuteronômio devem ter ocorrido no 11° mês do 40° ano. Perto do fim daquele mês, deve ter-se praticamente completado também a escrita do livro, ocorrendo a morte de Moisés em princípios do 12.° mês do 40° ano, em cerca de 1405 a.C..
As provas já apresentadas da autenticidade dos primeiros quatro livros do Pentateuco aplicam-se igualmente a Deuteronômio, o quinto livro. É também um dos quatro mais citados livros das Escrituras Hebraicas nas Escrituras Gregas Cristãs, sendo os outros Gênesis, Salmos e Isaías. Há 83 de tais citações, e apenas seis dos livros das Escrituras Gregas Cristãs deixam de fazer alusão a Deuteronômio.
O próprio Jesus dá o mais convincente testemunho da autenticidade de Deuteronômio. No início de seu ministério, foi tentado três vezes pelo Diabo, e três vezes replicou: “Está escrito.” Onde estava escrito? No livro de Deuteronômio (8:3; 6:16, 13) que Jesus citava como autoridade: “O homem tem de viver, não somente de pão, mas de cada pronunciação procedente da boca de Deus.” “Não deves pôr o Senhor, teu Deus, à prova.” “É ao Senhor, teu Deus, que tens de adorar e é somente a ele que tens de prestar serviço sagrado.” (Mat. 4:1-11) Mais tarde, quando os fariseus vieram prová-lo com respeito aos mandamentos de Deus, Jesus citou em resposta “o maior e primeiro mandamento”, de Deuteronômio 6:5. (Mat. 22:37, 38; Mar. 12:30; Luc. 10:27) O testemunho de Jesus atesta irrefutavelmente a autenticidade de Deuteronômio.
Além do mais, os eventos e as declarações escritas no livro estão em perfeita harmonia com a situação histórica e com o contexto. As referências feitas ao Egito, a Canaã, a Amaleque, a Amom, a Moabe e a Edom correspondem à época, e os nomes de lugares são declarados com exatidão. A arqueologia continua a apresentar prova sobre prova da integridade dos escritos de Moisés. Henry H. Halley escreve: “A Arqueologia, ultimamente, vem falando tão alto que está causando uma reação decidida em prol do ponto de vista conservador [de que Moisés escreveu o Pentateuco]. A teoria de que a escrita era desconhecida nos dias de Moisés já foi pelos ares, de modo completo. E cada ano, no Egito, Palestina e Mesopotâmia, estão-se escavando evidências tanto em inscrições como em camadas de terra, de que as narrativas do Antigo Testamento tratam de verdadeiros fatos históricos. E os ‘eruditos’, decididamente, estão tomando atitude de maior respeito para com a tradição referente à autoria de Moisés.” Assim, mesmo a evidência externa vindica Deuteronômio e todo o Pentateuco como sendo genuínos e autênticos escritos de Moisés, profeta de Deus.
CONTEÚDO DE DEUTERONÔMIO
O livro compõe-se principalmente de uma série de discursos que Moisés proferiu perante os filhos de Israel, nas planícies de Moabe, defronte de Jericó. O primeiro destes discursos termina no capítulo 4, o segundo vai até o fim do capítulo 26, o terceiro continua até o fim do capítulo 28, e um outro discurso se estende até o fim do capítulo 30. A seguir, depois de Moisés tomar providências finais, em virtude da aproximação de sua morte, incluindo comissionar a Josué como seu sucessor, ele escreve um belíssimo cântico de louvor a Deus, seguido de bênção sobre as tribos de Israel.
Primeiro discurso de Moisés (1:1-4:49). Este constitui uma introdução histórica daquilo que vem em seguida. Primeiro, Moisés recapitula os fiéis tratos de Deus com o Seu povo. Moisés manda este ir tomar posse da terra prometida a seus antepassados, Abraão, Isaque e Jacó. Relembra como Deus, no início da viagem pelo ermo, coordenou a atividade desta comunidade teocrática, fazendo com que Moisés selecionasse homens sábios, discretos e experientes para agirem como chefes de grupos de mil, de cem, de cinqüenta e de dez. Havia uma organização extraordinária, supervisionada por Deus, ao passo que Israel ‘ia marchando através de todo aquele grande e atemorizante ermo’. 1:19.
Moisés lhes faz lembrar agora o pecado de rebelião que cometeram, quando deram ouvidos ao relatório dos espias que haviam voltado de Canaã e queixaram-se, dizendo que Deus os odiava por tê-los tirado do Egito, segundo o acusaram, só para os abandonar às mãos dos amorreus. Por demonstrarem falta de fé, Deus declarou àquela geração má que nenhum dentre eles, exceto Calebe e Josué, veria aquela boa terra. Com isso, agiram novamente de modo rebelde, ficando agitados e fazendo a sua própria investida independente contra o inimigo, só para serem rechaçados e dispersos pelos amorreus como um enxame de abelhas.
Viajaram através do ermo, indo em direção ao mar Vermelho, e, no decorrer de 38 anos, morreu toda a geração dos homens de guerra. Deus ordenou-lhes então que passassem para o outro lado e tomassem posse do país ao norte do Árnon, dizendo: “Neste dia principiarei a pôr o pavor de ti e o temor de ti diante dos povos debaixo de todos os céus, os quais ouvirão a notícia a teu respeito; e ficarão deveras agitados e terão dores semelhantes às de parto, por tua causa.” (2:25) Síon e sua terra caíram às mãos dos israelitas, e daí o reino de Ogue foi ocupado. Moisés assegurou a Josué que Deus lutaria por Israel do mesmo modo, para derrotar todos os reinos. Daí, Moisés perguntou a Deus se ele próprio poderia de alguma forma entrar na boa terra, além do Jordão, mas Deus continuou a recusar isto, dizendo-lhe que comissionasse, encorajasse e fortalecesse a Josué.
Moisés dá agora grande ênfase à Lei de Deus, advertindo contra aumentar ou diminuir Seus mandamentos. A desobediência trará calamidades: “Apenas guarda-te e cuida bem da tua alma, para que não te esqueças das coisas que teus olhos viram e para que não se afastem de teu coração todos os dias da tua vida; e tens de dá-los a conhecer a teus filhos e a teus netos.” (4:9) Quando Deus lhes declarou as Dez Palavras em circunstâncias temíveis, em Horebe, não viram nenhuma forma. Será desastroso para eles voltarem-se agora para a idolatria e adorarem imagens, pois, conforme Moisés diz: “O Senhor, teu Deus, é um fogo consumidor, um Deus que exige devoção exclusiva.” (4:24) Foi ele quem amou a seus antepassados e os escolheu. Não há outro Deus nos céus acima ou na terra embaixo. Moisés exorta à obediência a Ele, “para que prolongues os teus dias no solo que O Senhor, teu Deus, te dá, para sempre”. 4:40.
Depois de concluir este poderoso discurso, Moisés passa a escolher, ao leste do Jordão, a Bezer, Ramote e Golã como cidades de refúgio.
Segundo discurso de Moisés (5:12-6:19). Este discurso é um convite para que Israel ouça a Deus que lhe falou face a face em Sinai. Note como Moisés repete a Lei com alguns ajustes necessários, adaptando-a assim à nova vida do povo do outro lado do Jordão. Não se trata de mera repetição dos regulamentos e das ordenanças. Cada palavra mostra que o coração de Moisés está cheio de zelo e de devoção a seu Deus. Ele fala para o bem daquela nação. O livro inteiro acentua a obediência à Lei uma obediência proveniente de um coração cheio de amor, não sob compulsão.
Primeiro, Moisés repete as Dez Palavras, os Dez Mandamentos, e diz a Israel que os observe, não se desviando nem para a direita nem para a esquerda, a fim de prolongar os seus dias na terra e se tornar numeroso. “Escuta, ó Israel: O Senhor, nosso Deus, é um só Deus.” (6:4) Israel precisa amar a Deus de coração, alma e força vital, e deve ensinar a seus filhos e lhes falar dos grandes sinais e milagres que Deus realizou no Egito. Não deve fazer alianças matrimoniais com os cananeus idólatras. Deus escolheu Israel para se tornar sua propriedade especial, não por ser numeroso, mas porque o ama e guardará a declaração juramentada que fez a seus antepassados. Israel precisa evitar o laço da religião demoníaca, precisa destruir as imagens que se acham no país e apegar-se a Deus, que é realmente “um Deus grande e atemorizante”. 7:21.
Deus humilhou os israelitas por 40 anos no ermo, ensinando-lhes que o homem vive não só de maná ou de pão, mas de toda expressão que sai da boca de Deus. Durante todos aqueles anos de correção, a roupa deles não se gastou, tampouco os seus pés se incharam. Agora estão prestes a entrar na terra de riqueza e fartura! Entretanto, precisam guardar-se dos laços do materialismo e da justiça própria, e lembrar-se de que Deus é ‘o dador de poder para produzir riqueza’ e aquele que desapossa as nações más. (8:18) Moisés recorda então as ocasiões em que Israel provocou a Deus. Os israelitas precisam lembrar-se de que a ira de Deus se acendeu contra eles no ermo por meio de pragas, fogo e morte! Precisam lembrar-se de sua adoração desastrosa do bezerro de ouro, que resultou na ira ardente de Deus e em refazer ele as tábuas da Lei!
(Êx.32:1-10, 35; 17:2-7; Núm.11:1-3, 31-35; 14:2-38) Certamente, precisam agora servir e apegar-se a Deus, que os amou por causa de seus antepassados e os tornou “como as estrelas dos céus em multidão”. Deut. 10:22.
Israel precisa guardar “o mandamento inteiro”, e sem falta obedecer a Deus, amando-o como seu Deus e servindo-o de todo o coração e de toda a alma. (11:8, 13) Deus os amparará e os recompensará se lhe obedecerem. No entanto, precisam aplicar-se e ensinar diligentemente a seus filhos. A escolha colocada diante de Israel é explicitamente declarada: a obediência conduz à bênção, a desobediência, à maldição. Não devem ‘seguir outros deuses’. (11:26-28) Moisés delineia a seguir leis específicas que têm a ver com Israel, ao passo que avança para tomar posse da Terra Prometida. São (1) leis relativas à religião e adoração; (2) leis relativas à administração da justiça, governo e guerra; e (3) leis que regulam a vida privativa e social do povo.
(1) Religião e adoração (12:1-16:17). Quando os israelitas entrarem no país, todo vestígio da religião falsa seus altos, altares, colunas, postes sagrados e suas imagens precisa ser impreterivelmente destruído. Os israelitas precisam adorar unicamente no lugar em que o Senhor, seu Deus, escolher colocar o seu nome, e ali precisam regozijar-se nele, todos eles. Os regulamentos sobre o consumo de carne e sobre sacrifícios incluem lembretes constantes de que não devem comer sangue. “Apenas toma a firme resolução de não comer o sangue . . . Não o deves comer, para que te vá bem a ti e a teus filhos depois de ti, pois farás o que é direito aos olhos de Deus.” (12:16, 23-25, 27; 15:23) Em seguida, Moisés condena bem nitidamente a idolatria. Israel não deve nem mesmo procurar informar-se sobre os caminhos da religião falsa. Caso se prove que um profeta é falso, precisa ser morto, e os apóstatas mesmo que sejam parentes queridos ou amigos, sim, mesmo cidades inteiras precisam ser da mesma forma entregues à destruição. A seguir, vêm os regulamentos sobre alimentos puros e impuros, pagamento dos dízimos e assistência aos levitas. Os interesses dos endividados, dos pobres e dos escravos devem ser protegidos com amor. Finalmente, Moisés faz um retrospecto das festas anuais como ocasiões para agradecer a Deus as bênçãos concedidas: “Três vezes no ano, todo macho teu deve comparecer perante o Senhor, teu Deus, no lugar que ele escolher: na festividade dos pães não-fermentados, e na festividade das semanas, e na festividade das barracas, e ninguém deve comparecer perante Deus de mãos vazias.” 16:16.
(2) Justiça, governo e guerra (16:18-20:20). Em primeiro lugar, Moisés dá as leis referentes a juízes e autoridades. A justiça é coisa de suma importância, pois Deus detesta o suborno e o desvirtuamento do julgamento. Esboça-se o processo quanto a estabelecer a evidência e regulamentar casos jurídicos. “Pela boca de duas ou três testemunhas deve ser morto aquele que há de morrer.” (17:6) Declaram-se as leis relativas a reis. Fazem-se provisões para os sacerdotes e os levitas. O espiritismo é proscrito, visto ser ‘detestável para Deus’. (18:12) Olhando para o futuro distante, Moisés profetiza a vinda do Messias: “Um profeta do teu próprio meio, dos teus irmãos, semelhante a mim, é quem o Senhor, teu Deus, te suscitará a este é que deveis escutar.” (18:15-19) Mas o falso profeta tem de ser morto. Esta parte conclui com leis relativas às cidades de refúgio e vingar sangue, bem como com qualificações para isenção do serviço militar e regulamentos sobre guerra.
(3) A vida privativa e social (21:1-26:19). As leis que dizem respeito à vida cotidiana dos israelitas são apresentadas em questões tais como encontrar uma pessoa que foi morta, casamento com mulheres capturadas, direito do primogênito, filho rebelde, pendurar criminosos na cruz, evidência da virgindade, crimes sexuais, castração, filhos ilegítimos, tratamento dado aos estrangeiros, medidas sanitárias, pagar juros e cumprir votos, divórcio, rapto, empréstimos, salários e respigas após a ceifa. O limite para fustigar um homem deve ser de 40 golpes. O touro não deve ser açaimado quando debulha. Esboça-se o procedimento no caso de casamento com cunhado. Devem ser usados pesos exatos, pois Deus detesta a injustiça.
Antes de concluir este discurso fervoroso, Moisés relembra como Amaleque golpeou pela retaguarda os israelitas exaustos que fugiam do Egito, e Moisés ordena a Israel: “Deves extinguir a menção de Amaleque debaixo dos céus.” (25:19) Quando entrarem no país, deverão oferecer com regozijo os primeiros frutos do solo, e também os dízimos, com a seguinte oração de agradecimento a Deus: “Olha deveras para baixo desde a tua santa habitação, os céus, e abençoa teu povo Israel e o solo que nos deste, assim como juraste aos nossos antepassados, a terra que mana leite e mel.” (26:15) Se cumprirem estes mandamentos de todo o coração e de toda a alma, Deus, de sua parte, os ‘porá alto acima de todas as outras nações que fez, resultando em louvor, e em fama, e em beleza, ao passo que se mostram um povo santo para o Senhor, teu Deus, assim como ele prometeu’. 26:19.
Terceiro discurso de Moisés (27:1-28:68). Neste, os anciãos de Israel e os sacerdotes juntam-se a Moisés quando ele enumera extensamente as maldições da parte de Deus pela desobediência e as bênçãos pela fidelidade. Avisos funestos são dados sobre os temíveis resultados da infidelidade. Se Israel, como seu povo santo, continuar a dar ouvidos à voz do Senhor, teu Deus, receberá maravilhosas bênçãos, e todos os povos da terra verão que o nome de Deus é invocado sobre ele. Se, ao contrário, deixar de fazer isso, Deus enviará “a maldição, a confusão e a reprimenda”. (28:20) Será acometido de doenças repugnantes, será flagelado pela seca e pela fome; seus inimigos o perseguirão e o escravizarão, e será espalhado e aniquilado da terra. Estas maldições, e ainda mais, lhe sobrevirão se não ‘cuidar em cumprir todas as palavras desta lei que se acham escritas neste livro, de modo a temer este glorioso e atemorizante nome, sim, o Senhor, teu Deus’. 28:58.
Quarto discurso de Moisés (29:1-30:20). Deus faz agora um pacto com Israel em Moabe. Este incorpora a Lei, conforme repetida e explicada por Moisés, o que servirá de guia para Israel ao entrar na Terra Prometida. O juramento solene que acompanha o pacto sublinha as responsabilidades daquela nação. Finalmente, Moisés chama os céus e a terra como testemunhas, pois coloca diante do povo a vida e a morte, a bênção e a maldição, e exorta: “Tens de escolher a vida para ficar vivo, tu e tua descendência, amando ao Senhor, teu Deus, escutando a sua voz e apegando-te a ele; pois ele é a tua vida e a longura dos teus dias, para morares no solo de que Deus jurou aos teus antepassados Abraão, Isaque e Jacó que lhes havia de dar.” 30:19, 20.
Josué é comissionado, e o cântico de Moisés (31:1-32:47). O capítulo 31 relata que, depois de Moisés escrever a Lei e dar instruções relativas à sua leitura pública regular, ele comissiona a Josué, dizendo-lhe que seja corajoso e forte, e, daí, relata que Moisés prepara um cântico comemorativo e completa a escrita das palavras da Lei, bem como toma providências para que ela seja colocada ao lado da arca do pacto de Deus. Depois disso, Moisés enuncia as palavras do cântico perante a congregação inteira como exortação final.
Com quanto apreço Moisés inicia seu cântico, identificando a Fonte revigorante das instruções que recebeu! “Meu ensinamento gotejará como a chuva, minha declaração pingará como o orvalho, como chuvas suaves sobre a relva, e como chuvas copiosas sobre a vegetação. Pois declararei o nome de Deus.” Sim, atribua-se grandeza ao “nosso Deus”, “a Rocha”. (32:2-4) Torne-se conhecida a sua obra perfeita, seus justos caminhos, sua fidelidade, sua justiça e sua retidão. Foi vergonhoso Israel agir ruinosamente, embora Deus o cercasse num deserto vago e uivante, salvaguardando-o como a menina de seu olho e pairando sobre ele como a águia sobre seus filhotes. É graças a ele que seu povo engordou, e Deus o chamou de Jesurum, “Aquele Que É Reto”, mas os israelitas o incitaram ao ciúme com deuses estranhos e se tornaram “filhos em que não há fidelidade”. (32:20) A vingança e a retribuição pertencem a Deus. É ele quem faz morrer e faz viver. Quando afiar a sua espada reluzente e a sua mão segurar o julgamento, tomará deveras vingança de seus adversários. Que confiança isto deve inspirar no seu povo! Conforme diz o cântico, atingindo o seu clímax, é tempo de alegrar-se: “Alegrai-vos, ó nações, com o seu povo.” (32:43) Que poeta no mundo poderia compor uma obra que se aproximasse à beleza excelsa, ao poder e à profundidade de significado deste cântico em louvor a Deus?
A bênção final de Moisés (32:48-34:12). Moisés recebe agora instruções finais concernentes à sua morte, mas ainda não terminou o seu serviço teocrático. Primeiro, precisa abençoar a Israel, e, ao fazer isto, ele enaltece novamente a Deus, o Rei de Jesurum, como que resplandecendo com suas santas miríades. As tribos recebem bênçãos individuais, sendo citadas por nome, e daí Moisés louva a Deus como o Eminente. “O Deus da antiguidade é um esconderijo, e por baixo há os braços que duram indefinidamente.” (33:27) Com coração cheio de apreço, ele fala então as suas palavras finais à nação: “Feliz és, ó Israel! Quem é semelhante a ti, um povo usufruindo salvação em Deus?” 33:29.
Depois de contemplar a Terra Prometida, de cima do monte Nebo, Moisés morre, e Deus o enterra em Moabe, não tendo sido conhecido nem honrado o seu sepulcro até o dia de hoje. Ele viveu até à idade de 120 anos, mas “seu olho não se havia turvado e seu vigor vital não lhe havia fugido”. Deus o usou para realizar grandes sinais e milagres e, conforme relata o último capítulo, não se levantou “em Israel um profeta semelhante a Moisés, a quem Deus conhecia face a face”. 34:7, 10.
TIRANDO PROVEITO PARA OS NOSSOS DIAS
Sendo o livro concludente do Pentateuco, Deuteronômio está em harmonia com tudo o que o precedeu em declarar e santificar o grande nome do Senhor Deus. Só ele é Deus, e exige devoção exclusiva, não tolerando rivalidade por parte de deuses-demônios da adoração religiosa falsa. No dia de hoje, todos os cristãos precisam prestar séria atenção aos grandes princípios por trás da lei de Deus e obedecer-Lhe, a fim de evitarem Sua maldição, quando ele afiar a sua espada reluzente para executar vingança sobre seus adversários. O seu maior e primeiro mandamento precisa tornar-se o marco indicador nas suas vidas: “Tens de amar ao Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de toda a tua força vital.” 6:5.
O restante das Escrituras faz freqüentes referências a Deuteronômio para aprofundar nosso apreço pelos propósitos divinos. Além de suas citações para responder ao Tentador, Jesus fez muitas outras referências a esse livro. (Deut.5:16Mat.15:4; Deut.17:6Mat.18:16 e João 8:17) Estas continuam até em Apocalipse, onde o glorificado Jesus adverte finalmente contra aumentar ou diminuir o rolo da profecia de Deus.
(Deut.4:2Ap.22:18) Pedro cita Deuteronômio ao encerrar o seu poderoso argumento de que Jesus é o Cristo e o Profeta maior que Moisés que Deus havia prometido suscitar em Israel. (Deut.18:15-19Atos 3:22, 23) Paulo faz referência a Deuteronômio quanto ao salário dos trabalhadores, investigação cabal que deve ser feita pelo depoimento de testemunhas e instrução dos filhos. Deut.25:4 , 1Cor. 9:8-10 e 1Tim.5:17, 18; Deut. 13:14 e 19:15, 1 Tim. 5:19 e 2 Cor.13:1; Deut. 5:16, Efé. 6:2, 3.
Não só os escritores das Escrituras Cristãs, mas também os servos de Deus dos tempos pré-cristãos receberam instrução e encorajamento de Deuteronômio. Faremos bem em seguir o exemplo deles. Consideremos a obediência implícita de Josué, sucessor de Moisés, em entregar à destruição as cidades conquistadas, durante a invasão de Canaã, não tomando despojo como o fez Acã. (Deut. 20:15-18 e Deut. 21:23Jos.8:24-27, 29) Em obediência à Lei, Gideão eliminou os ‘medrosos e temerosos’ de seu exército. (Deut. 20:1-9 Juí.7:1-11) Foi por fidelidade à lei de Deus que os profetas em Israel e Judá falaram destemida e corajosamente, condenando aquelas nações relapsas. Amós fornece um excelente exemplo disto. (Deut. 24:12-15 Amós 2:6-8) Deveras, há literalmente centenas de exemplos que ligam Deuteronômio com o restante da Palavra de Deus, mostrando assim que é parte integrante e proveitosa de um todo harmonioso.
A própria essência de Deuteronômio exala louvor ao Soberano Senhor Deus. O livro inteiro acentua: ‘Adorem a Deus; rendam-lhe devoção exclusiva.’ Embora a Lei não mais vigore para os cristãos, os princípios por trás dela não foram ab-rogados. (Gál. 3:19) Quantas coisas podem os verdadeiros cristãos aprender deste dinâmico livro da lei de Deus, com o seu ensinamento progressivo, sua franqueza e simplicidade de apresentação! Até mesmo as nações do mundo reconhecem a excelência da lei suprema de Deus, pois incorporaram muitos dos regulamentos de Deuteronômio nos seus próprios códigos de lei. A tabela acompanhante dá exemplos interessantes de leis a que recorreram ou aplicaram em princípio.
Outrossim, esta explicação da Lei chama atenção para o Reino de Deus e aprofunda o apreço por ele. De que modo? O Messias, Jesus Cristo, quando estava na terra, conhecia bem esse livro e o aplicava, conforme revelam as citações precisas que fazia dele. Estendendo o domínio do seu Reino, governará segundo os justos princípios desta mesma “lei”, e todos os que irão abençoar-se nele como o “descendente” (semente) do Reino terão de obedecer a estes princípios. (Gên. 22:18; Deut. 7:12-14) É benéfico e proveitoso começar a obedecer a esses princípios desde já. Longe de ser antiquada, esta “lei”, com 3.500 anos de existência, fala-nos hoje com voz cheia de força, e continuará a fazer isso no prometido e Reino de Deus. Continue a ser santificado o nome de Deus entre seu povo, ao passo que aplica todas as instruções proveitosas do Pentateuco, que tão gloriosamente atinge seu clímax em Deuteronômio uma parte verdadeiramente inspirada e inspiradora de “toda a Escritura”!
ALGUNS PRECEDENTES JURÍDICOS EM DEUTERONÔMIO
I. Leis pessoais e familiares Capítulos e Versículos
A. Relações pessoais
1. Pais e filhos 5:16
2. Relações matrimoniais 22:30; 27:20, 22, 23
3. Leis sobre divórcio 22:13-19, 28, 29
B. Direitos de propriedade 22:1-4
________________________________________
II. Leis constitucionais
A. Habilitações e deveres 17:14-20
do rei
B. Regulamentos militares
1. Isenções do serviço 20:1, 5-7; 24:5
militar
2. Oficiais subalternos 20:9
________________________________________
III. O poder judiciário
A. Deveres dos juízes 16:18, 20
B. Supremo tribunal de 17:8-11
recursos
________________________________________
IV. Direito penal
A. Crimes contra o Estado
1. Suborno, perversão 16:19, 20
da justiça
2. Perjúrio 5:20
B. Crimes contra os bons costumes
1. Adultério 5:18; 22:22-24
2. União ilícita 22:30; 27:20, 22, 23
C. Crimes contra a pessoa física
1. Assassínio e agressão 5:17; 27:24
2. Estupro e sedução 22:25-29
________________________________________
V. Leis humanitárias
A. Bondade para com os animais 25:4; 22:6, 7
B. Consideração pelos 24:6, 10-18
desafortunados
C. Código de segurança 22:8
de edificações
D. Tratamento de classes 15:12-15; 21:10-14;
dependentes, incluindo 27:18, 19
escravos e cativos
E. Provisões filantrópicas 14:28, 29; 15:1-11;
para os necessitados 16:11, 12; 24:19-22
http://professorjanildoarantes.blogspot.com.br/2009/09/deuteronomio.html?spref=bl
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