Introdução à Teologia do Antigo Testamento
O ANTIGO TESTAMENTO
1. Conceito e Definição
O conceito de Teologia do Antigo Testamento está enlaçado ao conceito de “teologia”. Por definição, se entendermos “teologia” como sendo “o estudo de Deus e de sua revelação ao homem”, conseqüentemente a Teologia do Antigo Testamento será “o estudo de Deus e de sua revelação ao homem no Antigo Testamento”. Ao considerarmos que “do” refere-se à “pertencendo a”, o substantivo “teologia” estaria subordinado ao Antigo Testamento, levando-nos a considerar uma “teologia que pertence singularmente ao Antigo Testamento”. Entretanto, o título “Antigo Testamento”, possuiu uma identidade especial, pois se reconhece o “Antigo Testamento” como uma unidade na Escritura Sagrada na qual os cristãos combinam e contrastam com o Novo Testamento. Portanto, Teologia do Antigo Testamento “é o estudo de Deus e de sua revelação ao povo eleito segundo os escritos desse mesmo povo e que, por conseguinte, se difere da revelação de Deus por meio de Cristo”.
É sabido, porém, que o Antigo Testamento é um conjunto de trinta e nove livros no cânon cristão, escritos em épocas distintas por diferentes hagiógrafos. Quanto à literatura, o Antigo Testamento possui diversificadas características literárias que vão desde a prosa até ao gênero apocalíptico. Conseqüentemente, uma Teologia do Antigo Testamento deve contemplar todas essas extensões quer sejam temporais, culturais ou literárias.
Não somos escusados de frisar de que a Teologia do Antigo Testamento se insere dentro da divisão da Teologia conhecida como Teologia Bíblica. Esta por sua vez, se ocupa também da Teologia do Novo Testamento. O propósito da Teologia Bíblica, segundo Ladd “é de expor a teologia encontrada na Bíblia em seu próprio contexto histórico, com seus principais termos, categorias e formas de pensamentos”. 1 Isto posto, uma teologia bíblica do Antigo Testamento deve considerar os graus de desenvolvimento da revelação divina no Antigo Testamento e ser mais descritiva do que prescritiva, isto é, descrever o conteúdo teológico do Antigo Testamento e, não diretamente ocupar-se de sua aplicação, atualização ou acomodação bíblica.2
O encadeamento lógico dessas proposições leva-nos a seguinte definição: “Teologia do Antigo Testamento é a disciplina da Teologia Bíblica que estuda a pessoa, atributos, revelação de Deus, e sua aliança com o povo eleito considerando a progressividade da revelação, os escritos e estilos literários do cânon judaico do Antigo Testamento”.
Embora redundante, urge ressaltar que a Teologia do Antigo Testamento difere-se do estudo denominado de Introdução ao Antigo Testamento. Enquanto o primeiro se ocupa da teologia bíblica nos livros macrotestamentários, o segundo trata dos aspectos pertinentes ao cânon, texto, data, autoria, composição, estrutura e comentário descritivo de cada livro sem deter-se em sua teologia específica. As duas disciplinas formam uma díade e são igualmente necessárias para a compreensão das Escrituras.
2. Definição e Conceito Segundo Alguns Teólogos
• O Dr. Asa Routh Crabtree define a Teologia do Antigo Testamento como: A Teologia do Velho Testamento é o estudo dos atributos de Deus e o propósito das suas atividades na história e na vida do povo de Israel, de acordo com a doutrina da revelação divina nos livros sagrados deste povo.3
• R. K. Harrison, professor de Antigo Testamento do Wycliffe College, define a disciplina nos seguintes termos: A Teologia do Antigo Testamento esforça-se para expor, do modo mais ordenado possível, as grandes declarações da verdade divina que ocorrem nesses escritos. Tais afirmações podem incluir revelação direta ou proposicional da parte de Deus a respeito da Sua natureza e Seus propósitos, proclamações feita por profetas e outros de temas ou aspectos específicos da Torá e do seu significado para os receptores.4
• Segundo Paul Francis Porta, a Teologia Bíblica do Antigo Testamento enfatiza a importância teológica de diversos livros ao revelarem-se no desenrolar gradual da mensagem redentora.5
Outros autores que tratam da Teologia do Antigo Testamento preferem definir Teologia Bíblica em vez de considerar especificamente o título, pois existem muitas controvérsias a respeito do tema. Ralph L. Smith afirma que a literatura básica da disciplina nos últimos 50 anos tem demonstrado pouca concordância quanto à natureza, tarefa e metodologia dessa disciplina.6 De acordo com John McKenzie, na obra “A Teologia do Antigo Testamento” a Teologia bíblica é a única disciplina ou subdisciplina no campo da teologia que carece de princípio, métodos e estrutura que recebam aceitação geral. Nem mesmo existe uma definição geral de seu escopo.7
Concernente a definição, escopo e metodologia, o teólogo Gerhard von Rad, afirma que a Teologia do Antigo Testamento ainda é uma ciência jovem, uma das mais jovens dentre as ciências bíblicas. (...) Predomina a característica de não ter ainda havido um acordo perfeito quanto ao domínio que lhe é próprio.8
Essa falta de consenso entre os teólogos a respeito do assunto têm suscitado calorosas disputas. Um exemplo vislumbra-se no “Prefácio da Quarta Edição” de von Rad onde ele justifica o seu método diacrônico e responde ao teólogo W. Eichrodt e F. Baumgärtel as críticas ao seu método.9 Conseqüentemente, a delimitação e definição do tema conduzem a outra controvérsia não menos importante: o método empregado para se chegar a uma Teologia do Antigo Testamento.
3. Excurso sobre os Métodos de Teologia do Antigo Testamento
De acordo com o teólogo K.H. Harrison uma teologia do Antigo Testamento para ser formulada com sucesso precisa considerar:
• O significado que as palavras e os escritos tinham para aqueles que os receberam originalmente;
• Deve estar firmemente baseada numa tradição tão fiel ao texto original quanto possível, considerando os problemas de transmissão textual e o fato de algumas palavras hebraicas ainda terem significados desconhecidos;
• Manter o devido equilíbrio entre um método de investigação histórico e objetivo e o conceito de uma revelação autorizada e definitiva de Deus em forma escrita;
Por fim, o pensamento dos escritores do Antigo Testamento não deve restringir-se aos interesses que dizem respeito à religião ou à vida dos hebreus antigos. Deve considerar parte da revelação contínua de Deus que chega ao seu ponto culminante na proclamação neotestamentária da Sua graça redentora em Cristo.10
Segundo o teólogo Kaiser Jr. a teologia do Antigo Testamento é a disciplina mais exigente dos estudos vétero-testamentários, e que o escopo dessa disciplina tem desencorajado a maioria dos estudiosos, até mesmo aqueles que estão no fim das suas carreiras acadêmicas.
ANTIGO TESTAMENTO
Origem da Bíblia
OS ORIGINAIS
Grego, hebraico e aramaico foram os idiomas utilizados para escrever os originais das Escrituras Sagradas.
O Antigo Testamento foi escrito em hebraico. Apenas alguns poucos textos foram escritos em aramaico.
O Novo Testamento foi escrito originalmente em grego, que era a língua mais utilizada na época.
Os originais da Bíblia são a base para a elaboração de uma tradução confiável das Escrituras. Porém, não existe nenhuma versão original de manuscrito da Bíblia, mas sim cópias de cópias de cópias. Todos os autógrafos, isto é, os livros originais, como foram escritos pelos seus autores, se perderam. As edições do Antigo Testamento hebraico e do Novo Testamento grego se baseiam nas melhores e mais antigas cópias que existem e que foram encontradas graças às descobertas arqueológicas.
Para a tradução do Antigo Testamento, a Comissão de Tradução da SBB usa a Bíblia Stuttgartensia, publicada pela Sociedade Bíblica Alemã. Já para o Novo Testamento é utilizado The Greek New Testament, editado pelas Sociedades Bíblicas Unidas. Essas são as melhores edições dos textos hebraicos e gregos que existem hoje, disponíveis para tradutores.
O ANTIGO TESTAMENTO EM HEBRAICO
Muitos séculos antes de Cristo, escribas, sacerdotes, profetas, reis e poetas do povo hebreu mantiveram registros de sua história e de seu relacionamento com Deus. Estes registros tinham grande significado e importância em suas vidas e, por isso, foram copiados muitas e muitas vezes e passados de geração em geração.
Com o passar do tempo, esses relatos sagrados foram reunidos em coleções conhecidas por A Lei, Os Profetas e As Escrituras. Esses três grandes conjuntos de livros, em especial o terceiro, não foram finalizados antes do Concílio Judaico de Jamnia, que ocorreu por volta de 95 d.C. A Lei continha os primeiros cinco livros da nossa Bíblia. Já Os Profetas, incluíam Isaías, Jeremias, Ezequiel, os Doze Profetas Menores, Josué, Juízes, 1 e 2 Samuel e 1 e 2 Reis. E As Escrituras reuniam o grande livro de poesia, os Salmos, além de Provérbios, Jó, Ester, Cantares de Salomão, Rute, Lamentações, Eclesiastes, Daniel, Esdras, Neemias e 1 e 2 Crônicas.
Os livros do Antigo Testamento foram escritos em longos pergaminhos confeccionados em pele de cabra e copiados cuidadosamente pelos escribas. Geralmente, cada um desses livros era escrito em um pergaminho separado, embora A Lei freqüentemente fosse copiada em dois grandes pergaminhos. O texto era escrito em hebraico - da direita para a esquerda - e, apenas alguns capítulos, em dialeto aramaico.
Hoje se tem conhecimento de que o pergaminho de Isaías é o mais remoto trecho do Antigo Testamento em hebraico. Estima-se que foi escrito durante o Século II a.C. e se assemelha muito ao pergaminho utilizado por Jesus na Sinagoga, em Nazaré. Foi descoberto em 1947, juntamente com outros documentos em uma caverna próxima ao Mar Morto.
O NOVO TESTAMENTO EM GREGO
Os primeiros manuscritos do Novo Testamento que chegaram até nós são algumas das cartas do Apóstolo Paulo destinadas a pequenos grupos de pessoas de diversos povoados que acreditavam no Evangelho por ele pregado. A formação desses grupos marca o início da igreja cristã. As cartas de Paulo eram recebidas e preservadas com todo o cuidado. Não tardou para que esses manuscritos fossem solicitados por outras pessoas. Dessa forma, começaram a ser largamente copiados e as cartas de Paulo passaram a ter grande circulação.
A necessidade de ensinar novos convertidos e o desejo de relatar o testemunho dos primeiros discípulos em relação à vida e aos ensinamentos de Cristo resultaram na escrita dos Evangelhos que, na medida em que as igrejas cresciam e se espalhavam, passaram a ser muito solicitados. Outras cartas, exortações, sermões e manuscritos cristãos similares também começaram a circular.
O mais antigo fragmento do Novo Testamento hoje conhecido é um pequeno pedaço de papiro escrito no início do Século II d.C. Nele estão contidas algumas palavras de João 18.31-33, além de outras referentes aos versículos 37 e 38. Nos últimos cem anos descobriu-se uma quantidade considerável de papiros contendo o Novo Testamento e o texto em grego do Antigo Testamento.
OUTROS MANUSCRITOS
Além dos livros que compõem o nosso atual Novo Testamento, havia outros que circularam nos primeiros séculos da era cristã, como as Cartas de Clemente, o Evangelho de Pedro, o Pastor de Hermas, e o Didache (ou Ensinamento dos Doze Apóstolos). Durante muitos anos, embora os evangelhos e as cartas de Paulo fossem aceitos de forma geral, não foi feita nenhuma tentativa de determinar quais dos muitos manuscritos eram realmente autorizados. Entretanto, gradualmente, o julgamento das igrejas, orientado pelo Espírito de Deus, reuniu a coleção das Escrituras que constituíam um relato mais fiel sobre a vida e ensinamentos de Jesus. No Século IV d.C. foi estabelecido entre os concílios das igrejas um acordo comum e o Novo Testamento foi constituído.
Os dois manuscritos mais antigos da Bíblia em grego podem ter sido escritos naquela ocasião - o grande Codex Sinaiticus e o Codex Vaticanus. Estes dois inestimáveis manuscritos contêm quase a totalidade da Bíblia em grego. Ao todo temos aproximadamente vinte manuscritos do Novo Testamento escritos nos primeiros cinco séculos.
Quando Teodósio proclamou e impôs o cristianismo como única religião oficial no Império Romano no final do Século IV, surgiu uma demanda nova e mais ampla por boas cópias de livros do Novo Testamento. É possível que o grande historiador Eusébio de Cesaréia (263 - 340) tenha conseguido demonstrar ao imperador o quanto os livros dos cristãos já estavam danificados e usados, porque o imperador encomendou 50 cópias para as igrejas de Constantinopla. Provavelmente, esta tenha sido a primeira vez que o Antigo e o Novo Testamentos foram apresentados em um único volume, agora denominado Bíblia.
HISTÓRIA DAS TRADUÇÕES
A Bíblia - o livro mais lido, traduzido e distribuído do mundo -, desde as suas origens, foi considerada sagrada e de grande importância. E, como tal, deveria ser conhecida e compreendida por toda a humanidade. A necessidade de difundir seus ensinamentos através dos tempos e entre os mais variados povos, resultou em inúmeras traduções para os mais variados idiomas e dialetos. Hoje é possível encontrar a Bíblia, completa ou em porções, em mais de 2.000 línguas diferentes.
A PRIMEIRA TRADUÇÃO
Estima-se que a primeira tradução foi elaborada entre 200 a 300 anos antes de Cristo. Como os judeus que viviam no Egito não compreendiam a língua hebraica, o Antigo Testamento foi traduzido para o grego. Porém, não eram apenas os judeus que viviam no estrangeiro que tinham dificuldade de ler o original em hebraico: com o cativeiro da Babilônia, os judeus da Palestina também já não falavam mais o hebraico. Denominada Septuaginta (ou Tradução dos Setenta), esta primeira tradução foi realizada por 70 sábios e contém sete livros que não fazem parte da coleção hebraica; pois não estavam incluídos quando o cânon (ou lista oficial) do Antigo Testamento foi estabelecido por exegetas israelitas no final do Século I d.C. A igreja primitiva geralmente incluía tais livros em sua Bíblia. Eles são chamados apócrifos ou deuterocanônicos e encontram-se presentes nas Bíblias de algumas igrejas.
Esta tradução do Antigo Testamento foi utilizada em sinagogas de todas as regiões do Mediterrâneo e representou um instrumento fundamental nos esforços empreendidos pelos primeiros discípulos de Jesus na propagação dos ensinamentos de Deus.
OUTRAS TRADUÇÕES
Outras traduções começaram a ser realizadas por cristãos novos nas línguas copta (Egito), etíope (Etiópia), siríaca (norte da Palestina) e em latim - a mais importante de todas as línguas pela sua ampla utilização no Ocidente.
Por haver tantas versões parciais e insatisfatórias em latim, no ano 382 d.C, o bispo de Roma nomeou o grande exegeta Jerônimo para fazer uma tradução oficial das Escrituras.
Com o objetivo de realizar uma tradução de qualidade e fiel aos originais, Jerônimo foi à Palestina, onde viveu durante 20 anos. Estudou hebraico com rabinos famosos e examinou todos os manuscritos que conseguiu localizar. Sua tradução tornou-se conhecida como "Vulgata", ou seja, escrita na língua de pessoas comuns ("vulgus"). Embora não tenha sido imediatamente aceita, tornou-se o texto oficial do cristianismo ocidental. Neste formato, a Bíblia difundiu-se por todas as regiões do Mediterrâneo, alcançando até o Norte da Europa.
Na Europa, os cristãos entraram em conflito com os invasores godos e hunos, que destruíram uma grande parte da civilização romana. Em mosteiros, nos quais alguns homens se refugiaram da turbulência causada por guerras constantes, o texto bíblico foi preservado por muitos séculos, especialmente a Bíblia em latim na versão de Jerônimo.
Não se sabe quando e como a Bíblia chegou até as Ilhas Britânicas. Missionários levaram o evangelho para Irlanda, Escócia e Inglaterra, e não há dúvida de que havia cristãos nos exércitos romanos que lá estiveram no segundo e terceiro séculos. Provavelmente a tradução mais antiga na língua do povo desta região é a do Venerável Bede. Relata-se que, no momento de sua morte, em 735, ele estava ditando uma tradução do Evangelho de João; entretanto, nenhuma de suas traduções chegou até nós. Aos poucos as traduções de passagens e de livros inteiros foram surgindo.
AS PRIMEIRAS ESCRITURAS IMPRESSAS
Na Alemanha, em meados do Século 15, um ourives chamado Johannes Gutemberg desenvolveu a arte de fundir tipos metálicos móveis. O primeiro livro de grande porte produzido por sua prensa foi a Bíblia em latim. Cópias impressas decoradas a mão passaram a competir com os mais belos manuscritos. Esta nova arte foi utilizada para imprimir Bíblias em seis línguas antes de 1500 - alemão, italiano, francês, tcheco, holandês e catalão; e em outras seis línguas até meados do século 16 - espanhol, dinamarquês, inglês, sueco, húngaro, islandês, polonês e finlandês. Finalmente as Escrituras realmente podiam ser lidas na língua destes povos. Mas essas traduções ainda estavam vinculadas ao texto em latim. No início do século 16, manuscritos de textos em grego e hebraico, preservados nas igrejas orientais, começaram a chegar à Europa ocidental. Havia pessoas eruditas que podiam auxiliar os sacerdotes ocidentais a ler e apreciar tais manuscritos.
Uma pessoa de grande destaque durante este novo período de estudo e aprendizado foi Erasmo de Roterdã. Ele passou alguns anos atuando como professor na Universidade de Cambridge, Inglaterra. Em 1516, sua edição do Novo Testamento em grego foi publicada com seu próprio paralelo da tradução em latim. Assim, pela primeira vez estudiosos da Europa ocidental puderam ter acesso ao Novo Testamento na língua original, embora, infelizmente, os manuscritos fornecidos a Erasmo fossem de origem relativamente recente e, portanto, não eram completamente confiáveis.
DESCOBERTAS ARQUEOLÓGICAS
Várias foram as descobertas arqueológicas que proporcionaram o melhor entendimento das Escrituras Sagradas. Os manuscritos mais antigos que existem de trechos do Antigo Testamento datam de 850 d.C. Existem, porém, partes menores bem mais antigas como o Papiro Nash do segundo século da era cristã. Mas sem dúvida a maior descoberta ocorreu em 1947, quando um pastor beduíno, que buscava uma cabra perdida de seu rebanho, encontrou por acaso os Manuscritos do Mar Morto, na região de Jericó.
Durante nove anos vários documentos foram encontrados nas cavernas de Qunram, no Mar Morto, constituindo-se nos mais antigos fragmentos da Bíblia hebraica que se têm notícias. Escondidos ali pela tribo judaica dos essênios no Século I, nos 800 pergaminhos, escritos entre 250 a.C. a 100 d.C., aparecem comentários teológicos e descrições da vida religiosa deste povo, revelando aspectos até então considerados exclusivos do cristianismo. Estes documentos tiveram grande impacto na visão da Bíblia, pois fornecem espantosa confirmação da fidelidade dos textos massoréticos aos originais. O estudo da cerâmica dos jarros e a datação por carbono 14 estabelecem que os documentos foram produzidos entre 168 a.C. e 233 d.C. Destaca-se, entre estes documentos, uma cópia quase completa do livro de Isaías, feita cerca de cem anos antes do nascimento de Cristo. Especialistas compararam o texto dessa cópia com o texto-padrão do Antigo Testamento hebraico (o manuscrito chamado Codex Leningradense, de 1008 d.C.) e descobriram que as diferenças entre ambos eram mínimas.
Outros manuscritos também foram encontrados neste mesmo local, como o do profeta Isaías, fragmentos de um texto do profeta Samuel, textos de profetas menores, parte do livro de Levítico e um targum (paráfrase) de Jó.
As descobertas arqueológicas, como a dos manuscritos do Mar Morto e outras mais recentes, continuam a fornecer novos dados aos tradutores da Bíblia. Elas têm ajudado a resolver várias questões a respeito de palavras e termos hebraicos e gregos, cujo sentido não era absolutamente claro. Antes disso, os tradutores se baseavam em manuscritos mais "novos", ou seja, em cópias produzidas em datas mais distantes da origem dos textos bíblicos.
ORIGEM DO DIA DA BÍBLIA
O Dia da Bíblia surgiu em 1549, na Grã-Bretanha, quando o Bispo Cranmer, incluiu no livro de orações do Rei Eduardo VI um dia especial para que a população intercedesse em favor da leitura do Livro Sagrado. A data escolhida foi o segundo domingo do Advento - celebrado nos quatro domingos que antecedem o Natal. Foi assim que o segundo domingo de dezembro tornou-se o Dia da Bíblia. No Brasil, o Dia da Bíblia passou a ser celebrado em 1850, com a chegada, da Europa e dos Estados Unidos, dos primeiros missionários evangélicos que aqui vieram semear a Palavra de Deus.
Durante o período do Império, a liberdade religiosa aos cultos protestantes era muito restrita, o que impedia que se manifestassem publicamente. Por volta de 1880, esta situação foi se modificando e o movimento evangélico, juntamente com o Dia da Bíblia, se popularizando.
Pouco a pouco, as diversas denominações evangélicas institucionalizaram a tradição do Dia da Bíblia, que ganhou ainda mais força com a fundação da Sociedade Bíblica do Brasil, em junho de 1948. Em dezembro deste mesmo ano, houve uma das primeiras manifestações públicas do Dia da Bíblia, em São Paulo, no Monumento do Ipiranga.
Hoje, o dia dedicado às Escrituras Sagradas é comemorado em cerca de 60 países, sendo que em alguns, a data é celebrada no segundo Domingo de setembro, numa referência ao trabalho do tradutor Jerônimo, na Vulgata, conhecida tradução da Bíblia para o latim. As comemorações do segundo domingo de dezembro mobilizam, todos os anos, milhões de cristãos em todo o País.
Fonte:
ILÚMINA - A Bíblia do século XXI
INTRODUÇÃO.
Texto Bíblico: Jeremias 36.1,2,4,27,28,32.
O Antigo testamento foi utilizado por Jesus durante todo o seu ministério. Também recorriam a ele os apóstolos e a igreja Primitiva. E o mesmo continuamos a fazer, decorridos já, todos esses séculos. Esse fato, por si só, já é mais do que o suficiente para justificar o estudo das sagradas escrituras que compõem o antigo testamento.
I. TEXTO E FORMA.
Antigo Testamento é o nome dado, desde os primórdios do Cristianismo, às escrituras sagradas do povo de Israel, formadas por um conjunto de livros muito diferentes uns dos outros em caráter e gênero literário e pertencente a diversas épocas e autores.
O Antigo Testamento ocupa, sem dúvida, um lugar preeminente no quadro geral da importante literatura surgida no Antigo Oriente Médio. No decorrer da sua longa história, egípcios, sumérios, assírios, babilônicos, fenícios, hititas, persas e outros povos da região produziram um importante tesouro de obras literárias, porém nenhuma delas se compara ao Antigo Testamento quanto à riqueza dos temas e beleza de expressão e, muito menos, quanto ao valor religioso.
II. Bíblia – Antigo Testamento.
TEXTO E FORMA
Os gêneros literários do Antigo Testamento
Em termos gerais, todos os escritos do Antigo Testamento podem ser incluídos em um ou outro dos dois grandes gêneros literários que são a prosa e a poesia em tudo, uma segunda aproximação permite apreciar a grande diversidade de classes e estilos que, muitas vezes misturados entre si, configuram ambos os gêneros.
Quanto à prosa, é o gênero no qual estão escritos textos como os seguintes:
a) Relatos históricos, presentes, sobretudo nos livros de caráter narrativo e que, a partir de Abraão (Gn 11.27-25.11), referem-se ou diretamente ao povo de Israel e aos seus personagens mais significativos ou indiretamente aos povos e nações cuja história está relacionada muito de perto com Israel;
b) O relato de Gn 1-3 sobre as origens do mundo e da humanidade, o qual, do ponto de vista literário, merece referência à parte;
c) Passagens especiais (p. ex., a história dos patriarcas), narrações épicas (p. ex., o êxodo do Egito e a conquista de Canaã), quadros familiares (p. ex., o livro de Rute), profecias (em parte), visões, crônicas oficiais, diálogos, discursos, instruções, exortações e genealogias;
d) Textos legais e normas de conduta e regulamentação da prática religiosa coletiva e pessoal.
Quanto à poesia, o Antigo Testamento oferece vários modelos literários, que podem ser resumidos em:
a) Cúlticos (p. ex., Salmos e Lamentações);
b) Proféticos (uma parte muito importante dos textos dos profetas de Israel);
c) Sapienciais, os quais recolhem reflexões e ensinamentos relativos à vida diária (Provérbios e Eclesiastes) ou que giram em torno de algum problema de caráter teológico (Jó).
AUTORES E TRADIÇÃO
De acordo com a sua origem, os livros do Antigo Testamento podem ser classificados em dois grandes grupos. O primeiro é formado pelos escritos que deixam transparecer a atividade criadora do autor e parecem ser marcados pelo selo da sua personalidade. Tal é o caso de boa parte dos textos proféticos, cuja mensagem inicial foi, às vezes, ampliada, chegando, posteriormente, ao seu pleno desenvolvimento em âmbitos onde a inspiração do profeta original se deixava sentir com intensidade.
No segundo grupo são incluídos os livros nos quais, não tendo permanecido marcas próprias do autor, foram as tradições que se encarregaram de transmitir a mensagem preservada pelo povo, proclamando-a e aplicando-a às circunstâncias próprias de cada tempo novo. A esse grupo pertence uma boa parte da narrativa histórica e da literatura cúltica e sapiencial.
TRANSMISSÃO DO TEXTO
A passagem da tradição oral para a escrita chega ao Antigo Testamento num tempo em que o papiro e o pergaminho já estavam em uso como materiais de escrita. Deles se faziam longas tiras que, convenientemente unidas, formavam os chamados "rolos", uma espécie de cilindros de peso e volume às vezes consideráveis. Assim, chegaram até nós os textos do Antigo Testamento (cf. Jr 36), ainda que não nos seus manuscritos hebraicos originais, porque com o tempo todos desapareceram, mas graças à grande quantidade de cópias feitas ao longo de muitos séculos. Dentre elas, as mais antigas que temos pertencem ao séc. I a.C. Foram descobertas em lugares como Qunram, a oeste do mar Morto, algumas em muito bom estado de conservação e outras, muito deterioradas e reduzidas a fragmentos.
Das cópias que contêm o texto integral da Bíblia Hebraica, a mais antiga é o Códice de Alepo, que data do séc. X d.C. e é o reflexo da tradição tiberiense.
O sistema alfabético utilizado nos primitivos manuscritos hebraicos carecia de vogais: na sua época e de acordo com um uso comum de diversas línguas semíticas, somente as consoantes tinham representação gráfica. Essa peculiaridade era, obviamente, uma fonte de sérios problemas de leitura e interpretação dos escritos bíblicos, cuja unificação realizaram os especialistas judeus do final do séc. I d.C.
O trabalho daqueles sábios foi favorecido na última parte do séc. V a.C. pelo desenvolvimento, sobretudo em Tiberíades e Babilônia, de um sistema de leitura que culminou entre os séculos VIII e XI d.C. com a composição do texto chamado "massorético". Nele, fruto do intenso trabalho realizado pelos "massoretas" (ou "transmissores da tradição"), ficou definitivamente fixada a leitura da Bíblia Hebraica através de um complicado conjunto de sinais vocálicos e entonação.
Apesar do excelente cuidado que os copistas tiveram para fazer e conservar as cópias do texto bíblico, nem sempre puderam evitar que aqui e ali fossem introduzidas pequenas variantes na escrita. Por isso, a fim de descobrir e avaliar tais variantes, o estudo dos antigos manuscritos implica uma minuciosa tarefa de comparação de textos, não somente entre umas ou outras cópias hebraicas, mas também em antigas traduções para outras línguas:
• O texto samaritano do Pentateuco (escrita samaritana)
• As versões gregas, especialmente a LXX (feita em Alexandria entre os séculos III e II a.C. e utilizada freqüentemente pelos escritores do Novo Testamento)
• As aramaicas (os Targumim, versões parafrásicas);
• As latinas, em especial a Vulgata as siríacas, as coptas ou a armênia. Os resultados desse trabalho de fixação do texto se encontram sintetizados nas edições críticas da Bíblia Hebraica.
GEOGRAFIA E RELIGIÃO
A PALESTINA DO ANTIGO TESTAMENTO
A região onde se desenrolaram os acontecimentos mais importantes registrados no Antigo Testamento está situada na zona imediatamente a leste da bacia do Mediterrâneo. O nome mais antigo dela registrado na Bíblia é "terra de Canaã" (Gn 11.31), substituído posteriormente, entre os israelitas, por "terra de Israel" (1Sm 13.19 Ez 11.17 Mt 2.20). Os gregos e romanos preferiram chamá-la de "Palestina", termo derivado do apelativo "filisteu", pelo qual era conhecido o povo que habitava a costa do Mediterrâneo. No tempo em que o Império Romano dominou o país, pelo menos uma região deste recebeu o nome de "Judéia". Durante a maior parte do período monárquico (931-586 a.C.), a terra de Israel esteve dividida em duas: ao sul, o reino de Judá, sendo Jerusalém sua capital e ao norte, o reino de Israel, tendo a cidade de Samaria como capital. As grandes diferenças políticas que separavam ambos os reinos aumentaram ainda mais quando, em 721 a.C., o reino do Norte foi conquistado pelo exército assírio.
O território palestino é formado por três grandes faixas paralelas que se estendem do Norte ao Sul. A ocidental, uma planície banhada pelo Mediterrâneo, estreita-se em direção ao Norte, na Galiléia, e depois fica cercada pelo monte Carmelo. Nessa planície se encontravam as antigas cidades de Gaza, Asquelom, Asdode e Jope (atualmente um subúrbio de Tel Aviv) e a Cesaréia romana, de construção mais recente.
A faixa central é formada por uma série de montanhas que, desde o Norte, como que se desprendendo da cordilheira do Líbano, descem paralelas pela costa até penetrar no Sul, no deserto de Neguebe. O vale de Jezreel (ou de Esdrelom), entre a Galiléia e Samaria, cortava a cadeia montanhosa, cujas duas alturas máximas estão uma (1.208 m) na Galiléia e a outra (1.020 m), na Judéia. Nessa faixa central do país, encontra-se a cidade de Jerusalém (cerca de 800 m acima do nível do mar) e outras importantes da Judéia, Samaria e Galiléia.
A oriente da região montanhosa serpenteia o rio Jordão, o maior rio da Palestina, o qual nasce ao norte da Galiléia, no monte Hermom, e caminha em direção ao sul ao longo de 300 km, (pouco mais de 100 km, em linha reta). No seu curso, atravessa o lago Merom e depois o mar ou lago da Galiléia (ou ainda "mar de Tiberíades") e corre por uma depressão que se torna cada vez mais profunda, até desembocar no mar Morto, a 392 m abaixo do nível do Mediterrâneo.
Mais além da depressão do Jordão, no seu lado oriental, o terreno torna a elevar-se. Sobretudo na região norte há cumes importantes, como, já fora da Palestina, o monte Hermom, com até 2.758 m de altura.
A Palestina é predominantemente seca, desértica em extensas regiões do Leste e Sul do país, com montanhas muito pedregosas e poucos espaços com condições favoráveis para o cultivo. Os terrenos férteis, próprios para a agricultura, encontram-se, sobretudo, na planície de Jezreel, ao norte, no vale do Jordão e nas terras baixas que, ao ocidente, acompanham a costa. As altas temperaturas predominantes se atenuam nas partes elevadas, onde as noites podem chegar a ser frias. As duas estações mais importantes são o inverno e o verão (cf. Gn 8.22 Mt 24.20,32), mas, quanto ao clima, o essencial para os trabalhos agrícolas é a regularidade na chegada das chuvas: as temporãs (entre outubro e novembro) e as serôdias (entre dezembro e janeiro). Armazena-se, então, a água em algibes (ou cisternas), para poder tê-la durante os outros meses do ano.
VALORIZAÇÃO RELIGIOSA DO ANTIGO TESTAMENTO
No Antigo Testamento, como em toda a Bíblia, é reconhecida, em sua origem, uma autêntica experiência religiosa. Deus se revelou ao povo de Israel na realidade da sua história e fez isso como o único Deus, Criador e Senhor do universo e da história, não se assemelhando a nenhuma outra experiência humana, nem se identificando com alguma imagem feita pelos homens. Deus é o Autor da vida, o Criador da existência de todos os seres e é um Deus salvador, que está sempre ao lado do seu povo, mas que não se deixa manipular por ele que impõe obrigações morais e sociais, que não se deixa subornar, que protege os fracos e ama a justiça. É um Deus que se achega ao povo, especialmente no culto um Deus perdoador, que quer que o pecador viva, porém julga com justiça e castiga a maldade. As idéias e a linguagem do Antigo Testamento transparecem nos escritos do Novo Testamento, em cujo pano de fundo está sempre presente o Deus do Antigo Testamento, o Pai de Jesus Cristo, em quem é revelado, definitivamente, o seu amor e a sua vontade salvadora para todo aquele que o recebe pela fé.
O Antigo Testamento dá especial atenção ao relacionamento de Deus com Israel, o seu povo escolhido. Um dos mais importantes aspectos desse relacionamento é a Aliança com Israel, mediante a qual Javé se compromete a ser o Deus daquele povo que tomou como a sua possessão particular e dele exigem o cumprimento religioso dos mandamentos e das leis divinas. Assim, a fé comum, as celebrações cúlticas e a observância da Lei são os elementos que configuram a unidade de Israel, uma unidade que se rompe quando se torna infiel ao Deus ao qual pertence. A história de Israel como povo escolhido revela que o mais importante é manter a sua identidade religiosa em meio ao mundo ao seu redor, passo necessário que será dado em direção à mensagem universal que depois, em Jesus Cristo, será proclamada pelo Novo Testamento.
Nem todos os aspectos do Antigo Testamento mantêm igual vigência para o cristão. O Antigo Testamento deve ser interpretado à luz da sua máxima instância, que é Jesus Cristo. A projeção histórica e profética do povo de Israel no Antigo Testamento é uma etapa precursora no caminho que conduz à plena revelação divina em Cristo (Hb 1.1-2). Por outro lado, o Novo Testamento é o testemunho de fé de que as promessas feitas por Deus a Israel são cumpridas com a vinda do Messias (cf., p. ex., Mt 1.23 Lc 3.4-6 At 2.16-21 Rm 15.9-12). Por isso, certas instruções absolutamente válidas para o povo judeu deixam de ser igualmente vigentes para o novo povo de Deus, que é a Igreja (cf. At 15 Gl 3.23-29 Cl 2.16-17 Hb 7.11-10.18) e alguns aspectos da lei de Moisés, do culto do Antigo Testamento e da doutrina sobre o destino do ser humano, pessoal e comunitariamente considerado, devem ser interpretados à luz do evangelho de Jesus Cristo, o Filho de Deus.
HISTÓRIA E CULTURA
A existência de Israel como povo remonta, provavelmente, ao último período do séc. XI a.C. Era o tempo do nascimento da monarquia e da unificação das diversas tribos, que viviam separadas entre si até que, sob o governo do rei Davi, constituiu-se o Estado nacional, com Jerusalém por capital.
Até chegar a esse momento, a formação do povo havia sido lenta e difícil, mesclada freqüentemente com a história das mais antigas civilizações que floresceram no Egito, às margens do Nilo e na Mesopotâmia, nas terras regadas pelo Tigre e o Eufrates. As fontes extra bíblicas da história de Israel naquela época são muito limitadas, carentes da base documental necessária para se estabelecerem com precisão as origens do povo hebreu. Nesse aspecto, o livro de Gênesis proporciona alguns dados de valor inestimável, pois o estudo dos relatos patriarcais permite descobrir alguns aspectos fundamentais da origem do povo israelita.
A época dos patriarcas Os personagens do Antigo Testamento, habitualmente denominadas "patriarcas", eram chefes de grupos familiares seminômades que iam de um lugar a outro em busca de comida e água para os seus rebanhos. Não havendo chegado ainda à fase cultural do sedentarismo e dos trabalhos agrícolas, os seus assentamentos eram, em geral, eventuais: duravam o tempo em que os seus gados demoravam para consumir os pastos.
Gênesis oferece uma visão particular do começo da história de Israel, que é mais propriamente a história de uma família. Procedentes da cidade mesopotâmica de Ur dos caldeus, situada junto ao Eufrates, Abraão e a sua esposa chegaram ao país de Canaã. Deus havia prometido a Abraão que faria dele uma grande nação (Gn 12.1-3 cf. 15.1-21 17.1-4) e, conforme essa promessa, nasceu o seu filho Isaque, que, por sua vez, foi o pai de Jacó. Durante a sua longa viagem, primeiro na direção norte e depois na direção sul, Abraão deteve-se em diversos lugares mencionados na Bíblia: Harã, Siquém, Ai e Betel (Gn 11.31-12.9) atravessou a região desértica do Neguebe e chegou até o Egito, de onde, mais tarde, regressou para, finalmente, estabelecer-se em um lugar conhecido como "os carvalhais de Manre", junto a Hebrom (Gn 13.1-3,18). Ao morrer Abraão (Gn 25.7-11 cf. 23.2,17-20), Isaque converte-se no protagonista do relato bíblico, que o apresenta como habitante de Gerar e Berseba (Gn 26.6,23), lugares do Neguebe (Gn 24.62), na região meridional da Palestina. Isaque, herdeiro das promessas de Deus a Abraão, aparece no meio de um quadro descritivo da vida seminômade do segundo milênio a.C.: busca de campos de pastoreio, assentamentos provisórios, ocasionais trabalhos agrícolas nos limites de povoados fronteiriços e discussões por causa dos poços de água onde se dava de beber ao gado (Gn 26).
Depois de Isaque, a atenção do relato concentra-se nos conflitos pessoais surgidos entre Jacó e o seu irmão Esaú, que são como que uma visão antecipada dos graves problemas que, posteriormente, haveriam de acontecer entre os israelitas, descendentes de Jacó, e os edomitas, descendentes de Esaú. A história de Jacó é mais longa e complicada que as anteriores. Consta de uma série de relatos entrelaçados: a fuga do patriarca para a região mesopotâmica de Padã-Arã a inteligência e a riqueza de Jacó o regresso a Canaã o episódio de Peniel, onde Deus mudou o nome de Jacó para Israel (Gn 32.28) a revelação de Deus e a renovação das suas promessas (Gn 35.1-15) a história de José e a morte de Jacó no Egito (Gn 37.1-50.14).
A SAÍDA DO EGITO
A situação política e social das tribos israelitas, do Egito e dos países do Oriente Médio, no período que vai da morte de José à época de Moisés, sofreu mudanças consideráveis.
O Egito viveu um tempo de prosperidade depois de expulsar do país os invasores hicsos. Este povo oriundo da Mesopotâmia, depois de passar por Canaã, havia se apropriado, no início do séc. XVIII a.C., da fértil região egípcia do delta do Nilo. Os hicsos dominaram no Egito cerca de um século e meio, e, provavelmente, foi nesse tempo que Jacó se instalou ali com toda a sua família. Esta poderia ser a explicação da acolhida favorável que foi dispensada ao patriarca, e de que algum dos seus descendentes como aconteceu com José (Gn 41.37-43), chegaram a ocupar postos importantes no governo do país.
A situação mudou quando os hicsos foram finalmente expulsos do Egito. Os estrangeiros residentes, entre os quais encontravam-se os israelitas, foram submetidos a uma dura opressão. Essa mudança na situação política está registrada em Êx 1.8, que diz que subiu ao trono do Egito um novo rei "que não conhecera a José." Durante o mandato daquele faraó, os israelitas foram obrigados a trabalhar em condições subumanas na edificação das cidades egípcias de Pitom e Ramessés (Êx 1.11). Porém, em tais circunstâncias, teve lugar um acontecimento que haveria de permanecer gravado, para sempre, nos anais de Israel: Deus levantou um homem, Moisés, para constituí-lo libertador do seu povo.
Moisés, apesar de hebreu por nascimento, recebeu uma educação esmerada na própria corte do faraó. Certo dia, Moisés viu-se obrigado a fugir para o deserto, e ali Javé (nome explicado em Êx 3.14 como "EU SOU O QUE SOU") revelou-se a ele e lhe deu a missão de libertar os israelitas da escravidão a que estavam submetidos no Egito (Êx 3.1-4.17). Regressou Moisés ao Egito e, depois de vencer com palavras e ações maravilhosas a resistência do faraó, conseguiu que a multidão dos israelitas se colocasse em marcha em direção ao deserto do Sinai.
Esse capítulo da história de Israel, a libertação do jugo egípcio, marcou indelevelmente a vida e a religião do povo. A data precisa desse acontecimento não pode ser determinada. Têm-se sugerido duas possibilidades: até meados do séc. XV e até meados do séc. XIII. (Neste último caso seria durante o reinado de Ramsés II ou do seu filho Meneptá.).
Durante os anos de permanência no deserto do Sinai, enquanto os israelitas dirigiam-se para Canaã, produziu-se um acontecimento de importância capital: Deus instituiu a sua Aliança com o seu povo escolhido (Êx 19). Essa Aliança significou o estabelecimento de um relacionamento singular entre Javé e Israel, com estipulações fundamentais que ficaram fixadas na lei mosaica, cuja síntese é o Decálogo (Êx 20.1-17). A conquista de Canaã e o período dos juízes.
Depois da morte de Moisés (Dt 34), a direção do povo foi colocada nas mãos de Josué, a quem coube guiá-lo ao país de Canaã, a Terra Prometida. A entrada naqueles territórios iniciou-se com a passagem do Jordão, fato de grande significação histórica, porque com ela inaugurava-se um período decisivo para a constituição da futura nação israelita (Js 1-3).
Conquistar e assentar-se em Canaã não se tornou empresa fácil. Foi um longo e duro processo (cf. Jz 1), às vezes, de avanço pacífico, mas, às vezes, de inflamados choques com os hostis povos cananeus (cf. Jz 4-5), formados por populações diferentes entre si, ainda que todas pertencentes ao comum tronco semítico muitas delas terminaram absorvidas por Israel (cf. Js 9).
Naquele tempo da chegada e conquista de Canaã, os grandes impérios do Egito e da Mesopotâmia já haviam iniciado a sua decadência. Destes eram vassalos os pequenos Estados cananeus, de economia agrícola e cuja administração política limitava-se, geralmente, a uma cidade de relativa importância nos limites das suas terras. Em relação à religião, caracterizava-se sobretudo pelos ritos em honra a Baal, Aserá e Astarote, e a deuses secundários, geralmente divindades da fecundidade.
A etapa conhecida como "período dos juízes de Israel" sucedeu à morte de Josué (Js 24.29-32). Desenvolveu-se entre os anos 1200 e 1050 a.C., e a sua característica mais evidente foi, talvez, a distribuição dos israelitas em grupos tribais, mais ou menos independentes e sem um governo central que lhes desse um mínimo sentido de organização política. Naquelas circunstâncias surgiram alguns personagens que assumiram a direção de Israel e que, ocasionalmente, atuaram como estrategistas e o guiaram nas suas ações de guerra (ver, p. ex., em Jz 5, o Cântico de Débora, que celebra o triunfo de grupos israelitas aliados contra as forças cananéias). Entre todos os povos vizinhos, foram, provavelmente, os filisteus que representaram para Israel a mais grave ameaça. Procedentes de Creta e de outras ilhas do Mediterrâneo oriental, os filisteus, conhecidos também como "os povos do mar", que primeiramente haviam intentado sem êxito penetrar no Egito, apoderaram-se depois (por volta de 1175 a.C.) das planícies costeiras da Palestina meridional. Ali estabeleceram-se e constituíram a "Pentápolis", o grupo das cinco cidades filistéias: Asdode, Gaza, Asquelom, Gate e Ecrom (1Sm 6.17), cujo poder reforçou-se com a sua aliança e também com o monopólio da manufatura do ferro, utilizado tanto nos seus trabalhos agrícolas quanto nas suas ações militares (1Sm 13.19-22).
O INÍCIO DA MONARQUIA DE ISRAEL
A figura política dos "juízes", apta para resolver assuntos de caráter tribal, mostrou-se ineficaz ante os problemas que, mais tarde, haveriam de ameaçar a sobrevivência do conjunto de Israel no mundo palestino. Assim, pouco a pouco, veio a implantação da monarquia e, com ela, uma forma de governo unificado, dotado da autoridade necessária para manter uma administração nacional estável. Ainda que a monarquia tenha enfrentado, no início, fortes resistências internas (1Sm 8), paulatinamente chegou a impor-se e consolidar-se. Samuel, o último dos juízes de Israel, foi sucedido por Saul, que em 1040 a.C. iniciou o período da monarquia, que se prolongou até 586 a.C., quando, durante o reinado de Zedequias, os babilônios sitiaram e destruíram Jerusalém, tendo Nabucodonosor à frente. Saul, que começou a reinar depois de ter obtido uma vitória militar (1Sm 11) e de ter triunfado em outras ocasiões, todavia, nunca conseguiu acabar com os filisteus, e foi lutando contra eles no monte Gilboa que morreram os seus três filhos e ele próprio (1Sm 31.1-6).
Saul foi sucedido por Davi, proclamado rei pelos homens de Judá na cidade de Hebrom (2Sm 2.4-5). O seu reinado iniciou-se, pois, na região meridional da Palestina, mas depois estendeu-se em direção ao norte. Reconhecido como rei por todas as tribos israelitas, conseguiu unificá-las sob o seu governo. Durante o tempo em que Davi viveu, produziram-se acontecimentos de grande importância: a anexação à nova entidade nacional de algumas cidades cananéias antes independentes, a submissão de povos vizinhos e a conquista de Jerusalém, convertida desde então na capital do reino e centro religioso por excelência. Próximo já da sua morte, Davi designou por sucessor o seu filho Salomão, sob cujo governo alcançou o reino as mais altas cotas de esplendor. Salomão soube estabelecer importantes relacionamentos políticos e comerciais, geradores de grandes benefícios para Israel. As riquezas acumuladas sob o seu governo permitiram realizar em Jerusalém construções de enorme envergadura, como o Templo e o palácio real. O prestígio de Salomão fez-se proverbial, e a fama da sua prudência e sabedoria nunca teve paralelo na história dos reis de Israel (1Rs 5-10).
A RUPTURA DA UNIDADE NACIONAL
A despeito de todas as circunstâncias favoráveis que rodearam o reinado de Salomão, foi precisamente aí que a unidade do reino começou a fender-se. Por um e outro lado do país, surgiam vozes de protesto pelos abusos de autoridade, pelos maus tratos infligidos à classe trabalhadora e pelo agravamento dos tributos destinados a cobrir os gastos que originavam as grandes construções. Tudo isso, fomentando atitudes de descontentamento e rebeldia, foi causa do ressurgimento de antigas rivalidades entre as tribos do Norte e do Sul.
Os problemas chegaram ao extremo quando, morto Salomão, ocupou o trono o seu filho Roboão (1Rs 12.1-24). Sem a sensatez do seu pai, Roboão provocou, com imprudentes atitudes pessoais, a ruptura do reino: de um lado, a tribo de Judá, que seguiu fiel a Roboão e manteve a capital em Jerusalém de outro, as tribos do Norte, que proclamaram rei a Jeroboão, antigo funcionário da corte de Salomão. Desde esse momento, a divisão da nação em reino do Norte e reino do Sul se fez inevitável.
Judá, sempre governada por um membro da dinastia davídica, subsistiu por mais de trezentos anos, ainda que a sua independência nacional tivesse sofrido importantes oscilações desde que, no final do séc. VIII a.C., a Assíria a submeteu a uma dura vassalagem. Aquele antigo império dominou a Palestina até que medos e caldeus, já próximo do séc. VI a.C., apagaram-na do panorama da história (Na 1-3). Então, em Judá, onde reinava Josias, renasceram as esperanças de recuperar a perdida independência mas, depois da batalha de Megido (609 a.C.), com a derrota de Judá e a morte de Josias (2Cr 35.20-24), o reino entrou em uma rápida decadência, que terminou com a destruição de Jerusalém em 586 a.C. O Templo e toda a capital foram arrasados, um número grande dos seus habitantes foi levado ao exílio, e a dinastia davídica chegou ao seu fim (2Rs 25.1-21). Ao que parece, a perda da independência de Judá supôs a sua incorporação à província babilônica de Samaria mas, além disso, o país havia ficado arruinado, primeiro pela devastação que causaram os invasores e em seguida pelos saques a que o submeteram os seus povos vizinhos, Edom (Ob 11), Amom e outros (Ez 25.1-4).
O reino do Norte, Israel, nunca chegou a gozar uma situação politicamente estável. A sua capital mudou de lugar em diversas ocasiões, antes de ficar finalmente instalada na cidade de Samaria (1Rs 16.24), e várias tentativas para constituir dinastias duradouras terminaram em fracasso, freqüentemente de modo violento (Os 8.4). A aniquilação do reino do Norte sob a dominação assíria ocorreu gradualmente: primeiro foi a imposição de um grande tributo (2Rs 15.19-20) em seguida, a conquista de algumas povoações e a conseqüente redução das fronteiras do reino e, por último, a destruição de Samaria, o exílio de uma parte da população e a instalação de um governo estrangeiro no país conquistado.
O EXÍLIO
Os babilônios permitiram que os exilados do reino de Judá formassem famílias, construíssem casas, cultivassem pomares (Jr 29.5-7) e chegassem a consultar os seus próprios chefes e anciãos (Ez 20.1-44) e, igualmente, permitiram-lhes viver em comunidade, em um lugar chamado Tel-Abibe, às margens do rio Quebar (Ez 3.15). Assim, pouco a pouco, foram-se habituando à sua situação de exilados na Babilônia. Em semelhantes circunstâncias, a participação comum nas práticas da religião foi, provavelmente, o vínculo mais forte de união entre os membros da comunidade exilada e a instituição da sinagoga teve um papel relevante como ponto de encontro para a oração, a leitura e o ensinamento da Lei, o canto dos Salmos e o comentário dos escritos dos profetas.
Desta maneira, com o exílio, a Babilônia converteu-se num centro de atividade religiosa, onde um grupo de sacerdotes entregou-se com empenho à tarefa de reunir e preservar os textos sagrados que constituíam o patrimônio espiritual de Israel. Entre os componentes desse grupo se contava Ezequiel, que, na sua dupla condição de sacerdote e profeta (Ez 1.1-3 2.1-5), exerceu uma influência singular.
Dadas as condições de tolerância e até de bem-estar em que viviam os exilados na Babilônia, não é de estranhar que muitos deles renunciassem, no seu tempo, regressar ao seu país. Outros, pelo contrário, mantendo vivo o ressentimento contra a nação que os havia arrancado da sua pátria e que era causa dos males que lhes haviam sobrevindo, suspiravam pelo momento do regresso ao seu longínquo país (Sl 137 Is 47.1-3).
RETORNO E RESTAURAÇÃO
A esperança de uma rápida libertação cresceu entre os exilados quando Ciro, rei de Anshan, empreendeu a sua carreira de conquistador e fundador de um novo império. Elevado já ao trono da Pérsia (559-530 a.C.), as suas qualidades de estrategista e de político permitiram-lhe superar rapidamente três etapas decisivas: primeiro, a fundação do reino medo-persa, com a sua capital Ecbatana (553 a.C.) segundo, a conquista de quase toda a Ásia Menor, culminada com a vitória sobre o rei de Lídia (546 a.C.) terceiro, a entrada triunfal na Babilônia (539 a.C.). Desse modo, ficou configurado o império persa, que, durante mais de dois séculos, dominou o panorama político do Oriente Médio.
Ciro praticou uma política de bom relacionamento com os povos submetidos. Permitiu que cada um conservasse os seus usos, costumes e tradições e que praticasse a sua própria religião, atitude que redundou em benefício aos judeus residentes na Babilônia, os quais, por decreto real, ficaram com a liberdade de regressar à Palestina.
O livro de Esdras contém duas versões do referido decreto (Ed 1.2-4 e 6.3-12), no qual se ampararam os exilados que quiseram voltar à pátria. E é importante assinalar que o imperador persa não somente permitiu aquele regresso, mas também devolveu aos judeus os ricos utensílios do culto que Nabucodonosor lhes havia arrebatado e levado à Babilônia. Para maior abundância, Ciro ordenou também uma contribuição de caráter oficial para apoiar economicamente a reconstrução do templo de Jerusalém.
O retorno dos exilados realizou-se de forma paulatina, por grupos, o primeiro dos quais chegou a Jerusalém sob a liderança de Sesbazar (Ed 1.11). Tempos depois se iniciaram as obras de reconstrução do Templo, que se prolongaram até 515 a.C. Para dirigir o trabalho e animar os operários contribuíram o governador Zorobabel e o sumo sacerdote Josué, apoiados pelos profetas Ageu e Zacarias (Ed 5.1). O passar do tempo deu lugar a muitos problemas de índole muito diversa. As duras dificuldades econômicas às quais tiveram que fazer frente, as divisões no seio da comunidade e, muito particularmente, as atitudes hostis dos samaritanos foram causa da degradação da convivência entre os repatriados em Jerusalém e em todo Judá.
Ao conhecer os problemas que afligiam o seu povo, um judeu chamado Neemias, residente na cidade de Susã, copeiro do rei persa Artaxerxes (Ne. 2.1), solicitou que, com o título de governador de Judá, tivesse a permissão de ajudar o seu povo (445 a.C.). Neemias revelou-se um grande reformador, que atuou com capacidade e eficácia. A sua presença na Palestina foi decisiva, não somente para que se reconstruíssem os muros de Jerusalém, mas também para que a vida da comunidade judaica experimentasse uma mudança profunda e positiva (cf. Ne 8-10).
Artaxerxes investiu, também de poderes extraordinários, ao sacerdote e escriba Esdras, a fim de que este, dotado de plena autoridade, se ocupasse de todas as necessidades do Templo e do culto em Jerusalém e cuidasse de colocar sob a lei de Deus tanto os judeus recém-repatriados como os que nunca haviam saído da Palestina (Ed 7.12-26). Entre eles, promoveu Esdras uma mudança religiosa e moral tão profunda, que, a partir de então, Israel converteu-se no "povo do Livro". A sua figura ocupa nas tradições judaicas um lugar comparável ao de Moisés. Com relação às referências a Artaxerxes no livro de Esdras (7.7) e no de Neemias (2.1), se correspondem a um só personagem ou a dois, os historiadores não têm chegado a uma conclusão definitiva.
O PERÍODO HELENÍSTICO
O domínio persa no Oriente Médio chegou ao seu fim quando o exército de Dario III sucumbiu em Isso (333 a.C.) ante as forças de Alexandre Magno (356-323 a.C.). Ali começou a hegemonia do helenismo, que se manteve até 63 a.C. e que entre os seus sucessos contou com o estabelecimento de importantes vínculos entre Oriente e Ocidente. Mas as rivalidades surgidas entre os sucessores de Alexandre (os Diádocos) impediram o estabelecimento de uma unidade política eficaz nos territórios que ele havia conquistado. De tais divisões originou-se, com referência à Palestina, a que fora dominada primeiro pelos Ptolomeu (ou lágidas) do Egito e depois pelos selêucidas da Síria, duas das dinastias fundadas pelos generais sucessores de Alexandre. Durante a época helenística estendeu-se consideravelmente o uso do grego, e muitos judeus residentes na "diáspora" (ou "dispersão") habituaram-se a utilizá-lo como língua própria. Chegou um momento em que se fez necessário traduzir a Bíblia Hebraica para atender às necessidades religiosas das colônias judaicas de fala grega. Essa tradução, chamada de Septuaginta ou Versão dos Setenta, foi feita aproximadamente entre os anos 250 e 150 a.C.
Durante o reinado do selêucida Antíoco IV Epífanes (175-163 a.C.), produziu-se na Palestina um intento de helenização do povo judeu, que causou entre os seus membros uma grave dissensão. Muitos adotaram abertamente costumes próprios da cultura grega, divergentes das práticas judaicas tradicionais, enquanto que outros se agarraram com tenaz fanatismo à lei mosaica. A tensão entre eles foi crescendo até desembocar na rebelião dos Macabeus. Essa rebelião desencadeou-se quando um ancião sacerdote chamado Matatias e os seus cinco filhos organizaram a luta contra o exército sírio. Depois da morte de Matatias, Judas, o seu terceiro filho, ficou à frente da resistência e, chefiando os seus, reconquistou o templo de Jerusalém, que havia sido profanado pelos sírios, e o purificou e o dedicou. A Hannuká ou Festa da Dedicação (Jo 10.22) comemora esse fato. Convertido em herói nacional, Judas foi o primeiro a receber o sobrenome de "macabeu" (provavelmente "martelo"), que depois foi dado também aos seus irmãos.
Depois da morte de Simão, o último dos Macabeus, a sucessão recaiu sobre o seu filho João Hircano I (134-104 a.C.), com quem teve início a dinastia hasmonéia. Ainda viveu a Judéia alguns dias de esplendor, mas, em geral, durante o governo dos hasmoneus, a estabilidade política deteriorou-se progressivamente. Mais tarde, entrou em jogo o Império Romano, e, no ano 63 a.C., o general Pompeu conquistou Jerusalém e a anexou, com toda a Palestina, à que já era oficialmente província da Síria. A partir desse momento, a própria vida religiosa judaica ficou hipotecada, dirigida aparentemente pelo sumo sacerdote em exercício, mas submetida, em última instância, à autoridade imperial.
Fonte:
iLúmina - A Bíblia do século XXI
III. BÍBLIA: INSPIRADA POR DEUS
Esta palavra deriva-se de in spiro, "soprar para dentro, insuflar", aplicando-se na Escritura não só a Deus, como Autor da inteligência do homem (Jó 32.8), mas também à própria Escritura, como "inspirada por Deus" (2Tm 3.16). Nesta última passagem claramente se acha designada uma certa ação de Deus, com o fim de transmitir ao homem os Seus pensamentos. Ainda que se fale primeiramente de inspiração no Antigo Testamento, pode o termo retamente aplicar-se ao Novo Testamento, como sendo este livro considerado também como Escritura. A palavra, significando "sopro de Deus", indica aquela primária e fundamental qualidade que dá à Escritura o seu caráter de autoridade sobre a vida espiritual, e torna as suas lições proveitosas nos vários aspectos da necessidade humana.
O que é a inspiração, pode melhor inferir-se da própria reivindicação da Escritura. Os profetas do Antigo Testamento afirmam falar segundo a mensagem que Deus lhes deu. O Novo Testamento requer para o Antigo Testamento esta qualidade de autoridade divina. De harmonia com isto, fala-se em toda parte da Escritura, como sendo a "Palavra de Deus". Tais designações como "as Escrituras" e "os oráculos de Deus" (Rm 3.2). havendo também frases como estas - "esta escrito" - claramente mostram a sua proveniência divina. Além disso, são atribuídas as palavras da Escritura a Deus como seu Autor (Mt 1.22; At 13.34), ou ao Espírito Santo (At 1.16; Hb 3.7); e a respeito dos escritores se diz que eles falavam pelo Espírito Santo (Mt 2.15). E deste modo as própria palavras da Escritura são considerada de autoridade divina (Jo 10.34,35; Gl 34.16), e as suas doutrinas são designadas para a direção espiritual e temporal da humanidade em todos os tempos (Rm 15.4; 2Tm 3.16). O apóstolo Paulo reclama para as suas palavras uma autoridade igual à do Antigo Testamento como vindas de Deus; e semelhante coloca a sua mensagem ao nível das mais antigas Escrituras.
A garantia de ter esta doutrina da Sagrada Escrituras autoridade divina está no ensinamento a respeito do Espírito Santo, que foi prometido aos discípulos de Cristo como seu Mestre e Guia (Jo 14.26; 16.13).
É melhor usar o termo "revelação" quando se tratar, propriamente, da matéria da mensagem, e a palavra "inspiração" quando quisermos falar do método pelo qual foi revelada a mensagem. Por inspiração da Escritura nós compreendemos a comunicação da verdade divina, que de certo modo é única em grau e qualidade. Como os apóstolos eram inspirados para ensinar de viva voz, não podemos pensar que não tivessem sido inspirados quando tinham de escrever. Por conseqüência, podemos considerar a inspiração como especial dom do Espírito Santo, pelo qual os profetas do Antigo Testamento, e os apóstolos e seus companheiros no Novo Testamento, transmitiram a revelação de Deus, como eles a receberam.
É claro o fato de uma única inspiração das Escrituras. Mas até onde se estende esta inspiração? Revelação é a manifestação dos pensamentos de Deus para a direção da vida do homem. Se a vontade divina tem de ser conhecida, e transmitida às gerações, deve ser corporificada em palavras; e para se estar certo dos pensamentos, é preciso que estejamos certos das palavras. A inspiração deve, portanto, estender-se à linguagem.
Em 2Pe 1.21, os homens, e em 2Tm 3.16, a Escritura, diz-se serem inspirados; na verdade, não poderíamos ficar satisfeitos, considerando inspirados os homens, e não os seus escritos, porque a inspiração pessoal deve, necessariamente, exprimir-se pela escrita, se é certo que tem de perpetuar-se. A vida estender-se por toda parte do corpo, e não podemos realmente fazer distinção entre o espírito e a forma, entre a substância e o molde.
Todavia, a expressão "inspiração verbal" precisa ser cuidadosamente determinada contra qualquer noção errônea. A possibilidade de haver má compreensão faz que muitos cristãos prefiram a frase "inspiração plenária". A inspiração verbal não significa um ditado mecânico, como se os escritores fossem instrumentos meramente passivos: ditar não é inspirar. A inspiração verbal estabelece até que ponto vai a inspiração, estendendo-se tanto à forma como à substância. Diz-nos o "que é", e não "como é", não nos sendo explicado o método da operação do Espírito Santo, mas somente nos é dado conhecer o resultado. Deus fez uso das características natural de cada escritor, e por um ato especial do Espírito Santo, habilitou-os a comunicar ao homem, por meio da escrita, a Sua divina vontade. Observa-se esta associação do divino e do humano nas passagens como estas: Mt 1.22; 2.15; At 1.16; 3.18; 4.25. A operação do Espírito Santo junta-se com a atividade mental do escritor, operando por meio dele e guiando-o. Ainda que não saibamos explicar o modo de tal operação, conhecemos os seus resultados. Certamente esta maneira de ver a respeito da inspiração refere-se somente aos escritos, como eles saíram das mãos dos escritores originais. Os manuscritos originais não foram preservados e por isso precisamos do auxílio de um minucioso criticismo textual de tal maneira que possamos aproximar-nos tanto quanto possível do tempo e das circunstância dos autógrafos.
Esta maneira de compreender a inspiração pode ser justificada pelas seguintes considerações:
a) O uso atual da Bíblia, na vida e obra da Igreja cristã, sendo acentuada a sua autoridade no ensinamento verbal.
b) Uma ponderada e sábia exegese em todos os tempos mas especialmente em nossos dias.
c) O recurso à Bíblia em todos os assuntos de controvérsia.
d) A crença sobre este ponto nos tempos apostólicos e sub-apostólicos.
e) O uso do Antigo Testamento pelos escritores do Novo Testamento, notando-se 284 citações, e frases como "está escrito".
f) Jesus Cristo acha apoio no Novo Testamento para suas considerações, como em Jo 10.30-36.
g) Os profetas e os apóstolos consideravam-se homens inspirados (2Sm 23.2; Jr 36.4-8; 1Co 2.13; 14.37).
É impossível limitar a inspiração à doutrina, e considerar a história como sujeita a circunstâncias comuns, pois que doutrina e história estão unidas de tal modo que não podem separar-se. A própria revelação de Cristo é a de uma pessoa histórica, sendo inseparável os fatos e as doutrinas que lhe dizem respeito. E diz o Novo Testamento que a história do Antigo Testamento é inspirada e escrita pra nossa instrução (Rm 4.23,24; 15.4; 1Co 10.6,11).
Sendo a Bíblia uma autoridade para nós, assim a devemos considerar, seja qual tenha sido o método da inspiração: porquanto o valor da autoridade realmente independente de todas as particularidades sobre o modo como foi inspirada. É auxiliado o estudo da inspiração pela analogia entre o Verbo encarnado e a Palavra escrita: ambos são divinos, e também são humanos, embora, em cada caso, é impossível dizer onde termina o divino e começa o humano. Ambos os elementos ali estão, reais e inseparáveis, de maneira que, quer se trate de Cristo ou da Bíblia, podemos dizer que tudo é perfeitamente humano e tudo é absolutamente divino.
Fonte: Dicionário Bíblico Universal - p. 198
IV. COMO A BÍBLIA CHEGOU ATÉ NOS.
A questão de quais livros pertencem à Bíblia é chamada questão canônica. A palavra cânon significa régua, vara de medir, regra, e, em relação à Bíblia, refere-se à coleção de livros que passaram pelo teste de autenticidade e autoridade; significa ainda que esses livros são nossa regra de vida. Como foi formada esta coleção?
OS TESTES DE CANONICIDADE
Em primeiro lugar é importante lembrarmos que certos livros já eram canônicos antes de qualquer teste lhes ser aplicado. Isto é como dizer que alguns alunos são inteligentes antes mesmo de se lhes ministrar uma prova. Os testes apenas provam aquilo que intrinsecamente já existe. Do mesmo modo, nem a Igreja nem os concílios eclesiásticos jamais concederam canonicidade ou autoridade a qualquer livro; o livro era autêntico ou não no momento em que foi escrito. A Igreja ou seus concílios reconheceram certos livros como Palavra de Deus e, com o passar do tempo, aqueles assim reconhecidos foram colecionados para formar o que hoje chamamos de Bíblia.
Que testes a Igreja aplicou?
1) Havia o teste da autoridade do escritor. Em relação ao ANTIGO TESTAMENTO, isto significava a autoridade do legislador, ou do profeta, ou do líder em Israel. No caso do N.T., o livro deveria ter sido escrito ou influenciado por uma apóstolo para ser reconhecido. Em outras palavras, deveria ter a assinatura ou aprovação de uma apóstolo. Pedro, por exemplo, apoiou a Marcos, e Paulo a Lucas.
2) Os próprios livros deveriam dar alguma prova intrínseca de seu caráter peculiar, inspirado e autorizado por Deus. Seu conteúdo deveria de demonstrar ao leitor como algo diferente de qualquer outro livro por comunicar a revelação de Deus.
3) O veredicto das igrejas quanto à natureza canônica dos livros era importante. Na verdade, houve uma surpreendente unanimidade entre as primeiras igrejas quanto aos livros que mereciam lugar entre os inspirados. Embora seja fato que alguns livro bíblicos tenha sido recusados ou questionados por alguma minoria, nenhum livro cuja autenticidade foi questionada por uma número grande de igrejas veio a ser aceito posteriormente como parte do cânon.
V. A FORMAÇÃO DO CÂNON
O cânon da Escritura estava-se formando, é claro, à medida que cada livro era escrito, e completou-se quando o último livro foi terminado. Quando falamos da “formação” do cânon estamos realmente falando do reconhecimento dos livros canônicos pela Igreja. Esse processo levou algum tempo. Alguns afirmam que todos os livros do A.T. já haviam sido colecionados e reconhecidos por Esdras, no quinto século AC. Referências nos escritos de Flávio Josefo (95 DC) e em 2 Esdras 14 (100 DC) indicam a extensão do cânon do ANTIGO TESTAMENTO como os 39 livros que hoje aceitamos. A discussão do chamado Sínodo de Jamnia (70-100 DC) parece ter partido deste cânon. Nosso Senhor delimitou a extensão dos livros canônicos do A.T. quando acusou os escribas de serem culpados da morte de todos os profetas que Deus enviara a Israel, de Abel a Zacarias (Lc 11.51). O relato da morte de Abel está, é claro, em Gênesis; o de Zacarias se acha em 2 Crônicas 24.20,21, que é o último livro na disposição da Bíblia hebraica (em lugar de nosso Malaquias). Para nós, é como se Jesus tivesse dito: “Sua culpa está registrada em toda a Bíblia - de Gênesis a Malaquias”. Ele não incluiu qualquer dos livros apócrifos que já existiam em Seu tempo e que continham relatos das mortes de outros mártires israelitas.
O primeiro concílio eclesiástico a reconhecer todos os 27 livros do NOVO TESTAMENTO foi o concílio de Cartago, em 397 DC. Alguns livros do NOVO TESTAMENTO, individualmente, já haviam sido reconhecidos como canônicos muito antes disso (2Pe 3.16; 1Tm 5.18) e a maioria deles foi aceita como canônica no século posterior ao dos apóstolos (Hebreus, Tiago, 2 Pedro, 2 e 3 João e Judas foram debatidos por algum tempo). A seleção do cânon foi um processo que continuou até que cada livro provasse o seu valor, passando pelos testes de canonicidade.
Os doze livros apócrifos do ANTIGO TESTAMENTO jamais foram aceitos pelos judeus ou por nosso Senhor no mesmo nível de autoridade dos livros canônicos. Eles eram respeitados, mas não foram considerados como Escritura. A Septuaginta (versão grega do ANTIGO TESTAMENTO produzida entre o terceiro e o segundo século AC) incluiu os apócrifos com o ANTIGO TESTAMENTO canônico. Jerônimo (c. 340 - 420 DC), ao traduzir a Vulgata, distinguiu entre os livros canônicos e os eclesiásticos (que eram os apócrifos), e essa distinção acabou por conceder-lhe uma condição de canonicidade secundária. O Concílio de Trento (1548) reconheceu-os como canônicos, embora os reformadores tenham rejeitado tal decreto. Em algumas versões protestantes dos séculos XVI e XVII, os apócrifos foram colocados à parte.
VI. O TEXTO DE QUE DISPOMOS É CONFIÁVEL?
Os manuscritos originais do ANTIGO TESTAMENTO e suas primeiras cópias foram escritos em pergaminhos ou papiro, desde o tempo de Moisés (c. 1450 AC) até o tempo de Malaquias (400 AC). Até a sensacional descoberta dos Rolos do Mar Morto em 1947, não possuíamos cópias do ANTIGO TESTAMENTO anteriores a 895 DC. A razão de isto acontecer era a veneração quase supersticiosa que os judeus tinha pelo texto e que os levava a enterrar as cópias, à medida que ficavam gastas demais para uso regular. Na verdade, os massoretas (tradicionalistas), que acrescentaram os acentos e transcreveram a vocalização entre 600 e 950 DC, padronizando em geral o texto do ANTIGO TESTAMENTO, engendraram maneiras sutis de preservar a exatidão das cópias que faziam. Verificavam cada cópia cuidadosamente, contanto a letra média de cada página, livro e divisão. Alguém já disse que qualquer coisa numerável era numerada. Quando os Rolos do Mar Morto ou Manuscrito do Mar Morto foram descobertos, trouxeram a lume um texto hebraico datada do segundo século AC de todos os livros do Antigo Testamento. à exceção de Ester. Essa descoberta foi extremamente importante, pois forneceu um instrumento muito mais antigo para verificarmos a exatidão do Texto Massorético, que se provou extremamente exato.
Outros instrumentos antigos de verificação do texto hebraico incluem a Septuaginta (tradução grega preparada em meados do terceiro século AC), os targuns aramaicos (paráfrases e citações do Antigo Testamento citações em autores cristãos da antiguidade, a tradução latina de Jerônimo (a Vulgata, c. 400 DC), feita diretamente do texto hebraico corrente em sua época. Todas essas fontes nos oferecem dados que asseguram um texto extremamente exato do Antigo Testamento.
Mais de 5.000 manuscritos do Novo Testamento. existem ainda hoje, o que o torna mais bem documentado dos escritos antigos. O contraste é surpreendente.
Além de existirem muitas cópias do Novo Testamento, muitas delas pertencem a uma data bem próxima à dos originais. Há aproximadamente setenta e cinco fragmentos de papiro datados de 135 DC até o oitavo século, possuindo partes de 25 dos 27 livros, num total de 40% do texto. As muitas centenas de cópias feitas em pergaminho incluem o grande Códice Sinaítico (quarto século), o Códice Vaticano (também quarto século) e o Códice Alexandrino (quinto século). Além disso, há cerca de 2.000 lecionários (livretos de uso litúrgico que contêm porções das Escrituras), mais de 86.000 citações do NOVO TESTAMENTO nos escritos dos Pais da Igreja, antigas traduções latinas, siríaca e egípcia, datadas do terceiro século, e a versão latina de Jerônimo. Todos esses dados, mais o trabalho feito pelos estudiosos da paleografia, arqueologia e crítica textual, nos asseguram possuirmos um texto exato e fidedigno no N. Testamento.
Abreviações:
A.T. = Antigo Testamento
N.T. - Novo Testamento
Fonte: “A Bíblia Anotada”
VII. A PRODUÇÃO DO ANTIGO TESTAMENTO?
A produção do Antigo Testamento. A própria palavra Bíblia praticamente diz o que significa. Bíblia é um substantivo comum dado à reunião dos livros do Antigo e do Novo Testamentos.
A palavra Bíblia vem do grego biblion (biblion),que é diminutivo do plural neutro, também grego, biblos (bibloj) que significa livros ou livretos. De acordo com o Dicionário do Novo Testamento Grego, a palavra biblos significa rolo de papiro com idéia de veneração e caráter sagrado; o substantivo livro, quase foi abandonado e substituído por biblion no grego koinê (koinh - comum).
Na verdade, a palavra Bíblia significa livros, já que é uma biblioteca num único livro e que contém 66 livros se for a protestante, 73 se for a católica e 24, divididos em 3 partes, se for a judaica.
A Bíblia protestante que contém 66 livros é dividida em 39 livros no Antigo Testamento (AT) e 27 no Novo Testamento (NT).
Há vários tipos de bíblias: as ilustradas, as bíblias gigantes, as minúsculas e atualmente temos as mais recentes que são em CD-ROM. Quem sabe daqui a algum dia haverá uma em DVD?
O mais importante é que esta diversidade de bíblias alcança a todos. Algumas são feitas especialmente para as crianças, outras da mesma forma, são feitas para estudos e etc. Entre estas existe também uma que é impressa em braile e é bem cara.
Há também as bíblias raras. Das 47 restantes que foram impressas por Gutenberg, cada uma está avaliada em 2 milhões de dólares.
O termo biblos que traduzido para Bíblia, tem sua origem vinda da entrecasca da planta do papiro, que é uma cana ou junco que cresce às margens do Rio Nilo, na África e também em outros rios do Oriente. Esta planta, como também o pergaminho e outros materiais, era utilizada para a escrita.
No início do mundo as histórias se fixavam através das tradições orais, isto é, de pais para filhos ou de adultos para crianças. A vida simples, os eventos notáveis e as próprias repetições garantiram a durabilidade e a propagação desses relatos.
A Bíblia foi preservada através de vários séculos pelos manuscritos. Manuscrito é uma palavra de origem latina que significa o que foi escrito à mão, pois manus - mão; scriptus - escrito.
Material de escrita da época. Antigamente, bem mais do que hoje em dia, todos os documentos, eram escritos ou copiados à mão. Como naquela época não existia o papel como temos hoje, eles utilizavam vários materiais. Por isso a Bíblia foi escrita em papiro ou pergaminho.
a. Papiro: palavra da qual se originou papel. É uma cana ou junco que cresce às margens do rio Nilo (África) e outros rios do Oriente. Da casca desta planta se faziam folhas entrelaçadas para os manuscritos. Estas folhas tem entre 15 e 27cm de comprimento e o papiro chegava atingir de 2 a 4 metros. O caule mede aproximadamente 6 cm de diâmetro. Este era cortado em seções ou tiras longas de 30cm de comprimento, após a extração do miolo eram colocadas uma sobre a outra, formando ângulos retos (90º) até chegarem a uma grossa espessura. Depois eram prensadas até formarem um só tecido, ou melhor, o papel e, finalmente, este era preso em varas de madeiras. A tinta utilizada era a mistura de fuligem e goma e como pena utilizavam um junco afilado. A planta do papiro enraíza-se no lodo do rio (Ex 2.3; Jó 8.11; Is 18.2) e termina em formato de guarda chuva, ou melhor, folhas lanceoladas. A prática de coser folhas de papiro e formar um livro não era comum, a não ser aproximadamente cem anos (100 d.C.) após a morte de Paulo, segundo alguns estudiosos.
b. Pergaminho: este nome vem do latim pergamina, o qual vem do grego Pergamon (Pergamon) ,isto é, Pérgamo, que era uma célebre cidade da província romana na Ásia, banhada pelos rios Selino e Cétio. Esta cidade foi sede das dinastias antigas de Átalo e Êumenis, local do famoso templo de Esculápio e do nascimento do célebre médico Galem; segundo algumas fontes, foi ali que se fabricou pela primeira vez o pergaminho. Segundo Plínio, o nome pergaminho teve origem com o que aconteceu com o rei de Pérgamo, Êumenis II, em 160 a.C. Este rei planejou forjar uma biblioteca maior do que a de Alexandria, no Egito. O rei deste País, por inveja, proibiu a exportação de Papiro para Pérgamo, obrigando, desta forma, o rei Êumenis II a recorrer ao processo de preparar peles de animais para a escrita. Assim surgiu um novo método de preparação de papel para a escrita. Este foi tão aperfeiçoado e tornou-se tão abundante e famoso no 2º século que recebeu o nome de pergaminho. Na verdade, o pergaminho era a pele ou o couro de gado, ovelha, carneiro, cabra e antílopes. Onde o pêlo era retirado e o couro era amaciado com pedras especialmente preparadas para esta finalidade. Através deste processo o couro era transformado em folhas finas e tratado para apresentar uma superfície macia. Havia também um pergaminho de qualidade superior que era chamado de vel lum. Normalmente o pergaminho era tingido de púrpura ou tintas de ouro e prata. Eram guardados em forma de rolos ou longas tiras enroladas pelos dois extremos, de forma bem cuidadosa.
Existiram também outros materiais que foram utilizados para a escrita pelos povos antigos e alguns até foram registrados pela própria Bíblia. Havia a argila, em forma de tijolos cozidos ou não cozidos; o ostracom, que eram fragmentos de cerâmicas que já não serviam para outros fins; o bronze; a cera ou melhor, as tábuas que eram revestidas de cera (Is 8.1, 30.8; Lc 1.63); o chumbo (Jó 19.23,24); a madeira; o ouro, principalmente nas moedas e jóias (Ex 28.36); e a pedra. Existiram três formas próprias e notáveis para a escrita:
a) Rocha Behistun (Irã): através dela surgiu a escrita cuneiforme;
b) Pedra de Roseta: que foi o ponto chave para decifrar os hieróglifos egípcios;
c) Pedra Moabita: escrita por Mesa, rei de Moabe (850 a.C.), conforme II Reis 3.4.
Na Mesopotâmia, onde a argila era abundante, era costume preparar pequenos tijolos ou tabletes de argila úmida e escrever neles a mensagem com uma varinha em forma de cunha, cozendo-os em seguida (escrita cuneiforme).
Para registrar de forma permanente coisas importantes como uma narrativa de uma grande vitória, erguia-se uma coluna de pedra e o texto era esculpido em sua superfície. Os faraós egípcios erigiram muitas destas pedras, que se chamavam estelas ou obeliscos, comemorando assim as suas vitórias. Talvez aí esteja uma boa explicação para Moisés gravar os 10 Mandamentos numa pedra.
Também havia as cerâmicas, que existiam em grande quantidade e eram muito quebradiças e alguns utilizavam os cacos para escrever em suas próprias superfícies.
VIII. A PRODUÇÃO DO ANTIGO TESTAMENTO
A ESTRUTURA
Estudaremos neste ponto um resumo da estrutura da Bíblia quanto a sua composição em partes principais, livros, classificação dos livros por assuntos, divisão dos livros em capítulos e versículos, e certas particularidades indispensáveis.
1. Divisão em partes principais. São duas: Antigo e Novo Testamento. O AT é três vezes mais volumoso do que NT.
2.Composição quanto a livros. São 66 ,sendo 39 no AT e 27 no NT. O maior livro é o dos Salmos; o menor é III João.
3.Divisão em capítulos. São 1.189, sendo 929 no AT e 260 no NT. O maior capítulo é o Salmo 119; e o menor é o Salmo 117.
Para ler A Bíblia toda em um ano basta ler % capítulos aos domingos e 3 nos demais dias da semana. Foi dividida em capítulo em 1250 AD por Hugo de Saint Cher, abade dominicano, estudioso das Escrituras.
4. Divisão em versículos. São 31.173, sendo 23.214 no AT e 7.959 no NT O maior versículo está em Ester 8.9 e o menor em Êxodo 20.13,na ARC; em Lucas 20.30 na TR BR; em Jó 3.2 na ARA. Como se vê, depende da Versão. Noutras línguas varia também. Isso não tem muita importância. Foi dividida em versículos em duas etapas: AT em 1445 pelo Rabi de Paris. Stevens publicou a primeira Bíblia dividida em capítulos e versículos em 1555, sendo esta aVulgata Latina. Em inúmeros casos, essas divisões são inexatas, bipartindo o texto e alterando a linha do pensamento. São utilíssimas na localização de qualquer fração do texto.
5. Classificação dos livros. Os 66 livros estão classificados ou agrupados por assuntos, sem ordem cronológica. É bom ter isso em mente ao estudar A Bíblia, pois evitará muita mal entendido, especialmente na esfera da história, da profecia bíblica e no desenvolvimento da doutrina.
A classificação dos livros do AT, por assuntos, acima, vem da ordem cronológica dos mesmos, o que para o leitor menos avisados, dá lugar a não poucas confusões quando o mesmo procura agrupar os assuntos cronologicamente.
O Antigo Testamento. Seus trinta e nove livros estão divididos em quatro classes:
LEI, HISTÓRIA, POESIA, PROFECIA.
Os livros de cada classe são os seguintes.
- LEI : 5 livros - de Gênesis a Deuteronômio esses cinco livros são chamados Pentateuco. Tratam da criação e da LEI.
- HISTÓRIA: 12 livros - de Josué a Ester . Contém a história do povo escolhido: Israel .
- POESIA: 5 livros - de Jó a Cantares. São chamados poéticos devido ao gênero do seu conteúdo e não por outra razão.
- PROFECIA - 17 livros - de Isaías a Malaquias. Esses 17 livros estão subdivididos em dois grupos:
-Profetas Maiores : 5 livros, de Isaías a Daniel.
-Profetas Menores: 12 livros, de Oseias a Malaquias.
Os nomes maiores "maiores e menores" referem-se ao volume de matéria dos livros e extensão do ministério profético. Na Bíblia hebraica (o nosso Antigo testamento), a divisão dos livros é bem diferentes como já falamos.
IX. A MENSAGEM DO ANTIGO TESTAMENTO
1.Como os primeiros cristãos viam ó Antigo Testamento. Estes o aceitavam como a inspirada palavra de deus (2 Tm. 3.16). por isto, tanto eles como os Judeus tudo fizeram para preservá-lo, e largamente o utilizavam na evangelização (At. 17.2, 3; 24.14; 26.22)
2. O cumprimento do Antigo Testamento em Jesus. O senhor Jesus nos afirmou: “examinai as escrituras, por que vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam” (Jo. 5,39). Referia-se Ele , é claro, ao Antigo Testamento – a única escritura sagrada daquela época; pois os livrs do Novo Testamento começaram a ser produzidos cerca de vinte anos depois.
Aliás, o próprio Jesus afirmava ser o cumprimento das Escrituras do Antigo Testamento (Lc. 4. 16 E, chegando a Nazaré, onde fora criado, entrou num dia de sábado, segundo o seu costume, na sinagoga, e levantou-se para ler.17 E foi-lhe dado o livro do profeta Isaías; e, quando abriu o livro, achou o lugar em que estava escrito:18 O Espírito do Senhor é sobre mim, Pois que me ungiu para evangelizar os pobres. Enviou-me a curar os quebrantados do coração,19 A pregar liberdade aos cativos, E restauração da vista aos cegos, A pôr em liberdade os oprimidos, A anunciar o ano aceitável do SENHOR.20 E, cerrando o livro, e tornando-o a dar ao ministro, assentou-se; e os olhos de todos na sinagoga estavam fitos nele.21 Então começou a dizer-lhes: Hoje se cumpriu esta Escritura em vossos ouvidos.22 E todos lhe davam testemunho, e se maravilhavam das palavras de graça que saíam da sua boca; e diziam: Não é este o filho de José?23 E ele lhes disse: Sem dúvida me direis este provérbio: Médico, cura-te a ti mesmo; faze também aqui na tua pátria tudo que ouvimos ter sido feito em Cafarnaum.24 E disse: Em verdade vos digo que nenhum profeta é bem recebido na sua pátria.25 Em verdade vos digo que muitas viúvas existiam em Israel nos dias de Elias, quando o céu se cerrou por três anos e seis meses, de sorte que em toda a terra houve grande fome;26 E a nenhuma delas foi enviado Elias, senão a Sarepta de Sidom, a uma mulher viúva.27 E muitos leprosos havia em Israel no tempo do profeta Eliseu, e nenhum deles foi purificado, senão Naamã, o sírio.
44 E pregava nas sinagogas da Galiléia.)
X. Resumo
A Bíblia
A palavra “bíblia” é derivada do latim, proveniente da palavra grega biblia (livros), que diz respeito especificamente aos livros que são reconhecidos como canônicos pela Igreja cristã. Nesse sentido, acredita-se estar o uso cristão mais antigo da expressão ta bíblia (os livros) na epístola de 2 Clemente 2.14 (c. 150 d.C.); “Os livros e os apóstolos declaram que a Igreja... existe desde o princípio” (compare Dn. 9.2: ‘Eu, Daniel, entendi pelos livros...”, cuja referência é ao corpus dos escritos proféticos do Antigo Testamento). O vocábulo grego biblion (do qual bíblia é o plural) é o diminutivo de biblos, que na prática denota qualquer tipo de documento escrito, mas originalmente aquele que foi escrito em papiro.
Um termo sinônimo de “a Bíblia” é “os escritos” ou “as Escrituras” (em grego hai graphai, ta grammata), freqüentemente usado no Novo Testamento para designar, no todo ou em parte, os documentos do Antigo Testamento. Por Exemplo, Mateus 21.42 diz: “Nunca lestes nas Escrituras?” (em tais graphais). A passagem paralela, Marcos 12.10, traz o singular, referindo-se ao particular texto citado: “Ainda não lestes estas Escrituras?” (ten graphen tauten). Em 2 Timóteo 3.15, temos “as sagradas letras” (ta hiera grammata), e o versículo seguinte (ARA) diz: “Toda Escritura é inspirada por Deus” (pasa graphe theopneutos). Em 2 Pedro 3.16, “todas” as epístolas de Paulo são incluídas junto com “as outras Escrituras” (tas loipas graphas), as quais presumem-se que sejam os escritos do Antigo Testamente e provavelmente os evangelhos também.
Conteúdo e Autoridade
Entre os cristãos para quem os Antigos e o Novo Testamento juntos constituem a Bíblia, não há pleno acordo quanto ao seu conteúdo. Algumas ramificações da igreja siríaca não incluem no Novo Testamento as epístolas de 2 Pedro, 2 e 3 João, Judas e Apocalipse. Além dos livros que formam a Bíblia hebraica, as comunidades Católicas Romanas e Ortodoxas Gregas inserem vários outros no Antigo Testamento. Esses livros adicionais fazem parte da Septuaginta cristã.
Embora sejam incluídos na completa Bíblia inglesa protestante, juntamente com um ou dois outros livros, a Igreja da Inglaterra (como a Igreja Luterana) segue Jerônimo ao sustentar que tais livros podem ser lidos “como exemplos de vida e instrução de costumes, ainda que não se apliquem para estabelecer qualquer doutrina” (Artigo VI). As outras igrejas da Reforma não conferem nenhum status canônico a esses livros. A Bíblia etiópica inclui 1 Enoque e o Livro dos Jubileus.
Nas comunidades romanas, gregas e outras igualmente antigas, a Bíblia, junto com a tradição viva da Igreja, considerada em certo sentido, constituem a autoridade máxima. Por outro lado, nas igrejas da Reforma, somente a Bíblia é a última corte de apelação em assuntos doutrinários e práticos. Assim, o Artigo VI da Igreja da Inglaterra, afirma: “A Sagrada Escritura contém todas as coisas necessárias para a salvação; de modo que tudo que não seja encontrado nela, ou que não possa ser provado por esse meio, não deve ser exigido de quem quer que seja, a fim de que deva ser crido como artigo de fé, ou ser considerado como requisito ou algo necessário à salvação”. Para os mesmos efeitos, a Confissão de Fé de Westminster (1.2) alista os 39 livros do Antigo Testamento e os 27 do Novo como “todos os livros... dados por inspiração de Deus, para servirem de regra de fé e vida”.
Os Dois Testamentos
A palavra “testamento”, nas designações “Antigo Testamento” e “Novo Testamento”, para as duas divisões da Bíblia, remonta através do latim testamentum ao termo grego diathéke, o qual na maioria das suas ocorrências na Bíblia grega significa “concerto” em vez de “testamento”. Em Jeremias 31.31, foi profetizado um novo concerto que iria substituir aquele que Deus fez com Israel no deserto (cf. Êx 24.7,8). “Dizendo novo concerto, envelheceu o primeiro” (Hb 8.13). Os escritores do Novo Testamento vêem o cumprimento da profecia do novo concerto na nova ordem inaugurada pela obra de Cristo. Suas próprias palavras ao instituir esse concerto (1 Co 11.25) dão autoridade a esta interpretação. Portanto, os livros do Antigo Testamento são assim chamados por causa de sua estreita associação com a história do “antigo concerto”. E os livros do Novo Testamente são desse modo designados porque se tratam dos documentos do estabelecimento do “novo concerto”. Uma semelhança ao nosso uso comum do termo “Antigo Testamento” encontra-se em 2 Coríntios 3.14: “Na lição do Velho Testamento”, embora Paulo provavelmente queria aludir à lei, a base do antigo concerto, em vez de todo o volume da Escritura hebraica. Os termos “Antigo Testamento” e “Novo Testamento”, nomeados para as duas coleções de livros, entraram no uso geral entre os cristãos na última parte do século II. Tertuliano traduziu diathéke para o latim por instrumentum (um documento legal) e também por testamentum. Infelizmente, foi a última palavra que vingou, considerando-se que as duas partes da Bíblia não são “testamentos” no sentido ordinário do termo.
O Antigo Testamento
Na Bíblia hebraica, os livros estão dispostos em três divisões: a Lei, os Profetas e os Escritos. A Lei abrange o Pentateuco, os cinco “livros de Moisés”. Os Profetas desdobram-se em duas subdivisões: os “Primeiros Profetas”, compreendendo Josué, Juízes, Samuel e Reis; e os “Últimos Profetas”, abarcando Isaías, Jeremias, Ezequiel, e “O Livro dos Doze Profetas”. Os Escritos contêm o restante dos livros: primeiro, Salmos, Provérbios e Jó; depois, os cinco “Rolos”, a saber, Cantares de Salomão, Rute, Lamentações de Jeremias, Eclesiastes e Ester; e, finalmente, Daniel, Esdras-Neemias e Crônicas. O total é tradicionalmente computado em 24, mas esses 24 correspondem exatamente ao nosso cômputo comum de 39, visto que no último cálculo os Profetas Menores são contados como 12 livros, e Samuel, Reis, Crônicas e Esdras-Neemias, como dois livros cada. Na Antiguidade, havia outras maneiras de contar os mesmos 24 livros. Em uma dessas maneiras (atestada por Josefo), o total descia para 22; em outra (conhecida por Jerônimo), subia para 27.
A origem da organização dos livros na Bíblia hebraica não pode ser rastreada. Acredita-se que a divisão em três partes corresponda às três etapas nas quais os livros receberam reconhecimento canônico, mas não há evidências diretas sobre isso.
Na Septuaginta, os livros estão arranjados de acordo com a similaridade de assuntos. O Pentateuco é seguido pelos livros históricos, que são sucedidos pelos livros poéticos e sapienciais, vindo por último os livros proféticos. É essa ordem que, em suas características essenciais, foi perpetuada (via Vulgata) na maioria das edições cristãs da Bíblia. Em certos aspetos, essa seqüência é mais condizente com a ordem cronológica dos conteúdos da narrativa do que com a da Bíblia Hebraica. Rute, por exemplo, aparece imediatamente depois de Juízes (visto que relata fatos ocorridos “nos dias em que os juízes julgavam”), e o trabalho do cronista aparece na seqüência Crônicas-Esdras-Neemias.
A divisão em três partes da Bíblia hebraica está refletida na redação de Lucas 24.44 (“na Lei de Moisés, e nos Profetas, e nos Salmos”). Mais comumente, o Novo Testamento refere-se à “Lei e os Profetas” (vide Mt 7.12) OU A “Moisés e os Profetas” (vide Lc 16.29).
A revelação divina desses registros do Antigo Testamento foi transmitida de duas maneiras principais – por obras poderosas e por palavras proféticas. Esses dois modos de revelação estão ligados indissoluvelmente entre si. Os atos de misericórdia e julgamento, pelos quais o Deus de Israel se fez conhecido ao povo do seu concerto, não teriam transmitido sua mensagem apropriada se não tivessem sido interpretadas pelos profetas – os “porta-vozes” de Deus, que receberam e comunicaram sua Palavra. Por exemplo, os acontecimentos do Êxodo não teriam adquirido seu permanente significado para os israelitas se Moisés não lhes tivesse dito que, por meio desses acontecimentos, o Deus de seus pais estavam agindo para libertá-los, de acordo com suas antigas promessas, de modo que eles podiam ser o seu povo e Ele, o seu Deus. Por outro lado, as palavras de Moisés teriam sido infrutíferas se não estivessem associadas à indicação do povo nos acontecimentos do Êxodo. Semelhantemente, podemos comparar a atuação significativa de Samuel na época da ameaça filistéia, no tempo dos grandes profetas do século VIII a.C., quando a Assíria vencia espetacularmente tudo o que havia pela frente, aos dias de Jeremias e Ezequiel, quando o reino de Judá deixou de existir, e assim por diante.
Essa interação de obras poderosas e palavras proféticas no Antigo Testamento explica por que a história e a profecia estão tão interligadas uma com a outra ao longo de todas as suas páginas. Não há o que duvidar que foi alguma percepção a esse respeito que levou os judeus a incluírem os principais livros históricos entre os Profetas. Mas, de fato, não apenas os escritos do Antigo Testamento registram ao mesmo tempo a resposta dos homens à revelação de Deus – uma resposta às vezes obediente, mas na grande maioria das vezes desobediente. No registro da resposta daqueles a quem veio a palavra de Deus no Antigo Testamento, o Novo Testamento proporciona instruções práticas para os cristãos. Sobre a rebelião dos israelitas no deserto e os eventos desastrosos que se seguiram, Paulo escreve: “Ora, tudo isso lhes sobreveio como figuras [exemplos], e estão escritas para aviso nosso, para quem já são chegados os fins dos séculos” (1 Co 10.11).
Com relação ao seu lugar na Bíblia cristã, o Antigo Testamento, em essência, é introdutório: o que Deus antigamente falou aos pais pelos profetas esperou por seu cumprimento naquilo que nos foi falado pelo Filho (Hb 2.1,2). Não obstante, nos primeiríssimos dias do Cristianismo, o Antigo Testamento era a Bíblia que os apóstolos e outros pregadores do Evangelho levavam consigo quando saíam para proclamar Jesus como o Messias, o Senhor e Salvador divinamente enviado: encontraram em suas páginas testemunho claro sobre Jesus (Jó 5.39) e uma descrição natural do modo de salvação mediante a fé nEle (Rm 3.21; 2 Tm 3.15). Para usar o Antigo Testamento, tinham a autoridade e o exemplo do próprio Jesus. E, desde então, a Igreja sempre tem obtido sucesso, quando segue o precedente estabelecido por Ele e seus apóstolos e reconhece o Antigo Testamento como Escritura cristã. “O que era indispensável para o Redentor, sempre deve ser indispensável para os redimidos” (G. A. Smith).
O Novo Testamento
O Novo Testamento está para o Antigo Testamento na mesma proporção que o cumprimento está para a promessa. Se o Antigo Testamento registra o que Deus falou no passado aos nossos pais pelos profetas, o Novo Testamento registra a palavra final que Ele falou por seu Filho, e em quem todas as mais antigas revelações foram resumidas, confirmadas e transcendidas. As obras poderosas da revelação do Antigo Testamento culminam na obra redentora de Cristo. As palavras dos profetas do Antigo Testamento recebem seu pleno cumprimento nEle. Mas Ele não é apenas a coroa da revelação de Deus aos homens; é também a resposta perfeita do homem a Deus – o apóstolo e sumo sacerdote da nossa confissão (Hb 3.1). Se o Antigo Testamento registra o testemunho daqueles que viram o dia de Jesus antes que começasse, o Novo Testamento registra o testemunho daqueles que o viram e o ouviram nos dias da sua carne, e que vieram a conhecer e proclamaram com maior profundidade o significado da sua vinda, pelo poder do seu Espírito, depois que ressuscitara dos mortos.
Nos últimos 1.600 anos, o Novo Testamento tem sido aceito pela grande maioria dos cristãos como tendo 27 livros, dispostos naturalmente em quatro divisões: (1) os quatro evangelhos, (2) os Atos dos Apóstolos, (3) as 21 cartas escritas pelos apóstolos e “homens apostólicos”, e (4) o Apocalipse. Essa ordem não é apenas lógica, mas quase cronológica, à medida que se leva em conta os assuntos expostos nos documentos. Contudo, não há correspondência com a ordem em que foram escritos.
Os primeiros documentos do Novo Testamento a serem escritos foram as primeiras epístolas de Paulo. Estas (junto, possivelmente, com a epístola de Tiago) foram compostas entre 48 e 60 d.C., antes mesmo que o mais antigo dos Evangelhos fosse escrito. Os quatro evangelhos pertencem às décadas entre 60 e 100 d.C., e é também a esse período que se atribui todos (ou quase todos) os outros escritos do Novo Testamento. Enquanto a composição dos livros do Antigo Testamento se estendeu por um período de mil anos ou mais, os livros do Novo Testamento foram escritos em menos de um século.
Os escritos neotestamentários não foram reunidos na forma como hoje o conhecemos, imediatamente após terem sido escritos. Em princípio, cada um dos evangelhos teve uma existência local e independente nas respectivas comunidades para as quais originalmente cada um foi composto. Entretanto, pelo início do século II, foram reunidos e começaram a circular como um registro quádruplo. Quando isso aconteceu, Atos foi separado de Lucas, com o qual fazia uma obra em dois volumes, e lançado em uma carreira solo, mas não desprovida de sua própria importância.
As epístolas de Paulo foram primeiramente preservadas pelas comunidades ou indivíduos aos quais foram enviadas. Mas encontramos evidência que, pelo fim do século I, sugerem que sua subsistente correspondência começou a ser reunida em um corpus paulino, o qual rapidamente passou a circular entre as igrejas – primeiro, como um corpus mais curto composto de dez epístolas e, logo a seguir, um maior, compreendendo 13 epístolas, aumentando pela inclusão das três epístolas pastorais. Dentro do corpus paulino, as epístolas parecem ter sido organizadas não em sua seqüência cronológica, mas na ordem decrescente em termos de tamanho. Esse princípio ainda hoje pode ser reconhecido na ordem encontrada na maioria das edições do Novo Testamento: as epístolas às igrejas vêm antes das epístolas pessoais, e dentro destas duas subdivisões estão arranjadas de maneira que as mais longas vêm por primeiro e as mais curtas por último (a única exceção a esse esquema é Gálatas, que vem antes de Efésios, embora Efésios seja a epístola ligeiramente mais longa entre as duas).
Com a reunião dos evangelhos e o corpus paulino, e servindo Atos como elo de ligação entre os dois, temos o início do cânon do Novo Testamento como hoje o conhecemos. A Igreja Primitiva, que herdou a Bíblia hebraica (ou a versão grega da Septuaginta) como Escrituras Sagradas, não tardou em colocar os novos escritos evangélicos e apostólicos ao lado da Lei e dos Profetas e usá-los para a propagação e defesa do Evangelho e no culto cristão. Desse modo, Justino Mártir, em meados do século II, descreve como os cristãos, em suas reuniões dominicais, liam “as memórias dos apóstolos ou os escritos dos profetas” (Apologia 1.67). Foi natural, então, que quando o Cristianismo se espalhou entre os povos que falavam outros idiomas que não o grego, o Novo Testamento fosse traduzido do grego para aquelas línguas, em benefício dos novos convertidos. Por volta de 200 d.C., já havia versões latinas e siríacas do Novo Testamento e, no século que se seguiu, existia uma versão cóptica.
A Mensagem da Bíblia
A Bíblia tem desempenhado, e continua a desempenhar uma função extraordinária na história da civilização. Muitas línguas foram postas pela primeira vez na forma escrita para que a Bíblia, no todo ou em parte, pudesse ser traduzida para essas línguas. E isso não é senão uma pequena amostra da missão civilizadora da Bíblia no mundo.
Essa missão civilizadora é o efeito direto da mensagem central da Bíblia. Pode parecer surpreendente que se fale em uma mensagem central numa coleção de escritos que reflete a história da civilização no Oriente Próximo ao longo de alguns milênios. Mas há uma mensagem central, e é o reconhecimento desse fato que tem levado a Bíblia a ser tratada comumente como um livro, e não como uma coleção de livros – assim como a palavra grega plural bíblia (“livros”) tornou-se no termo latino singular bíblia (“o livro”).
A mensagem central da Bíblia é a história da salvação e, ao longo de ambos os Testamentos, podem ser distinguidos três elementos comuns nessa história reveladora: aquEle que traz a salvação, o meio de salvação e os herdeiros da salvação. Isso poderia ser reformulado sob o aspecto da idéia do concerto, dizendo que a mensagem central da Bíblia é o concerto de Deus com os homens e que os elementos comuns são: o Mediador do concerto, a base do concerto e o povo do concerto. Deus mesmo é o Salvador do seu povo; é Ele que confirma seu concerto de misericórdia com o povo. Quem traz a salvação, o Mediador do concerto, é Jesus Cristo, o Filho de Deus. O meio de salvação, a base do concerto, é a graça de Deus, que exige de seu povo uma resposta de fé e obediência. Os herdeiros da salvação, o povo do concerto, são o Israel de Deus, a Igreja de Deus.
A continuidade do povo do concerto, proveniente do Antigo Testamento para o Novo, está oculta para o leitor comum da Bíblia em português, porque “igreja” é uma palavra exclusiva do Novo Testamento e, naturalmente, esse leitor considera que isso é algo que começou no período do Novo Testamento. Mas o leitor da Bíblia grega não foi confrontado por nenhuma palavra nova quando achou ekklesia no Novo Testamento. Já a havia encontrado na Septuaginta como uma das palavras usadas para indicar Israel como a “congregação” do povo do Senhor. Certamente há um novo e mais profundo significado no Novo Testamento. O povo do antigo concerto teve de morrer com Ele, a fim de ser ressuscitado com Ele para uma nova vida – uma nova vida na qual as restrições nacionais haviam desaparecido. Jesus fornece em si mesmo a continuidade vital entre o antigo e o novo Israel, e seus seguidores fiéis são não apenas o remanescente justo do antigo Israel, mas também o núcleo do novo. O Servo do Senhor e seus servos unem os dois Testamentos num só.
A mensagem da Bíblia é a mensagem de Deus para o homem, comunicada “muitas vezes e de muitas maneiras” (Hb 1.1) e finalmente encarnada em Jesus. Por conseguinte, “a autoridade da Santa Escritura, a qual deve ser crida e obedecida, não depende do testemunho de algum homem ou igreja, mas inteiramente de Deus (que é a própria verdade), e seu autor; e, portanto, deve ser recebida, porque é a Palavra de Deus” (Confissão de Fé de Westminster, 1.4).
A FORMAÇÃO DO ANTIGO TESTAMENTO
I. Introdução
Antes de iniciar qualquer tipo de comentário é necessário explicar o que significa a palavra testamento. Testamento deriva do latim testamentum que é a tradução do hebraico bêrith (~yrB) - aliança e do grego diathêkê (diaqhkh - última vontade e testamento) - aliança, pacto, concerto e isto se liga à idéia da aliança feita por Iavé com Abraão e seus descendentes.
De acordo com o dicionário da língua portuguesa, a palavra testamento é uma declaração autêntica, através da qual alguém dispõe de seus bens, distribuindo-os em benefício de outrem, para depois de sua morte.
Ao realizar no período relativo aos escritos do NT, a nova aliança, a expressão AT passou a se referir aos tempos anteriores ao de Cristo.
Há vários pontos de vista, ou melhor, várias teorias sobre a origem do AT. O maior problema é que não se tem acesso aos originais dos vários livros das Escrituras hebraicas, se é que podem ser chamados de originais, já que são cópias de cópias. As cópias que se têm acesso não chegam a mil anos da data em que foram compostas e as que são utilizadas são os mais antigos manuscritos hebraicos e aramaicos que se têm disponíveis.
O texto do AT foi transmitido ao longo dos séculos sob a forma de manuscritos. Durante este longo período, é lógico que muitos erros de transcrição foram cometidos. De acordo com as diversas tradições o texto foi objeto de muitas mudanças e acréscimos. Mas foi por volta do século 1º que surgiu a preocupação de conservar o texto numa forma única e pura, por isso existem tantas outras formas de texto.
O texto que se tornou oficial no fim do século 1º foi o Texto Massorético (TM), que é fruto do trabalho dos massoretas e dos seus antepassados. Os massoretas utilizaram o texto hebraico já em uso, antes do seu tempo. Entretanto o que passou a conter os sinais dos massoretas (sinais massorético) tornou-se o escolhido entre os outros.
O objetivo desta série de «Estudos Bíblicos» é introduzir leitores, além do círculo de teólogos profissionais, na pesquisa científica do Antigo e Novo Testamentos e animá-los a continuar o próprio estudo da Bíblia. A série é constituída principalmente de interpretações cuidadosas de textos escolhidos. A par destas publicamos a presente breve exposição da história de formação do Antigo Testamento conforme é vista pela disciplina veterotestamentária atual. Procura mostrar que o Antigo Testamento cresceu através de uma longa história e que, no decurso desta formação, se reflete a história de Israel a qual foi entendida por ele mesmo como a história do agir de Deus com seu povo.
A base desta exposição forma uma série de artigos publicados, durante o ano de 1955 no semanário «Sonntagsblatt», editado por Hanns Lilje, bispo luterano de Hannover. Foi conservada a forma de parágrafos com temas acabados, enquanto que o texto foi apenas ligeiramente modificado em algumas passagens; no fim acrescentou-se um epílogo e um índice literário.
II. DA LITERATURA DE ISRAEL
O Antigo Testamento é parte integrante de nossa Bíblia cristã. Justamente nos últimos anos ressurgiu mais e mais do esquecimento e tornou a assumir seu lugar incontestado na pregação.
É, todavia, sempre um segmento reduzido do grande todo do Antigo Testamento que se nos apresenta. E quem procura penetrar mais profundamente neste livro e lê, inclusive, trechos maiores do Antigo Testamento, este encontrará sempre novas dificuldades no caminho. Essas são, muitas vezes, de caráter externo. Simplesmente não compreendemos muitas coisas, esbarramos diante de contradições, ou seja, fatos que nós cristãos achamos estranhos.
Temos, por exemplo., logo no início, dois relatos diferentes sobre a criação. O leitor ingênuo imediatamente nota que eles não se completam, mas contêm duas exposições diferentes do processo da criação do mundo. O primeiro relato é bem sistemático na seqüência das obras dos sete dias. (Compreende o trecho do capítulo 1 até a primeira frase do capítulo 2, vers. 4, que forma a infrassinatura final). De acordo com este, tudo se originou aos poucos do nada caótico mediante a vontade criativa e ordenadora de Deus Criador, a começar dos elementos inânimes, ascendendo pelo reino vegetal e animal até o homem. A obra do Criador, nesse processo, é representada, exclusivamente, por sua palavra eficaz e vivificante.
Bem diferente é o outro relato. (Começa no capítulo 2, vers. 4, com as palavras: «Quando o Senhor Deus criou céu e terra...»). Aqui o estado caótico primitivo não é a água, mas a seca. No princípio da criação está o homem. Em seu redor é criado, somente então, o reino vegetal e o reino animal que o cerca. Contudo, esse relato é muito mais ingênuo e plástico, representando, p. ex., a atividade criadora de Deus como a do oleiro que forma um vaso de barro. E em todo este conjunto é visado, exclusivamente, o espaço vital imediato do homem.
Aqui foram, evidentemente, coordenados dois relatos diferentes sobre a criação, originalmente separados. Originaram-se de tempos e autores diferentes que com respeito à criação foram movidos por interesses bem diferentes.
Já este exemplo nos pode mostrar que no caso do Antigo Testamento temos diante de nós um livro que cresceu paulatinamente. Em sua forma atual constitui o resultado de uma longa história. Foi chamado, certa vez, de «O livro que cresceu durante mil anos». Nele encontramos reunidos os testemunhos de fé do povo de Israel procedentes de muitos séculos.
Em cada geração se levantaram de forma nova as perguntas que resultaram da fé de Israel em um só Deus e seu agir na história com seu povo. Tudo isso se documentou, nas mais diversas formas, nos textos que agora estão reunidos no Antigo Testamento.
O início deste processo de crescimento forma a palavra falada e transmitida oralmente. As histórias vivas e coloridas dos patriarcas, p. ex., foram, com certeza, contadas e recontadas através de muitas gerações antes de serem fixadas por escrito. Neste transcurso, naturalmente, também alteraram, amiúde, suas formas, acederam-se novos traços característicos e outros perderam sua importância para uma geração nova. Ou ainda, vejamos as palavras dos profetas: Foram pronunciadas em uma determinada situação histórica e depois transmitidas, também, oralmente antes de terem alcançado sua forma literária final.
Bem semelhante foi também o que sucedeu com os textos restantes do Antigo Testamento. E somente aos poucos formaram-se mais tarde coleções menores ou maiores de textos congêneres, relacionados entre si por sua espécie ou sua origem. O resultado final desta história movimentada são os diversos «livros» do Antigo Testamento na forma como atualmente os encontramos na Bíblia.
A história do Antigo Testamento se estende pelo tempo desde a imigração dos israelitas na Palestina, desde o século 13 a. C., portanto, até os últimos séculos antes da era cristã.
As partes mais antigas são, freqüentemente, cânticos ou ditos que facilmente se gravavam na memória e, por isso, se conservavam vivos por muito tempo. Um exemplo é a «canção da vitória» de Miriam, em Êx 15, 21, que canta a destruição dos egípcios no mar; outra é a canção de Lameque, em Gn 4, 23-24, uma «fanfarronada» que fala de cruel vingança de morte; ou a «canção do poceiro» em Nm 21, 17-18, que se deve imaginar cantada durante o trabalho de cavar um poço. Mas também canções mais extensas, como p. ex. a magnífica canção de Débora em Jz 5, pertencem a um tempo muito remoto.
Material de tradição muito antigo conservou-se, igualmente, na forma do provérbio folclórico como vive em toda parte do mundo. Citam-se tais provérbios diversas vezes (p. ex. I Sa 24, 14; Ez 16, 44), e ainda em muitas outras passagens podem ser descobertos, facilmente, durante a leitura. O falar em breves ditos foi especialmente cultivado no Antigo Israel, talvez na hora do lazer quando se reuniram depois da faina diária no lugar junto ao portão. Foi evoluído até a altura de uma verdadeira arte, cultivada na corte real, conforme relatam notícias do tempo de Salomão (I Rs 5, 11-12).
Já em tempos antigos passou-se a colecionar estes ditos e cânticos. Prova disso são algumas passagens em que se citam tais coleções, das quais, porém, nada a mais sabemos. Assim é mencionado em Js 10, 13 e II Sm 1, 18 o «livro do valente», e em Nm. 2, 14 o «livro das guerras de Javé».
Mas também circulavam contos desde os tempos mais antigos. Exatamente como em outros povos, trata-se, sobretudo, de «sagas» (lendas) que falam dos acontecimentos e vultos da história primitiva de Israel. O termo «saga» expressa que esta não é motivada por interesse histórico, querendo fixar exatamente a seqüência dos eventos, mas, sim, apresenta em cores vivas o que é o característico daquele tempo e dos respectivos personagens, conforme se conservou vivo na consciência do povo. Por isso, essas sagas são mais do que simples contos do que passou. Nelas tudo isso está presente como parte integrante da própria história daqueles que as narram e ouvem. Reconhecem, naquilo que Abraão, Jacó e Moisés passaram, uma representação de suas próprias experiências que tiveram e ainda têm. Porque Israel entende sua história sempre como história com Deus. E assim como Ele agiu com os patriarcas, livrou a geração posterior do Egito e a levou para a terra prometida, assim está agindo em todos os tempos com seu povo. Deste modo, estas sagas alcançam, com toda sua vivacidade narrativa, muitas vezes, uma profundidade transcendental da profissão de fé.
Uma historiografia regular existiu em Israel desde o tempo de Davi, aproximadamente. Ocupa-se, principalmente, com acontecimentos políticos. Assim acham-se descritos, em Samuel, a origem do reinado e a ascendência de Davi; no II livro de Samuel trata-se da consolidação e da expansão de seu reino e dos enredos resultantes do problema de sucessão no trono. Os livros dos Reis apresentam, a seguir, o governo de Salomão como o último período glorioso do Reino Unido, bem como a divisão em um Reino do Norte e um Reino do Sul e a queda paulatina até o fim total da existência política independente do povo de Israel.
As sagas do Antigo Testamento têm muitas vezes uma intenção explicativa específica. Fala-se, nesse caso, de sagas etiológicas (do grego aitia, causa). Assim, p. ex.: a narração da queda dos primeiros homens quer explicar a origem das perturbações na vida humana. A sinistra inimizade mortal entre o homem e a serpente, os incômodos de maternidade da mulher, aliás em tensão misteriosa com sua inclinação para o marido, e, enfim, a fadiga do trabalho do homem são as conseqüências da primeira desobediência do homem para com Deus (Gn 3, 14-19). A narrativa da construção da torre de Babel (Gn 11) responde à pergunta como explicar a divisão da humanidade em uma pluralidade de povos com línguas tão diferentes. Outras sagas etiológicas explicam a peculiaridade de tribos e povos, conhecidos a Israel por serem seus vizinhos. A posição subalterna do resto dos aborígenes cananitas é explicada como conseqüência de uma falta grave do pai de Canaã (Gn 9, 25). A natureza selvagem e agressiva do povo beduíno, dos ismaelitas, na saga é explicada com o comportamento revoltoso de sua mãe, Hagar (Gn 16, 12), etc.
Freqüentemente essas sagas etiológicas também querem explicar determinados nomes. Para este fim, servem trocadilhos de palavras hebraicas, dificilmente traduzíveis para o vernáculo. O nome Isaque, em hebraico, tem uma afinidade com a palavra «rir» (Gn 21, 6); o nome de Jacó, com as palavras «calcanhar» (Gn 25, 26) e «enganar» (Gn 27, 36); o nome de Israel é interpretado por «lutador com Deus» (Gn 32, 28). Tais etiologias encontram-se a cada passo e mostram a intenção destas sagas em interpretar e compreender seu passado particular.
Uma forma especial de sagas etiológicas constituem os textos que tencionam explicar a santidade de um lugar. Assim exclama Jacó, após o sonho da escada ao céu: «Quão temível é este lugar! Aqui é a casa de Deus (Bet-EI)!» e erigiu lá um santuário cultual (Gn 28, 17 ss.). Por esta aparição da divindade em sonho, portanto, o lugar é sagrado. Casos semelhantes são os lugares cultuais em Manre, onde três homens aparecem a Abraão (Gn 18), e Peniel, onde Jacó teve que travar uma luta noturna (Gn 32, 25 ss).
Já em tempos mais remotos, formaram-se de várias sagas individuais, que tratam das mesmas pessoas, «ciclos de sagas». Assim foram contadas as ocorrências que sucederam entre Abraão e Ló no seu contexto coerente (Gn 13, 18-19); igualmente existia um ciclo de sagas de Jacó-Esaú, (Gn 25, 19 ss; 27; 33), e outro de Jacó-Labão (Gn 29-31). Nestes dois últimos, pode-se ver, nitidamente, qual o processo que levou a estas coleções maiores. Os dois ciclos que tratam de Jacó, são estreitamente ligados entre si. Embora contivessem material muito heterogêneo, os narradores conseguiram plasmar uma imagem completa da figura de Jacó. Nisto se revela uma arte de contar mais desenvolvida. Sob aspectos literários, quase poderia se chamar este conjunto de «novela». Ainda mais evoluída é a forma artística nas histórias de José. Com todos os traços individuais é reproduzido o destino de José. Contudo, não se trata exclusivamente de José, mas as mais diversas figuras secundárias entram em cena. O resultado é uma contextura artística de vários fios magistralmente entrelaçados pelo narrador.
Além de ditos, cânticos e sagas foram transmitidas, desde os primórdios de Israel, também leis de espécie diversa. Quanto a seu conteúdo, elas são de grande variedade: desde a exigência de dar culto exclusivo a um só Deus, até o regulamento sôbre o dever de restituição em caso de danos causados por um animal; do mandamento de amar o próximo, até as prescrições exatas sôbre o vestuário para os sacerdotes.
Mediante critérios externos e internos podem ser distinguidas, claramente, diversas classes de leis. Em primeiro plano há disposições que começam com «se» e expõem um «caso» com precisão (p. ex. Êx 21, 18 ss.). Essas leis «casuísticas» tratam de casos litigiosos da vida diária e se destinam para o uso na comunidade judicial. Esta se reunia na praça junto ao portão sempre quando era preciso julgar um processo. Juízes profissionais não os havia, mas essa função era exercida pela totalidade dos cidadãos com direito a voto. Para este fim as sentenças de direito que eram transmitidas de geração a geração, formaram um meio importante. Um exemplo vivo na comunidade jurídica dá o capítulo 4 de Rute.
De natureza bem diferente são as sentenças que simplesmente expressam um mandamento ou uma proibição sem quaisquer condições ou restrições: «tu farás» ou «não farás» (p. ex. Êx 20, 2 ss.). Este direito «apodítico» tem sua origem na esfera cultual. Foi recitado em forma solene no culto, provavelmente por ocasião de uma festa particular da renovação da Aliança, que se realizou todos os 7 anos na Festa dos Tabernáculos (Dt 31, 10 ss.). Foi renovada aí a Aliança entre Deus e o povo, estabelecida no monte Sinai. E nesta ocasião foram recitadas as sentenças de direito apodíticas, especialmente o «Decálogo» -- como a manifestação da vontade divina que regia sobre esta Aliança.
O «direito casuístico» é congênere, segundo sua forma e seu conteúdo, ao direito usado em todo o Antigo Oriente; a paralela mais interessante, com correspondências parcialmente literais, oferece o Código babilônico Hamurabi (ca. 1700 a. C.).
O «direito apodítico», ao invés disso, é genuinamente israelita; e somente compreensível da peculiaridade de fé veterotestamentária e pertence a seus elementos mais antigos. Ambos os gêneros de direito se confundem intimamente.
Outra espécie de disposição de direito ocupa-se com questões de culto isoladas. Assim, p. ex., é descrito minuciosamente o ato de sacrifício em forma de rituais (Lv 1-5), são compilados detalhes para o uso pelo sacerdote sobre questões técnicas do sacrifício (Lv 6-7), ou sôbre pureza ou impureza ritual (Lv 11-15). Destes textos hauriu a instrução sacerdotal dos leigos sobre assuntos cultuais. Em geral, porém, são de tempos mais recentes do que as sentenças casuísticas e apodíticas.
As diversas leis são-nos conservadas e transmitidas em uma série de coleções. A mais antiga é o «Livro da Aliança» (Êx. 20, 22 - 23, 19). Reúne em si sentenças de direito apodíticas e casuísticas. O «Deuteronômio» contém, igualmente, muitas sentenças antigas de direito nos capítulos 12-13; mas foram entremeadas e ampliadas por frases explicativas, e, exortativas: aqui a lei é pregada! Uma coleção de espécie semelhante, todavia, com determinações preponderantemente cultuais, representa também a «Lei de Santidade» (Lv 17-26). Sua exigência básica está resumida na sentença: «Santos sereis, porque eu, o Senhor vosso Deus, sou santo» (19, 2). Os capítulos 1-16 de Lv, enfim, reúnem diversas coleções menores de disposições rituais.
O PENTATEUCO
As grandes exposições sintéticas da história do povo de Israel, que encontramos no Antigo Testamento, juntaram-se aos poucos, por um crescimento orgânico, de partes menores e mínimas. O caminho que conduz até a forma atual ainda pode ser delineado distintamente em algumas passagens.
O primeiro complexo maior formam os «5 livros de Moisés» denominados «Pentateuco». Tratam, primeiramente, da história da origem da humanidade (Gn 1-11). Segue a história dos patriarcas (Gn 12-50), que forma a propedêutica da história do povo propriamente dita. Desta história é falado nos livros seguintes. Sua primeira parte decisiva abrange o tempo desde a saída do Egito até a introdução na terra prometida. (Com este último tema a exposição já passa para o livro de Josué. Por esta razão costuma-se resumir, freqüentemente, os primeiros seis livros do Antigo Testamento, chamando-o, de «Hexateuco»).
Esses acontecimentos, a partir da saída do Egito até a conquista da terra prometida, formavam desde os tempos mais remotos o conteúdo capital da confissão que testifica os atos salvívicos de Deus com seu povo.
Isso se expressa em alguns textos que recitam esses acontecimentos em forma de uma Confissão de Fé, de um «Credo». Em Dt 26, 5-9 é mencionada tal Confissão, por ocasião da oferta dos primeiros frutos da terra prometida. Dt 6, 21-23 apresenta um resumo semelhante, também uma espécie de Credo de forma instrutiva, destinada a ser transmitida à geração seguinte. Igualmente o grande discurso em Js 24 é uma tal Confissão, porém formulada com uma fala de Deus dirigida às tribos congregadas.
Este Credo é, por assim dizer, a célula-mater da grande obra que temos hoje em forma do Pentateuco ou Hexateuco. Formou o guia que fez convergir aqueles textos tão diferentes num todo. Os grandes temas do êxodo do Egito, da direção divina do povo durante a migração no deserto e a introdução à terra prometida, aqui já são pré-formados. Foram completados pelas numerosas tradições, vivas em Israel, de maneira tal que se formou uma grande exposição coerente.
A Aliança estabelecida entre Deus e o povo no monte Sinai formou, originalmente, o conteúdo de uma tradição especial. As partes do Credo acima citadas não a mencionam. Esta tradição teve seu lugar assegurado, na Festa da Renovação da Aliança, quando também era proclamado o direito divino apodítico. Daí chegou a ser inserida na exposição global da história desde o êxodo do Egito até a conquista da terra de Canaã, formando sua parte central (Êx 19 até Nm 10).
A história dos patriarcas já foi ligeiramente apontada no antigo Credo (Dt 26, 5), ou até exposta mais amplamente (Js. 24, 2-4). Também neste caso, formou-se das múltiplas tradições uma apresentação coesa que foi colocada no começo como o princípio básico da história de eleição que Deus realizou com o povo de Israel.
Esta história particular de Israel, porém, sobressai da história geral da humanidade. Por isso foi anteposta, a tudo mais, a história da origem. Esta disposição mostra que todo este grandioso esboço aqui originado, não pode ser simplesmente o resultado casual de um processo anônimo de crescimento, mas sim, que é dirigido por pensamentos teológicos bem determinados. Sôbre este ponto é preciso falar mais detalhadamente.
A história do Princípio (Gn 1-11) é apresentada como história do pecado progressivo: após à queda do homem (capítulo 3) segue o fratricídio de Caim (capítulo 4); depois é dito que a maldade dos homens se havia multiplicado a tal ponto que o Senhor se arrependeu de ter feito o homem (capítulo 6, 6); e, afinal, a torre de Babel é uma nova rebelião dos homens contra Deus (capítulo 11). A resposta de Deus a esse pecado dos homens é castigo: a expulsão dos homens do Jardim Éden, a maldição de Caim, o dilúvio, a dispersão da humanidade. Mas com isso ainda não é mencionado o decisivo, porque sempre continua, a par da ação punitiva de Deus, sua ação preservadora: a expulsão do jardim Éden não significa o extermínio
completo dos homens -- pelo contrário, Deus até os veste (Gn 3, 21); no homicida Caim é feito um sinal de proteção, «para que o não ferisse de morte quem quer que o encontrasse» (4, 15); Noé é salvo do dilúvio, e após o dilúvio Deus se compromete a conservar a ordem da natureza (8, 22) ; também após à edificação da tôrre de Babel, a dispersão da humanidade não é a última palavra; mas Deus escolhe para si dentre ela um único, Abraão, para realizar com ele seu plano. Deste modo é estabelecida a conexão entre a história do princípio e a história dos patriarcas.
Se até esta altura, o pensamento condutor foi a graça de Deus, que apesar de pecado e castigo, continua com a última palavra, trata-se agora, na história de Abraão, da promissão divina (capítulo 12-25). A Abraão é dada a promessa da descendência, da posse da terra e da bênção (12, 1 ss e em outra parte). Mas imediatamente depois põe em risco tudo isso pela entrega de Sarai, sua esposa, ao Faraó (12, 10 ss). A seguir, cai no extremo oposto: quando a promissão parece não se cumprir, porque Sarai é estéril, tenta obter por outra via o herdeiro (capítulo 16). Deus, porém, cumpre sua promessa conforme seu propósito: por Isaque, o filho de Sarai (21, 1 ss).
Nas histórias de Jacó (capítulo 25-36) e de José (capítulo 37-50) é falado, de modo diverso, do governo de Deus apesar da culpa e indignidade do próprio portador da promessa (Jacó) ou apesar dos planos mal-intencionados de outros homens (José). Em ambos os casos, isso é expresso de forma quase programática: em Gn 32, 10-13, na oração de Jacó, e (Gn 50, 20, nas palavras de José.
As idéias teológicas diretrizes que, tanto na história do princípio como na história dos patriarcas, em Gênesis, sobressaem claramente, permitem a conclusão de ter sido seu autor aquele que ajuntou as diversas tradições de maneira bem planejada. Este autor é chamado o «Javista». Essa denominação é motivada pelo fato que ele usa permanentemente, em sua apresentação, o nome hebraico de Deus: «Javé» (na versão portuguesa é traduzido por «o Senhor»). Representa ele o teólogo mais antigo por nós conhecido no Israel Primitivo. Provavelmente vivia nos tempos do rei Salomão, quer dizer no século X a.C., aproximadamente.
Além do Javista, ainda outros autores contribuíram para a composição atual das narrações do Pentateuco. Pouco mais novo é o «Eloísta», Ele usa para denominação de Deus a palavra «Elohim», que significa simplesmente «Deus», enquanto que «Javé» é nome próprio que o distingue de outros deuses. Do Eloísta não se conservou uma obra completa, sem omissões; antes, pelo contrário, sua contribuição consiste em forma de suplementos acrescentados à obra Javista. Especialmente típicos são para tal fato os capítulo (Gn 20-22), que são, quase exclusivamente de procedência eloísta. No capítulo 20, o Eloísta rela a traição de Sara por Abraão -- igual ao Javista em 12, 10 ss, mas com a diferença que aqui é o rei Abimeleque de Gerar, em cujas mãos Sarai é entregue, enquanto no capítulo 12 foi o Faraó do Egito, Semelhante narração paralela da expulsão de Hagar acha-se, novamente em forma diversa, no capítulo 21, 9 ss. A narração de Isaque, que seria ofertado a Deus em holocausto, capítulo 22, entretanto, é uma passagem exclusiva do Eloísta.
Ambos os escritos ainda deixam entrever várias diferenças nítidas em sua maneira de apresentar as histórias. Uma divergência que logo cai na vista é, p. ex., esta: que no Javista, freqüentemente, Deus ou seu «anjo» falam diretamente com os homens (p. ex. 12, 1; 16, 8), enquanto que no Eloísta ele fala «em sonhos» ou chama «do céu» (p. ex. 20, 3; 21, 17).
Ainda uma terceira «fonte» contribui para a obra completa: «o Escrito Sacerdotal». Recebeu esse nome porque manifesta um interesse acentuado em assuntos sacerdotais e objetos cultuais. Assim, p. ex., provieram desta fonte as instruções sobre a circuncisão (Gn 17, 9 ss), os dados, por extenso, sobre a construção do tabernáculo (Êx 25-30 e 35-40) e muitas outras disposições cultuais e rituais. É também o escrito sacerdotal que traz numerosos dados cronológicos a respeito da idade das respectivas pessoas (p. ex. Gn 12, 4 e 25, 7), sobre o ano do êxodo do Egito (Êx 12, 40) e outros semelhantes. Em tudo isso se mostra uma erudição tal qual foi cultivada nos círculos sacerdotais do antigo Israel. Nestes círculos sacerdotais nasceu também o primeiro relato sobre a criação em
Gn 1, o qual ainda dá a conhecer distintamente o autor como sendo um pensador sistemático e ordenador, enquanto o segundo, em Gn 2, forma uma unidade com a história da queda no capítulo 3 e pertence à obra do Javista. O escrito sacerdotal é a mais recente das três obras narrativas e data, muito provavelmente, do tempo do exílio, ou seja do século VI a. C.
Estes três escritos J+E+S, enfim foram, pouco mais tarde, compilados para uma única obra expositiva. Podemos imaginar este processo à semelhança de como se os diversos relatos dos quatro Evangelhos do Novo Testamento fossem combinados para uma unidade literária. Nesta compilação, o Escrito Sacerdotal, com sua estrutura cronológica, é tomado como uma espécie de «moldura» preenchida a seguir com o material transmitido pelas outras fontes literárias. Por fim, foi acrescentado o «Deuteronômio», que representa uma quarta obra independente e data do século VII a. C.
O DEUTERONÔMIO - e a obra de historiografia deuteronomistica - (Dt até II Rs)
O quinto livro do Pentateuco, o Deuteronômio, contém, inicialmente, introduções (capítulo 1-4 e 5-11), a seguir uma coleção de leis (capítulo 12-26) e, enfim, um trecho final sôbre as últimas palavras e instruções de Moisés e sôbre sua morte (capítulo 27-34). A coleção de leis, portanto, forma a parte principal da obra. De fato, porém, é mais do que uma disposição planejada de preceitos e prescrições. Os textos «legais» foram em geral ampliados por paráfrases explicativas e exortativas, de forma que se pode falar, no caso, de «lei kerigmatizada» (pregada) (cf. parágrafos 1, 4).
A pregação da lei do Deuteronômio, mostra claramente uma determinada idéia diretriz qual seja: a adoração exclusiva de um só Deus. Esta exigência básica é expressa na introdução, capítulo 6, em forma de uma exortação de Moisés. No início da coleção de leis ela se manifesta no mandamento de celebrar culto de oblação em um só lugar central (capítulo 12). Simultaneamente com isso, é relacionada a ordem de destruir todos os lugares cultuais pagãos no país e eliminar o culto de outros deuses. De fato, esta exigência determina também muitos dos mandamentos e proibições seguintes.
Em II Reis 22 é relatado que, por ocasião de trabalhos de concertos no templo, durante o tempo do rei Josias (639-609), foi encontrado um código de leis. A reforma do culto, realizada em seguida (capítulo 23), mostra claramente, que por ela foi realizada a idéia fundamental do Deuteronômio, que só permitia um único lugar de culto. Pode-se supor, seguramente, que o Deuteronômio foi exatamente este mesmo código de leis. Contém muito material antigo, mas em sua forma atual foi redigido, provavelmente, apenas no século em que foi achado e quando começou a vigorar.
As idéias do Deuteronômio tiveram efeito contínuo e durável. Prova disso é, antes de mais nada, o domínio que exercem sôbre toda a historiografia seguinte, a começar pelo livro de Josué até o fim do II livro dos Reis. Isso já se evidencia claramente na introdução do livro de Josué. Em Js 1,7 e 8, Josué é admoestado de proceder segundo a lei que Moisés lhe ordenara, e de ocupar-se continuamente com este «livro de leis». Terminada a ocupação da terra, Josué por sua vez exorta o povo reunido, de não se apartar deste livro da lei de Moisés (v.6); isso, porém, quer dizer: não dar culto aos deuses estranhos, mas servir somente «ao Senhor» (v. 7 e 8).
No livro dos Juízes, capítulo 2,10 ss, é feita uma exposição resumida do decurso da história após à morte de Josué. É considerada sob o ponto de vista de que os israelitas sempre de novo se afastaram do culto ao único Deus e passaram a servir outros deuses. O castigo por esta apostasia foi que toda vez o Senhor os dava na mão de «espoliadores», isto é, de povos vizinhos, hostis. Somente quando, no aperto, clamavam a Deus, ele os salvava por um «juiz». Aqui, portanto, a exigência de dar culto exclusivo ao único Deus, tornou-se o princípio diretivo da concepção da história.
Fato bem semelhante encontramos nos livros dos Reis. Os reis são apreciados, um por um, segundo o critério, se esta exigência foi cumprida durante seu governo e se o culto de sacrifício foi severamente restrito ao santuário central de Jerusalém. O fim político dos estados de Israel e de Judá é interpretado em II Reis 17 como conseqüência da «apostasia».
Por causa desta idéia-mestre, homogênea e sua nítida relação com o Deuteronômio, denomina-se toda esta historiografia, de Josué até II Reis, de «obra historiográfica deuteronomistica».
Esta obra historiográfica foi concebida segundo um plano coerente e determinada por uma idéia homogênea, a saber, o mandamento fundamental do Deuteronômio: dar culto a um só Deus em um santuário central. O último evento, do qual relata -- a libertação do cárcere, do rei Joaquim (II Reis 25, 27 ss.),
que foi conduzido preso para o exílio -- nos permite fixar o tempo em que o Deuteronômio foi escrito. Este evento ocorreu no 37o. ano após o exílio de Joaquim, quer dizer depois de 598. De meados do século VI a. C., portanto, data a origem desta obra.
Exatamente assim como no caso das composições coerentes do Pentateuco, p. ex., as do Javista (cf. II, 3), também esta vez deve ser feita uma distinção entre o material da tradição, que lhe serve de base, e a redação sintetizaste à qual aquele foi submetido. O autor da obra historiográfica deuteronomistica, o «deuteronomista», é um colecionador, que compilou e redigiu as tradições que encontrou, sob determinados pontos de vista.
Essas tradições eram de natureza diversa. As narrações na primeira parte do livro de Josué relatam acontecimentos dentro do contexto da ocupação da terra. O cenário destes acontecimentos é o santuário de Gilgal, próximo a Jericó e sua circunvizinhança. Portanto, a atenção é somente voltada para uma área limitada da terra que os israelitas ocuparam. Estando Jericó situada na região da tribo de Benjamim, é provável tratar-se de tradições cultivadas no âmbito desta tribo. Segundo seu caráter literário, todas estas narrações são, preponderantemente, de natureza «etiológica» (cf. parte 1, 3). Têm por objetivo explicar os mais diversos fatos: 12 pedras no leito do rio Jordão (Josué 4,9O «até ao dia de hoje»); outras 12 pedras no santuário Gilgal (4,21 ss); o nome «Gilgal» (5,9); os muros destruídos de Jericó, que aí jazem (6,26); o fato de morar o clã de Raabe no meio dos israelitas (6,25); um montão de pedras no vale de Acor e o nome deste vale (7,26); as ruínas de Ai (8,28); o emprego dos gibeonitas para servirem no santuário de Gilgal (9, 27) etc. Estas narrativas etiológicas agora estão unidas, formando um quadro uniforme da fase de ocupação das terras na Cisjordânia por Josué. É uma história da maravilhosa direção divina, sob a qual não a força militar do povo, mas o próprio Deus conquista a vitória sôbre seus inimigos.
Para o transcurso restante da ocupação da terra, o deuteronomista dispôs de diversos documentos em forma de listas, que transmitiu nos capítulos 13-21. No discurso de despedida de Josué, capítulo 23, é declarado mais uma vez, em retrospecto, que a história da tomada da terra foi uma história da liderança de Deus pela qual realizou suas promissões dadas (v. 14). Manifesta-se, portanto, neste pensamento, o interesse do deuteronomista que subordinou todo este período da história da ocupação da terra a essa idéia fundamental.
O capítulo 24 do livro de Josué contém uma tradição particular. Relata de uma aliança feita em Siquém (v. 25). Os parceiros desta aliança são Deus e as tribos reunidas de Israel; Josué tem posição de mediador. O teor do compromisso assumido com a Aliança é o culto tributado ao Uno Deus, Javé, pelas 12 tribos de Israel (Vv. 22-24). Nesta associação cultual das tribos (anfictionia), temos a mais antiga forma de comunhão que se denominou a si mesma de «Israel». Somente no transcurso da história seguinte, desenvolveu-se, da comunhão cultual, uma comunidade política e, da associação inconsistente de tribos, um povo com uma e mesma formação.
Após a história da ocupação da terra pelos israelitas, segue a apresentação da «era dos juízes». Para esta, o deuteronomista teve à sua disposição uma série de narrações sôbre personagens individuais de destaque, os quais prestaram ao povo, em tempos de calamidade política, serviços decisivos. Estes assim chamados «juízes maiores» são carismáticos, quer dizer, varões subitamente chamados pelo «Espírito de Javé» e destinados a assumir o comando do exército israelita; mas não eram detentores de um determinado cargo definitivo.
As tradições relativas aos «juízes maiores» diferem muito quanto à sua espécie e sua extensão. Sôbre Otniel são fornecidas apenas algumas breves notícias (Jz 3,7-11), ainda menos sôbre Sangar (3,31). Mais detalhadas são as narrativas sôbre Eúde (3, 12-30), Débora e Baruque (capítulo 4), Gideão (capítulo 6-8) ) e Jefté (10,612,7), que por sua intervenção lograram afastar dos israelitas a ameaça de guerra ou domínio de estrangeiros. O deuteronomista apresenta todo este período como conseqüência alternante da apostasia dos israelitas, castigo divino
e salvação final, conforme é expresso no seu «programa» introdutório (2,6-3,6, cf. parágrafo III,1) e nas observações preliminares, quase verbalmente idênticas, sôbre as histórias dos respectivos juízes. (3,7-9; 3,12-1-15; 4,1-3; 6,1-6; 10,6-10).
Ao lado das tradições dos «juízes maiores», o deuteronomista inclui em sua obra uma lista de «juízes menores», (capítulo 10, 1-5; 12, 8-15). Estes obviamente, são detentores de um cargo permanente de «juiz de Israel», a respeito do qual nada de exato sabemos. Além disso, para poder compilar os acontecimentos em torno de Débora e Baraque, relatados no capítulo 4, teve à sua disposição, como tradição paralela, o cântico antigo de Débora (capítulo 5) e ainda um relato sôbre a intentona de Abimeleque de estabelecer seu reinado em Siquém (capítulo 9), as histórias de Sansão (capítulos 13-16) e várias tradições individuais da era dos juízes (capítulos 17-21).
O livro de Rute, que em nossa Bíblia segue ao dos juízes, tem no texto hebraico um lugar diferente, assim que os livros de Samuel seguem imediatamente o livro dos Juízes. Dentro do contexto da obra historiográfica deuteronomistica, a conexão é muito estreita. Somente com o grande discurso de Samuel em I Sm 12, a era dos juízes alcança, propriamente, seu fim. Samuel é o último «juiz»: salva Israel das mãos dos filisteus (I Sm 7).
Ainda durante os últimos anos de Samuel começa a era dos reis. Sôbre seus primórdios temos dois relatos diferentes. De acordo com a primeira versão, Saul, ocasionalmente, se encontra com Samuel, é por este ungido rei, secretamente, assume pouco depois, em situação política de emergência, como carismático, o comando do exército e, conquistada a vitória, é aclamado rei pelo povo (I Sm 9,1-10,16 e capítulo 21). Na outra versão, ao inverso, é o povo que exige de Samuel a instituição de um rei. Para Samuel, isso significa apostasia de Deus, o qual é o verdadeiro e único Rei de Israel; mas Deus lhe ordena de ceder à vontade do povo. Em seguida, Saul é indicado, pela sorte, para ser rei (capítulo 8 e 10,17-27).
Esta segunda versão é evidentemente a mais nova. Por uma posição negativa para com o reinado, pretende completar e corrigir a mais antiga. Representa a concepção própria do deuteronomista, que, por razões de experiências colhidas da história, considera a instituição de um rei um fator de princípio oposto à soberania absoluta que Deus reclama para si. Com isto o deuteronomista adere, também neste ponto, ao Deuteronômio, cuja lei sôbre o rei (Dt 17,14-20) reflete a mesma avaliação negativa.
A história da era dos reis subdivide-se em vários capítulos maiores. O governo de Saul é somente de pouca duração. Por causa de sua desobediência, ele é «rejeitado» por Deus (I Sm 1 5 ). Com isto, agora, surge a pergunta pela sucessão. Ela é respondida no capítulo 16: Davi é ungido rei por Samuel conforme a ordem de Deus. Mas ainda Saul ocupa o trono, e, conseqüentemente, começa uma longa e variada história de rivalidade entre Saul e Davi. Davi é obrigado a fugir e manter-se escondido (capítulo. 19-26); por fim, até tem que abandonar o país (capítulo 27) ; somente após a morte de Saul na peleja contra os filisteus (capítulo 31) está livre o acesso ao trono para Davi.
Primeiramente, é aclamado rei por sua própria tribo Judá (II Sm 2) e passa a residir em Hebron. Após lutas prolongadas com os descendentes de Saul, alcança, enfim, o domínio sôbre as demais tribos (capítulo 5). Sua primeira ação previdente é a conquista da cidade de Jerusalém, que até então ainda se achava em posse dos aborígenes cananeus, os jebuseus (5,6 ss). Assim criou para si uma residência de localização central, a qual não pertencia a nenhuma das tribos, mas era sua propriedade pessoal. Nesta altura termina a história da ascendência de Davi (I Sm 16,14 - 11 Sm 5).
Com o próximo capítulo começa um novo tema: a questão da sucessão de Davi no trono. Davi manda trasladar para sua nova residência o antigo santuário central da anfictionia cultual «Israel» (cf. Js 24 e parágrafo III,2, no fim), a «arca de aliança» (capítulo 6), e assim fêz de sua cidade também o centro cultual. Afinal, recebe da boca do profeta Natã a promissão divina que sua dinastia subsistirá para sempre (capítulo 7). Assim o domínio de Davi parece assegurado, tanto mais que ainda consegue ampliar, consideravelmente, seu território, subjugando uma série de povos circunvizinhos. Breve, porém, já começam as lutas pela sucessão no seu trono. Sucedem-se diversas revoltas (capítulos 15 e 20) e a tentativa de proclamar, arbitrariamente, um sucessor (I Rs 1, 5 ss). Afinal, sai vencedor destas lutas Salomão (I Rs 1, 28 ss), que já antes foi declarado «o amado de Javé» (II Sm 12,25). Nesta história da sucessão de Davi, temos novamente um fragmento de boa tradição antiga. Pode-se considerá-la uma obra da historiografia cultivada na corte, que iniciou com a instituição de um reino estabelecido e, por conseguinte, de uma vida própria da corte.
Também dos anais de historiógrafos na corte real, o deuteronomista fez uso para exposição da história de Salomão. Chama esta, expressamente, de «atos de Salomão», I Rs 11,41. Entretanto, não teve diante de si um complexo tão coeso como no caso da tradição sôbre Davi. Assim formou seu próprio esboço da história de Salomão: No começo, pos a revelação de Deus em Gibeon, com a prece de Salomão por um coração compreensivo (3,4 ss.) e relata então, num primeiro parágrafo, da sabedoria de Salomão (3,16 ss e 5,9ss), de sua corte (capítulo 4), de suas relações comerciais (5,15ss) e, sobretudo, da construção e da inauguração do templo bem como do palácio real (capítulos 6-8). A segunda parte da história de Salomão começa novamente com uma revelação divina (capítulo 9). Mas aqui se fala, ao lado da promissão, da ameaça, caso se desviar de Deus (vers. 6 ss). E nessa segunda parte, acha-se ao lado de relatos positivos (capítulos 9 e 10), antes de tudo a notícia que Salomão foi seduzido para a idolatria por suas mulheres estrangeiras (11, 1 ss) . A reação da ira de Deus já implica na queda do governo de Salomão (11,11) e ainda durante sua vida seu poder começa a desintegrar-se em todos os setores (11,14ss). Deste modo, os acontecimentos, após à morte de Salomão, aparecem como a conseqüência necessária de seu procedimento repreensível.
O «tempo dos reis», propriamente dito, começa na obra historiográfica deuteronomistica com a divisão do reino: após à morte de Salomão o reino criado por Davi se desintegra em duas partes independentes, «Israel» no norte e «Judá» no sul. Enquanto em Judá o filho mais velho de Salomão, Rubião, consegue garantir a continuação da dinastia de Davi (I Rs 12, 17), em Israel é entronizando Jeroboão, ao qual foi prometido, anteriormente, este reino por uma palavra profética (11,29 ss; 12,20).
Essa divisão se expressa, a seguir, em toda a disposição da obra. As ocorrências nos reinos norte e sul são tratadas separadamente. Contudo, é conservada a estreita conexão entre ambos pelo fato que não se formam dois relatos contínuos, mas, sim, são relatados os acontecimentos concomitantes em ambas as partes, sempre em ordem consecutiva, imediatamente um após o outro. Desta maneira seguem, após a notícia sôbre a morte de Roboão, rei de Judá (14,31), primeiramente, os dados sôbre seu sucessor Abías (15,1-8 ) e Asa (15,9-24), que, ambos, começaram a reinar ainda durante a vida de Jeroboão, do rei de Israel; mas somente então seguem os dados correspondentes sôbre o reino do norte: O começo do reinado de Nadabe, o sucessor de Jeroboão, dá-se no tempo do rei Asa de Judá (15,25-28), bem como o de Baasa, que o mata e assim conquista o trono (15,28-16,6). Nesta apresentação alternante sempre são usados, para datar as ocorrências, os anos do governo do rei respectivo no estado vizinho; portanto, usa-se o método de sincronização.
Quanto aos dados sôbre a origem, a idade e a duração do governo de cada rei, as quais são registradas no comêço do parágrafo sôbre o tempo de sua gestão, o deuteronomista pôde tirá-los novamente de fontes fidedignas: da «Crônica dos Reis de Israel» (14,19; 16,5 etc.), respectivamente da «Crônica dos Reis de Judá» (14,29; 15,7-23 etc.). Afora disso, transparece nitidamente sua própria tomada de posição: em seguimento imediato a estes dados objetivos, acha-se, regularmente, uma sentença sôbre a atitude do rei respectivo para com os mandamentos divinos (14,22; 15,3-11.26 etc.). Desta maneira, revela-se que o critério básico da avaliação é a questão, se os reis limitarem o culto exclusivamente ao santuário central em Jerusalém ou não (cf. parágrafo III,1). O autor os avalia, portanto, segundo a exigência do Deuteronômio, que reconhece somente um único lugar de culto.
Vê-se, pois, que o deuteronomista de maneira alguma tencionava escrever a história política do tempo dos reis, mas se importou em apresentar a relação deste tempo com as exigências de Deus, como ele as entendeu. Sua visão global é, inequivocamente negativa. Em II Rs 17, êle a resumiu: Foi uma história de apostasia progressiva. Deste modo, o fim de ambos os
reinos nos anos 721 e 587, respectivamente, é a conseqüência inevitável.
Na história do tempo dos reis o deuteronomista ainda inseriu uma série de trechos sôbre profetas. Especialmente, devem ser mencionadas as narrações extensas de Elias (I Rs 17-19,21; II Rs 1-2) e Eliseu (II Rs 2,1-13,21), de Isaías (II Rs 18,13 20,19 = Js 36-39), e ainda as de Aías, o silonita (I Rs 11,29-12,20) e de Micaías, filho de Inlá (I Rs 22).
A obra historiográfica deuteronomistica expõe, portanto, nos livros de Josué até Il Reis, com base em material de tradição mais antiga a história desde a ocupação da terra até o fim do reino de Judá, sujeitando-a, ao mesmo tempo, a uma avaliação teológica. Não contém historiografia no sentido moderno, mas sim, quer interpretar a história desde um determinado ponto de partida teológico. Para tal, segundo o autor, ela é determinada inteiramente pelo mandamento de Deus e pela atitude dos homens
OS PROFETAS
No cânone hebraico do Antigo Testamento, os «livros históricos», isto é, os livros Josué até Reis, inclusive, pertencem aos «profetas» que seguem após a «lei» (o Pentateuco). Na tradição judaica, foram tidos por autores, homens, que se consideravam profetas: Josué, Samuel (o do livro dos Juízes e dos livros de Samuel) e Jeremias (o dos livros dos Reis). Estes livros formam a primeira parte do cânone profético: os profetas «anteriores». Seguem, então, os livros proféticos propriamente ditos, que são denominados os profetas «posteriores». Uma exceção é o livro de Daniel, que não consta entre os profetas, mas somente no fim entre as «Escrituras», porque foi escrito quando o cânone profético já esteve concluído.
Os livros proféticos abrangem um espaço de tempo de diversos séculos. O mais antigo entre os profetas históricos é Amós. Sua aparição em público data da metade do século VIII a. C., cerca de 760 ou 750. Pouco mais recente é Oséias, que exerceu sua atividade profética nos anos entre 750 e 725 a. C., igual a Amós, no reino do norte, «Israel». No mesmo tempo, viveu no reino do sul, «Judá», o profeta Isaías; foi profeta desde o ano 735 (ano da morte do rei Uzias, cf. Js. 6, 1) até 700, e, simultaneamente com êle, também Miquéias.
Após estes profetas do VIII século, encontramos, no fim do século VII, novamente, diversos profetas: Jeremias foi chamado para ser profeta em 620 (cf. Jr 1, 2) e ainda chegou a presenciar a queda de Jerusalém no ano 587. Igualmente os profetas Naum, Habacuque e Sofonias viviam nestes últimos decênios antes do fim do Reino de Judá.
Também no tempo após à ruína política continuou a atividade profética: Ezequiel aparece entre os habitantes de Judá que foram levados com a primeira deportação, no ano de 598, para a Babilônia. No tempo do exílio babilônico também está em atividade o profeta anônimo que pronunciou as palavras colecionadas nos capítulos 40-55 do livro de Isaías. Chamamo-lo de «Dêutero-lsaías», isto é, o segundo Isaías. (O livro de Isaías é, semelhante ao livro dos 12 «Profetas Menores», uma coleção de diversos escritos proféticos: capítulos 1-39 de Isaías; capítulos 40-5 5 de Dêutero-lsaías; capítulos 5 6-66 de um ou mais profetas pós-exílicos, denominado «Trito-lsaías»). No tempo pouco depois da destruição de Jerusalém deverá ser fixada também a origem do livrinho Obadias.
Afinal, existiam profetas também ainda após o exílio, dos quais a tradição nos conservou documentos literários. Ageu conseguiu no ano de 520 a. C., por sua atividade profética, que fosse levado avante a reconstrução do templo, e em continuidade imediata a este, Zacarias começou sua pregação. Também os livros de Malaquias e, mais tarde ainda, Joel e Jonas datam do tempo pós-exílico, bem como o «Trito-lsaías» (Is capítulo 56-66).
Esse grande lapso de tempo acarreta várias diferenças entre os diversos livros proféticos. Isso não apenas por ser cada um dêles, necessàriamente, um filho de seu tempo, mas, sobretudo, por não ser sua missão transmitir uma «doutrina» independente do tempo, mas, sim, porque tinham que proclamar a vontade bem concreta de Deus, endereçada sempre à sua época presente.
Porque o traço de união entre todos é que estiveram cônscios de serem chamados e enviados diretamente por Deus, a fim de dizer a seu povo -- e amiúde também a outros povos -- o que precisava ser dito justamente no tempo em que viviam.
Por essa razão, também ficaram, na maioria dos casos, isolados, solitários e, freqüentemente, entraram em oposição ao profetismo oficial e «profissional» (cf. p. ex. Jr 23,9 ss).
Existem várias diferenças na forma e no conteúdo da mensagem dos profetas individuais. A linguagem profética, porém, mostra tantos traços comuns, que é possível expor, coerentemente, suas características mais importantes.
A tarefa básica do profeta consiste em anunciar o agir de Deus através do qual realiza sua vontade contra toda e qualquer resistência. Esse agir de Deus pode significar salvação ou desgraça. Por isso a anunciação profética consiste em promissão ou ameaça. Corresponde à natureza e à missão dos profetas literários que a anunciação de desgraça predomina entre a maioria deles. A forma principal da profecia, portanto, é a «palavra de ameaça». Em muitos casos tem a forma abreviada de oráculo e assinala apenas a desgraça que há de vir: «Um inimigo cercará a tua terra, derribará a tua fortaleza, e os teus castelos serão saqueados» (Amós 3, 11). Muitas vezes, manifesta-se nestas palavras o próprio Deus, diretamente na forma da primeira pessoa do singular, em cujo nome o profeta pronuncia a palavra de ameaça: «Meterei fogo à casa de Hazael... Quebrarei o ferrolho, de Damasco» (Am. 1, 4 e 5) e, freqüentemente, ainda vem acompanhada do enfático «Eis» no inicio da sentença (Am. 2, 13). Que essas palavras de ameaça querem ser entendidas em sentido direto, como palavras do próprio Deus, prova-o, além do emprego da 1a. pessoa do singular, a freqüente fórmula de introdução: «Assim diz o Senhor» (Am. 1, 3. 6. 9. 11. e 13 etc.), a mesma fórmula com a qual o mensageiro transmite seu recado (cf. Gn 32, 5: «Assim diz o teu servo Jacó»; 1 Rs 2, 30: «Assim diz o rei»).
O profeta, porém, não permanece inteiramente passivo ao transmitir essas palavras. Não é apenas porta-voz. Em Jeremias, isso se externa, certa vez, assim que o profeta, qual acrisolador, deve examinar a vida do povo (Jr 6, 27). E daí também é de sua tarefa endereçar a palavra de ameaça, recebida por Deus, ao destinatário certo. A este destinatário se dirigem suas próprias palavras introdutórias, a «palavra de repreensão». Muitas vêzes esta começa com um cortante «ai!» (Am 5, 18; 6, 1) e o endereço, às vezes, é de uma precisão insuperável, quando, p. ex., Amós chama as mulheres dos nobres na Samaria de «vacas de Basã» (4, 1) ou, quando Isaías dirige o seu ai! aos que são «heróis para beber vinho» (5, 22) e que ao mesmo tempo são mestres em perverter a justiça em seu contrário. Ao lado destas formas específicas do pronunciamento profético, os profetas usam, amiúde, outras formas estilísticas para introduzir e engastar sua mensagem. Assim, Amós entoa urna lamentação fúnebre sôbre a «virgem de Israel», antes de anunciar à «casa de Israel» a palavra de ameaça, com a qual foi incumbido (5, 1 e 2). Isaías até recita um cântico de amor, contando de seu amigo e sua vinha, isto é, de sua amada, para dizer somente bem no fim aos ouvintes assustados que êles mesmos, os israelitas, são a vinha malograda, sôbre a qual virá o castigo merecido (Is 5, 1-7). Outra forma é a seguinte: Os profetas falam em breves sentenças exortativas da instrução sacerdotal na lei: «Cada manhã trazei os vossos sacrifícios, e de três em três dias os vossos dízimos!» (Am 4, 4); «Lavai-vos, purificai-vos!» (Is 1, 16), empregando-as, de repente, no sentido contrário: «Não busqueis a Betel, nem venhais a Gilgal!» (Am 5, 5); «Não continueis a trazer ofertas vãs; vosso incenso é para mim abominação!» (Is 1, 13).
Outrossim, que a pregação dos profetas processou-se, muitas vezes, mediante disputas com a opinião comum do povo, mostra a forma da «palavra de disputa»: Primeiramente o profeta apresenta aos ouvintes perguntas, às quais a resposta se infere por si mesma: «Andarão dois juntos, se não houver entre eles acordo? Rugirá o leão no bosque, sem que tenha prêsa?» etc. (Am 3, 3 ss). Isso demonstra: a causa e o efeito são forçosamente relacionados entre si. Daí resulta a conclusão lógica: Não sucede mal algum à cidade, sem que o Senhor o tenha feito (v. 6 b).
O emprêgo de formas de estilo que têm seu «Sitz im Leben» (lugar vivencial) em outras esferas, pode-se observar com clareza especial em «Deutero-Isaías» (Is 40-55). Nestes textos, a «palavra de disputa» (cf. Nm. IV, 2) exerce uma função importante: «Quem na concha de sua mão mediu as águas e tomou a medida dos céus a palmos? ... Quem guiou o Espírito do Senhor? ou, como seu conselheiro, o ensinou?» (40, 12-14). Todas estas perguntas, o antagonista de discussão é obrigado a responder, necessàriamente, com a negação: «Ninguém». Então também não pode evadir-se da conclusão final: que diante desse grande Deus, de superioridade absoluta, os povos são como um nada: «como um pingo que cai de um balde, e como um grão de pó na balança'' (Vs. 15-17). Aqui também transparece o objetivo desta forma estilística: os ouvintes da pregação profética devem compreender que Deus é mais forte do que as nações pelas quais foram vencidos e levados para o exílio. Ele também tem o poder de reconduzir os seus para a terra que lhes deu. -- Muitas vezes, em Deutero-Isaías, a simples discussão se transforma em uma autêntica cena de tribunal, na qual são intimados o céu e a terra como testemunhas para demonstrar o poder de Deus (p. ex. 41, 1-5; 21-29; 43, 8-13). Ao objetivo de arrancar os ouvintes de seu profundo abatimento e de fortalecer sua fé no poder de Deus e na possibilidade de uma repatriação por ele, serve em Deutero-Isaías, também o referimento à linguagem e à substância de fé dos salmos. Repetidas vezes lembra: «Acaso não sabeis? Porventura não ouvis?» (40, 21) «Não sabes, não ouviste... ?» (40, 28) -- e então seguem palavras que cada ouvinte conhece dos salmos, e que falam de Deus, o Criador e Senhor do mundo. Em outras passagens o profeta começa com o imperativo: «Não temas», palavra que assegura àquele a quem se dirige auxílio e salvação (41, 10.-14; 43, 1 e outros). Também essa tem sua origem no uso cultual dos salmos: é a palavra, mediante a qual o sacerdote assegura ao salmista, que apresenta sua lamentação, a certeza de ser atendida sua súplica e de obter ajuda. Corresponde ao caráter do ministério profético o fato que a pessoa do profeta cede inteiramente para o segundo plano. Mas, de vez em quando, aparece em cena. Às vezes, encontramos um breve indício sôbre o processo através do qual o profeta recebeu a revelação, p. ex. Is 5, 9: «Aos meus ouvidos disse o Senhor dos Exércitos» (cf. 22, 14; 40, 3 e 6). Jeremias relata de seu diálogo com Deus quando era chamado para ser profeta (Jr 1). Mais freqüentes são os relatos sôbre visões que o profeta teve: Isaías e Ezequiel foram chamados para seu munus profético através de teofanias (Is 6; Ez 1-3). Segundo outras passagens, é anunciado ao profeta, por intermédio de uma imagem visionária, o que Deus fará em um futuro iminente (p. ex. Am. 7-9; Jr 1, 11 ss, Zc 1-6).
Uma forma especial deste envolvimento da pessoa do profeta em sua pregação, são os «atos simbólicos». Nestes, o próprio profeta se torna um «sinal» (Is 8, 18; Ez 12, 6, 24, 24). Representa com uma determinada ação simbólica o que Deus quer anunciar a seu povo (p. ex. Is 20, 1-6; Jr 13, 1-11; Ez 4 e outros textos). Às vezes, o profeta está entremetido com toda sua vida pessoal em tais atos simbólicos: Oséias tem que casar-se com uma prostituta (Os 1 e 3), Jeremias, pelo contrário, deve renunciar, inteiramente, ao matrimônio e não lhe é lícito participar na vida social (Jr 16, 1-9).
Quão imenso pôde tornar-se, com tudo isso, o ônus que pesava na alma do profeta, patenteia-se com clareza especial em Jeremias, no qual, aliás, sobressai, em geral o elemento pessoal com maior vigor do que nos outros profetas: Em suas «Confissões» descreve suas querelas com Deus por causa do peso de seu ministério que quase o esmaga (Jr 11, 18 - 12, 6; 15, 10 - 21, 17, 14-18; 18, 18-23; 20, 7-8); e as narrações sôbre o destino de Jeremias, que seu amigo e discípulo Baruque registrou, podem chamar-se realmente de «história de Paixão» (esp. Jr 36-45).
A coleção das palavras dos profetas e os relatos sôbre eles em «livros», devemos a seus alunos ou discípulos (cf. Is 8, 16; Jr 36); coligiram essas tradições e, em muitos casos, também acrescentaram pensamentos próprios, assim que os livros proféticos atuais constituem o resultado de uma história de formação que durou mais tempo.
OS SALMOS
Os salmos que o Antigo Testamento nos transmitiu, na verdade representam apenas uma pequena parte de todos os salmos existentes no Antigo Israel. Sua grande importância já se evidencia pelo fato que se encontram numerosos salmos também fora do «Saltério», p. ex. Ex 15; 1 Sm 2; II Sm 22, bem como nos livros proféticos: Is 38, 10-20; Jr 2; Hc 3 etc.
O Saltério divide-se em 5 «livros». Destacam-se, claramente, um do outro pela doxologia, uma glorificação de Deus, acrescentada no fim do último salmo de cada livro: Salmos 1-41; 42-72; 73-89; 90-106; 107-150 (no fim falta a doxologia especial, porque o próprio salmo 150 é uma tal doxologia final). Essa subdivisão, evidentemente, foi feita num tempo em que a coleção de salmos já existia na forma atual.
No entanto, ainda, se pode reconhecer que, já antes, existiam coleções independentes menores. Assim temos, p. ex. no fim do SI 72, a seguinte notícia: «Findam as orações de Davi, filho de Jessé». Essa observação, evidentemente, formava outrora o fecho de uma coleção especial de «Salmos de Davi». Além dos salmos 51-72, porém, no fim dos quais acha-se essa anotação, também os salmos 3-41 levam, em geral, o título: «de Davi», de modo que se obtém a impressão que existiam duas de tais coleções. A par dessas, sobressaem ainda outros grupos por um título comum: Os salmos de Coré 42-49, os salmos de Asafe 73-83, e mais um grupo cujo título em nossa Bíblia é: «Cântico de romagem»: Salmos 120-134. O significado da respectiva palavra hebraica é um tanto incerto; provavelmente, trata-se de «Cânticos de romaria» ou talvez «graduais». Afinal, ainda é interessante que em um grupo inteiro de salmos, o nome de Deus «Javé» (trad. «o Senhor») foi substituído por «Elohim» (»Deus»), SI 42-83. Isso pode ser verificado facilmente pela comparação entre os SI 14 e 53, que, aliás, são quase literalmente idênticos.
Portanto, podemos supor que os salmos de Coré 42-49, o segundo grupo de salmos de Davi 51-72 e os salmos de Asafe formavam uma coleção independente, na qual foi efetuada essa mudança do nome de Deus.
Tudo isso torna patente que o saltério, em sua forma atual, é o resultado de um crescimento paulatino. Nisso é comparável com nossos hinários, que também são o produto final de uma longa história do hino eclesiástico e sempre se baseiam em hinários e coleções de cânticos mais antigos. E, assim como um hinário moderno contém hinos do tempo desde antes da Reforma até nossos dias, também os salmos datam dos mais diversos tempos da história de Israel. Entretanto, é, na maioria dos casos, muito difícil fixar-se o tempo exato de sua origem. Só raras vêzes acham-se indícios seguros a este respeito, assim p. ex. no SI 137, que nasceu «às margens dos rios de Babilônia», portanto, durante o exílio no século VI a. C.
A comparação com o hinário ainda tem sua boa razão num outro particular: Os salmos revelam, todos êles, uma relação mais ou menos clara com o Culto. E neste ponto pode-se, muitas vêzes, reconhecer mais exatamente qual o ensejo cultual para o qual foram usados. Visto que forma e conteúdo estão em uma correlação determinada, os salmos podem ser classificados em diversos «gêneros» que apresentam, cada qual, caraterísticas formais e têm seu lugar vivencial («Sitz im Leben») em determinada situação cultual. A classificação segundo o gênero é, em muitos casos, ao mesmo tempo um importante meio para a interpretação de um salmo, porque dêste modo se torna patente seu verdadeiro intuito.
Disso falaremos a seguir mais detalhadamente.
Com especial nitidez destaca-se o gênero que se denomina «Hino». No início desses salmos acha-se o convite de louvar a Deus: «Cantai ao Senhor» (96, 1; 98, 1; 149, 1), «louvai» (113, 1; 117, 1) e «rendei graças» (105, 1; 106, 1; 118, 1; 136, 1) etc. Também a palavra «Aleluia!» é um tal imperativo: «Louvai a Javé». Freqüentemente, estes convites se acumulam, como, p. ex., no início dos Salmos 33 e 105.
Esses imperativos devem ser compreendidos, ao pé da letra, como convite dirigido aos demais participantes do Culto, de juntarem suas vozes em canção de louvor. Isso se torna peculiarmente claro em alguns salmos os quais ainda deixam transparecer que se destinavam para o canto alternado entre o cantor-solista e a comunidade, p. ex. Salmo 136, onde a congregação responde a cada versículo: «porque a sua misericórdia dura para sempre». Às vêzes, também citam-se os instrumentos, com os quais deve ser acompanhada uma canção, p. ex. SI 33, 2 e 3 e S 150, 3-5.
Após essa «introdução» do hino, começa a parte principal com um acentuado «porque», p. ex. 33, 4; 98, 1; 135, 4. Este «porque» também se expressa na frase muito freqüente: «porque a sua misericórdia dura para sempre». Introduz o conteúdo propriamente dito do hino, e menciona o motivo porque Deus deve ser louvado. É característico para o hino que não relata uma determinada ação de Deus, realizada no momento presente, mas que expõe descrevendo o procedimento e o agir de Deus para com o mundo e os homens. No hebraico, isso se processa, freqüentemente, por meio de particípios traduzidos, geralmente, por orações relativas, p. ex. Sl 113, 5-9 ou SI 136, 4 ss: «O que opera grandes maravilhas -- que com entendimento fez os céus -- que estendeu a terra sôbre as águas» etc.
O conteúdo deste «louvor expositivo» forma o agir de Deus como Criador e como Senhor da história. Na maioria dos casos, há entre ambos os predicados uma transição imediata. As declarações sôbre Deus, o Criador, conduzem para aquela sôbre seu agir na história, porque a história era para Israel o lugar, onde experimentara de modo mais imediato e enérgico, a ação de Deus como sendo o Senhor.
O hino, porém, não apenas discorre sôbre o que toca o mundo inteiro ou todo o povo, mas fala também do agir de Deus com o indivíduo. Assim lemos em SI 113, que o trono de Deus está nas alturas, mas que Ele se inclina para a profundidade ergue do pó o desvalido e faz subir o humilde. Aqui a experiência de muitos fiéis individuais que provaram o auxílio e a salvação de Deus, é resumida no mencionado louvor expositivo.
Desta forma, o hino é orientado para a ação de Deus em sua totalidade; tem, portanto, seu lugar cultual nas reuniões festivas de toda a congregação.
De caráter bem diferente e muito mais pessoal é, ao invés disso, o louvor de Deus no «Salmo de ações de graça». Neste, o salmista relata sôbre como Deus o livrou de uma determinada necessidade premente. Primeiramente, êle expõe, mais uma vez, a situação angustiante em que se achava e, em seguida, conta de como clamou a Deus por socorro e como o Senhor ouviu sua súplica e o salvou (p. ex. SI 18; 30; 116). Nunca, porém, o salmo termina com a descrição do salvamento, mas sempre é mencionado, no fim, o firme propósito do salmista de louvar a Deus por estes seus feitos. Com isso não se refere a uma oração pessoal «privada», de um só, mas, sim, este «louvar» sempre sucede na presença da congregação: É transmitido a outros, e assim se transforma em Kerygma (pregação). Portanto, também o hino de graças tem seu lugar no Culto; talvez se deva pensar, no caso, em solenidades festivas especiais, por ocasião das quais a pessoa salva de necessidade oferecia o sacrifício de gratidão que antes havia prometido a Deus.
Ao lado dos salmos nos quais o crente do Antigo Testamento rendia louvores a Deus, temos um número considerável de «Lamentações». Por meio destas, o salmista apresenta seu sofrimento a Deus. A situação do lamentador é descrita, muitas vezes, em termos «fortes», até fortes demais para nosso sentimento, p. ex.: faço nadar o meu leito, de minhas lágrimas o alago (6, 6), meus ossos se desconjuntaram ... (22, 14 s) etc. E a própria tribulação a que se vê exposto é descrita como uma profunda perturbação da alma (6, 3 s), como ameaça por adversários (S 7) que aparecem em forma de perversos opressores (17, 9) ou de feras (touros e cães) que o espreitam com intenções malignas (22, 13 ss), e até sente-se entregue à morte (6, 5; 22, 15). Muitas vezes a lamentação culmina numa pergunta quase desesperadora: «Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?» (22, 1).
Entretanto, é estranho: Se procurarmos ficar sabendo, de um dêstes salmos, algo mais concreto sôbre a situação verdadeira do salmista, ou pelo menos responder à pergunta se se trata de uma doença ou qualquer outra necessidade na qual se encontra, não chegamos, na maioria dos casos, a um resultado inequívoco. A razão disso é que as lamentações, apesar de toda rica pintura com que apresentam a situação angustiosa, não são, na verdade, orações «individuais», proferidas só uma vez em situação bem determinada, mas se destinavam para o uso «litúrgico», quer dizer, foram usadas, sempre de novo, quando alguém queria lamentar no templo suas necessidades a Deus. Para tal finalidade, porém, eram apropriadas, justamente por se valerem de expressões que, em última análise, permanecem vagas e indefinidas.
Os salmos de lamentação terminam, amiúde, com o voto do salmista de louvar a Deus, caso for salvo (7, 18; 13, 6). Originalmente, esse louvor, de certo, estava coligado com uma oferta, e nos «hinos de ações de graças» nos são transmitidos salmos que foram cantados por ocasião de tais ofertórios (v. V, 2).
Agora, o que chama a atenção é que por raras vêzes, já na própria lamentação vibram sentimentos que por sua natureza fazem parte do hino de gratidão: «Apartai-vos de mim. . ., o Senhor ouviu a voz do meu lamento» (6, 8 ss; cf. em especial o fim do SI 22, a partir do v. 23!). Como devemos, então, entender esta mudança repentina, que passa do lamento para o agradecimento? Aqui novamente nos ajuda o conhecimento que os salmos têm seu lugar na situação cultual. Nesta altura, o sacerdote assegurava, em nome de Deus, ao fiel, o atendimento de suas preces, e à essa afirmativa respondia então o salmista com seu louvor e sua gratidão.
Ao lado dos salmos de lamentação do indivíduo, temos outros nos quais o povo apresenta a Deus suas necessidades (p. ex. SI 44 e 80). Sabemos de outras passagens do Velho Testamento que em tempos excepcionais de desgraças ou de calamidade que atingiam o povo inteiro, era programado um jejum (p. ex. 1 Rs 21, 9 ss; Is 20, 26; 1, Sm 7, 6). Por ocasião de tais dias de jejum, essas «lamentações coletivas» têm seu lugar vivencial («Sitz im Leben»).
Ainda várias outras ocasiões refletem-se nos salmos. Pelo ensejo da «entronização de um rei» foram cantados salmos, p. ex.: durante os atos cultuais, especialmente programados para esta festa, como se vê nos SI 2; 72; 110 etc. Outros salmos anunciam que Deus mesmo se tornou rei. Assim lemos no SI 47, 8: Deus se tornou rei (essa é a tradução correta!), semelhantemente em SI 93, 1: 96, 10; 97, 1; 99, 1. Podemos presumir que estes salmos fazem parte da solenidade da «entronização de Javé», ocasião na qual era celebrada, sempre de novo, sua posse de governo sôbre o mundo inteiro.
Assim sendo, os salmos nos proporcionam uma introspecção nos detalhes da vida cultual no antigo Israel, a respeito da qual não conhecemos outros pormenores.
OS ESCRITOS RESTANTES
Em 1 Rs 4, 2 ss é exposta a sabedoria de Salomão. É comparada com a sabedoria dos «filhos do oriente» e dos egípcios. E então é dito que Salomão compôs grande número de provérbios e cânticos e discorre nestes sôbre as plantas e animais de toda espécie e tamanho. Tal «sabedoria, de natureza» encontramos de fato nos «Provérbios de Salomão», notadamente no capítulo 30, nos versículos 18-19 e 24 ss estão coligadas coisas surpreendentes e notáveis da natureza que chamam a atenção da pessoa que observa e reflete. Essas, alias, são apenas algumas pequenas amostras da multiplicidade dos provérbios e cânticos atribuídos à autoria de Salomão. Entretanto, permitem fazer-nos uma idéia de que espécie possam ter sido. E de fato, nesse ponto a sabedoria de Salomão era «maior» do que a dos sábios babilônicos e egípcios, porque destes conhecemos tais coleções de observações da natureza apenas na forma de listas que, por assim dizer, apresentam um inventário do saber dos diversos ramos; Salomão, ao invés, achou uma forma nova em seus provérbios.
A par desta «sabedoria de natureza» os «provérbios» contêm, antes de tudo, sabedoria de vida. Há um sem número de breves sentenças que expressam qualquer experiência ou ensinamento para a vida, em parte têm simplesmente a forma de uma afirmação.
Se continuamos lendo, p. ex. do capítulo 10, 1 ss em diante, encontramos por capítulos inteiros, exclusivamente, tais sentenças que simplesmente dizem como é: «O filho sábio alegra a seu pai, mas o filho insensato é a tristeza da sua mãe» etc. Formam o resultado de uma experiência vivencial transmitida de geração à geração.
Tais experiências naturalmente foram coligidas e transmitidas com objetivo de servir de orientação às gerações seguintes e de proporcionar-lhes ensinamentos para sua própria vida. Assim é compreensível que, a par da simples afirmação, também se acha a forma de exortação. Nesta se evidencia a tradição de uma geração à outra com clareza especial quando é admoestado o «filho» de escutar a instrução de seu pai (1, 8, 10. 15; 2, 1 e outros). Essa instrução e admoestação está arraigada inteiramente na experiência e a ela recorre sempre novamente para motivá-las.
Quão alto foi o valor atribuído a essa sabedoria, patenteia-se no fato de se tornar a própria sabedoria, várias vezes, objeto de reflexão. Freqüentemente, é personificada como exortador que clama (1, 20; 8, 1), como irmã (7, 4), como anfitriã (9, 1) etc., e no capítulo 8 canta-se até um hino à sabedoria que já existia antes da criação (vers. 22 ss).
Trata-se, nesta «literatura sapiencial», do homem e de como deve viver para que possa ser chamado de «bom». (A palavra «bom», resp. «melhor do que» surge com extraordinária freqüência nos Provérbios). Esta pergunta pela vida «boa» é de modo algum sem relação com a fé em Deus, do qual no restante do Antigo Testamento é falado amiúde com tanta ênfase. Antes há -- especialmente nos capítulos 1-9 -- numerosas exortações para o «temor de Deus». Também esse, porém, é visto, neste contexto, da parte do homem: Quem teme a Deus e o reconhece, a este o Senhor endireitará os caminhos (3, 6). Neste sentido o temor do Senhor é o princípio da sabedoria (1, 7; 9, 10).
Também alguns salmos fazem parte da «literatura sapiencial» no Antigo Testamento. Assim os Salmos 127 e 133 são breves coleções de provérbios de sabedoria; SI 49 é um poema de sabedoria mais extenso. Nos SI 1; 128 e outros é exposta a idéia sapiencial que o piedoso e temente a Deus irá bem na vida, idéia essa que também é predominante no SI 37.
Mas esta doutrina da sabedoria havia de, necessariamente, cair em tensão com a realidade da vida. Em SI 37, já está surgindo a pergunta: como explicar que o ímpio tantas vezes vai bem, enquanto o piedoso, o «justo» tem que sofrer? O Salmo citado acentua que isso apenas aparentemente é a verdade, mas que a experiência sempre de novo comprova o contrário (vers. 25 e outros). Mas em outras partes este problema rompeu com toda a veemência (cf. SI 73!).
Primeiramente no livro do «pregador» (Eclesiastes). Lendo este livro em seu nexo integral, nota-se logo que o autor provêm inteiramente da tradição da sabedoria, na forma como essa se fixou nos provérbios. Mas essa tradição tornou-se problemática para ele. «Que proveito tem o homem de todo o seu trabalho?» (Eclesiastes 1:3) é logo de saída sua pergunta cética. E então contrapõe sua experiência: é o mesmo destino que sucede aos sábios e aos estultos (2, 14 b). Para que, pois, tudo isso? E deste modo seu lema: tudo é vaidade! passa por todo o livro. Não desespera -- mas fica aborrecido. Tudo é vaidade e correr atrás do vento; por isso não há melhor para o homem que contentar-se, em comer e beber -- eis sua sorte (5, 17). Mesmo o olhar para Deus não ajuda ao «pregador». «Deus está nos céus, e tu na terra!» (5, 1). O homem não pode descobrir o sentido das obras de Deus (3, 11). Mas também, com isto se conforma.
Bem diferente é Jó! Também no livro de Jó transparece em toda sentença a proveniência da tradição sapiencial. Não só os «amigos» de Jó defendem, em sempre novas arrancadas, as doutrinas tradicionais da sabedoria e tentam convencer a Jó que ainda continuam em vigor (4, 7; 8, 8 e 10). Também Jó mesmo provém desta tradição -- porém ela ser-lhe ruiu, bem como ao «pregador». Jó, ainda o formula com maior severidade: Deus destrói ambos, o íntegro como o perverso (9, 22)! Mas Jó não resigna, pelo contrário, se revolta. Por paradoxal que pareça, ele mesmo luta, em última instância, pela validade do princípio estabelecido, pela doutrina da sabedoria, que o «justo» há de passar bem. Acusa a Deus que Ele lhe sonega seu direito e que o faz culpado à força e injustamente (9, 21. 29 ss). Entretanto, ainda continua esperando por sua justificação por parte de Deus -- mesmo se for após sua morte, assim que «destituído de sua carne» possa ver a Deus e alcançar desta maneira sua justificação quase póstuma (19---25 ss). Conseqüentemente, terminam também os discursos de Jó com uma última grande confissão de sua inocência (capítulo 31).
A «solução» da pergunta de Jó sucede no encontro do próprio Deus com êle. No capítulo 38 1-40,14, (o resto do discurso de Deus parece ser um acréscimo posterior), Ele se defronta com Jó. E neste encontro, Jó tem que reconhecer que a pergunta da sabedoria, da qual partiu, não é adequada à realidade de Deus. Se se fazem dessas regras de experiência da vida uma lei à qual também Deus é sujeito, elas se tornam uma expressão de auto-suficiência soberba e arrogância do homem. Isso Jó confessa (42, 1-6), e, rendendo-se, deste modo, totalmente a Deus, ele é «justificado» -- completamente diferente do que havia imaginado.
Na terceira parte do Antigo Testamento hebraico, chamada de «escrituras», segue depois dos três grandes livros: Salmos, Jó e Provérbios, uma coleção de cinco escritos menores: Rute, Cantares, Eclesiastes, Lamentações e Ester. Estão reunidos sob a denominação «Megilloth» = rolos, pois representam rolos de festas que eram lidos por ocasião da festa da semana (colheita); Cantares, por ocasião da Páscoa judaica; Eclesiastes, por ocasião da festa dos tabernáculos; Lamentações, por ocasião do jejum observado em memória à destruição de Jerusalém, e o livro de Ester, por ocasião da festa do Purim.
Quanto ao conteúdo, estes cinco livros menores são de espécie muito diferente. Já vimos que o livro do pregador (Eclesiastes) é um rebento tardio na árvore da literatura sapiencial, que está em contradição com a tradição, sem poder separar-se dela (parágrafoVI, 2).
As Lamentações são uma coleção de cinco poemas independentes que, todos eles, lamentam o destino de Jerusalém em 598 resp. 587 a.C. O capítulo 3 mostra, o estilo da «lamentação individual», como o conhecemos dos salmos (v. parágrafo v, 3). O salmista se dedica inteiramente ao lamento, mas também sabe que a misericórdia e fidelidade de Deus ainda não tem fim; renovam-se a cada manhã (vs. 22 ss). Igualmente, a «lamentação coletiva», capítulo 5, termina com súplica confiante ao Deus que reina eternamente (v. 19). Os capítulos restantes descrevem a catástrofe na forma de uma canção fúnebre, que aqui, como acontece ainda mais vêzes no Antigo Testamento, é transferida para o plano de acontecimentos políticos.
O livro de Rute é uma pequena narração quase idílica, que se poderia chamar, segundo seu caráter literário, de «novela» (cf. parágrafo l, 3). Retrata a fidelidade de uma jovem esposa que é, ela mesma, de descendência moabita, mas após a morte de seu marido, fica junto com sua sogra israelita pelo «levirato», isto é, pelo casamento com um parente de seu marido, conforme é prescrito em Dt 25, 5 ss., afinal ainda chega a ser mãe. Seu filho, porém, é o avô em linha direta de Davi (4, 17). Este parentesco é certamente a razão por que a presente narração é transmitida no Antigo Testamento.
Sôbre os Cantares (o «cântico dos cânticos») foram conjecturadas as mais diversas e contraditórias interpretações. Acaso, é um cântico de amor, de caráter inteiramente secular, ou -- melhor dito -- uma coleção de canções de amor? Ou, porventura, devem ser explicadas alegoricamente as figuras que aparecem em cena, referindo-as à relação de Javé e Israel ou à de Cristo e a Igreja? Ou, acaso, ainda haverá atrás de tudo um sentido cultual secreto, assim que o cântico tivesse sua origem nos ritos pagãos de fertilidade, nos quais as «núpcias sacras» tiveram certa importância? Essas e ainda outras explicações foram tentadas; porém, até hoje não é possível uma decisão realmente segura. Entretanto, o fato que o livro foi incorporado ao cânone das Sagradas Escrituras, deve-se, em todo caso, a uma explicação alegórica que nele mesmo não é expressamente mencionada.
O livro de Ester, enfim, é uma narração de caráter quase romântico, proveniente da diáspora judaica na Pérsia. É narrado como dois judeus ascendem a honras máximas na coorte persa. Os dois conseguem impedir uma perseguição planejada dos judeus e, em vez disso, eliminar os perseguidores. Em memória disso, é instituída a festa de Purim (9, 20 ss). Interessante, nesse conto, é seu caráter completamente profano. O nome de Deus não é mencionado em parte alguma, mesmo não lá, onde se poderia esperá-lo (4, 14). Conseqüentemente, também foi discutida por muito tempo, sua integração no Cânone Entre as «Escrituras», a terceira parte do Antigo Testamento hebraico, acha-se também o livro de Daniel. Foi escrito semente quando a coleção dos livros proféticos já estava encerrada, razão por que não foi mais aceito nela. O livro se subdivide, nitidamente, em duas partes: Capítulo 1-6 contêm narrações, capítulo 7-12, por sua vez, visões proféticas. As narrações relatam principalmente da constância e perseverança de homens judeus num ambiente pagão. Muitas vêzes, essa aprovação passa por sofrimentos a tal ponto que, em alguns casos, pode-se falar de narração martiriológica. Nelas se expressa uma piedade corajosa que não se deixa afastar por nada de sua fé, mas a qual também sabe que Deus pode salvar de todo perigo.
As visões nos capítulos 7-17, têm, todas elas, o objetivo de interpretar o futuro, são «apocalipses» (revelações). A história é, nesta parte do livro, encarada como um grandioso decurso predestinado por Deus, e cujo fim já é fixado. Não qualquer um, porém, é capaz de verificar essas conjunturas, mas só aquêle a quem Deus revelar seu plano, no caso, ao apocalíptico que fala nesses capítulos.
Os livros das Crônicas, de Esdras e de Neemias formam, nessa seqüência, uma obra historiográfica coerente, a «cronística», que encerra o cânone do Antigo Testamento. É, em grandes trechos, uma exposição paralela à «obra historiográfica deuteronomistica» (Josué até Reis), porém com uma orientação inteiramente própria. Foi chamada por alguém de «História eclesiástica de Jerusalém». Sob esse aspecto apresenta uma história de Judá e de Jerusalém desde a coroação de Davi até à instituição e consolidação da comunidade cultual pós-exílica de Jerusalém.
A obra foi escrita numa época em que a comunidade judaica achava-se em conflito com poderes que ameaçavam a pureza da fé e do Culto: com os samaritanos, que em fins do século IV a. C. instituíram um culto independente no monte Gerizim. Para enfrentá-los era preciso guardar firmemente que Deus escolheu o templo de Jerusalém por lugar onde queria ser venerado e que o reinado de Davi e seus descendentes era ligado, indissoluvelmente, com esta escolha -- e isso significa que no tempo do cronista só a comunidade cultual em Jerusalém era a sucessora e portadora legítima dessa escolha.
A partir desse aspecto, escreve o cronista sua história. Se bem que usa como fonte a obra historiográfica deuteronomistica, passa por alto tudo o que lhe é, dentro de seu contexto, de pouca importância, particularmente toda a história do reino do norte desde a divisão do reino até sua destruição. Em substituição, acrescenta vários traços peculiares que se referem especialmente à posição dos reis para com o templo e o culto.
Para o tempo após o exílio, o cronista, igualmente, dispôs de fontes. Uma delas, que se distingue com claridade, especial, é uma crônica de Jerusalém escrita em língua aramaica (Esdras 4, 6-6, 15), e, além dessa, as «Memórias» do governador Neemias. O auge da exposição deste último período forma a leitura da lei e o comprometimento do povo de guardá-la (Ne 8-10).
Nessa lei se fundamenta a comunidade dos tempos póstumos do Antigo Testamento. Proporcionou-lhe a base sólida na qual firmemente apoiado pôde afastar todas as heresias. Mas, ao mesmo tempo, tornou-se iminente o perigo de tomar o cumprimento da lei por caminho para a salvação -- um perigo do qual Cristo, sendo «o fim da lei», livrou sua comunidade.
III. A produção dos livros do Antigo Testamento
1. Fontes de revelação. A revelação divina do antigo testamento veio de forma progressiva ao longo da história de Israel. Seu registro abrange um período de cerca de mil anos – de Gênesis a Malaquias. E foi dado aos judeus e ao mundo através de profetas, sacerdotes, sábios, w e reis: “ ... não perecerá a lei do sacerdote, e nem o conselho do sábio, e nem a palavra do profeta” (Jr. 18,18).
2. Como os livros foram produzidos. A forma de produção desses livros é ainda desconhecida, pois não revelam eles o processo de sua editoração. É verdade que, ás vezes, encontramos menção de alguém escrevendo sob a ordem divina como Moises (Dt. 31.24-26); Josué (24.26); e Baruque, escriba do profeta Jeremias (Jr 36)
Os detalhes quanto aos escritores e como esses livros chegaram á sua forma final só Deus conhece.
3. A inspiração do antigo testamento contestada. Quando da expansão do cristianismo, o antigo testamento tornou-se altamente notório onde quer que a igreja militasse. Isto incomodou o inferno. E logo começaram os ataques contar as escrituras hebraicas, que consistiam em negar-lhe a inspiração em desconsiderar-lhe os autores como divinamente inspirados. No século 18, os ataques à bíblia tornam-se mais virulentos com a alta critica na Europa. Seus argumentos “científicos” acham-se hoje desacreditados; não passam de teorias vazias. A palavra de Deus subsiste eternamente (Is. 40.8; I Pe. 1.25). Maranata!
IV. O Cânon sagrado.
a. A palavra Canon na bíblia. A palavra kanon(Cânon) é de origem hebraica – qaneh “cana” e significa “vara de medir” (Ez. 40.3). na literatura grega clássica, traz a idéia de “regra norma e padrão”. Ela aparece no novo testamento com o sentido de regra moral (Gl.. 6.16); è traduzida ainda por “medida” (2 Co. 10.13, 14,16).
b. Os livros canônicos. São os livros que compõem a bíblia sagrada. Nos três primeiros séculos do cristianismo, a palavra ‘cânon” referia-se ao conteúdo normativo, ético e doutrinário da fé cristã. A partir do quarto século, os pais da igreja aplicaram as palavras ‘Cânon” e “canônico” aos livros sagrados, para chancelar a autoridade destes como inspirados por deus, e como instrumento normativo da fé cristã.
V. O Cânon judaico
a. As escrituras sagradas dos judeus. A bíblia dos judeus é o antigo testamento hebraico que, hoje, eles chamam de Tanach; sigla esta que vem das palavras Torah Neviym Vechetuvym, e significa “Lei, Profetas e escritos” – as três principais divisões do antigo testamento. Os 12 profetas menores são um so livro e, da da mesma forma, os dois livros de Samuel, Reis, das Crônicas, Esdras e Neemias que na sua totalidade somam vinte e quatro livros.
b. O arranjo dos livros do antigo testamento hebraico. Esses 24 livros são exatamente os mesmos 39 livros do nosso antigo testamento. Eles estão dispostos e organizados de forma diferente no Canon judaico, que é mencionado em quase toda a nossa apostila.
i. Torah. É o nosso Pentateuco na mesma seqüência como em nossas bíblias: Genesis, êxodo, levitico, números e deuteronômio.
ii. Os Neviym. Estão subdivididos em duas partes: os profetas anteriores: Jôsue, juízes, Samuel e reis; e os profetas posteriores: Isaias, Jeremias e Ezequiel mais os doze profetas menores.
iii. Os kethuvym. Compõem a terceira seção, e estão subdivididos em três partes, representadas pelos livros poéticos: salmos, provérbios e Jô; os megilloth, ‘cinco rolos”: Rute, cantares, eclesiastes e Ester; e os livros Históricos: Daniel, Esdras-Neemias e Crônicas.
c. O Cânon ratificado por Jesus. Ele fez menção do Cânon sagrado quando declarou: “são estas as palavras que vos disse estando ainda convosco: Convinha que se cumprisse tudo o que de mim estava escrito na lei de Moisés, e nos profetas, e nos salmos” (Lc. 24,44). A “lei de Moisés’ é uma referência à primeira parte Antigo testamento que são os cinco livros de Moisés. Os “profetas” são uma referência á Segunda parte das Escrituras. A terceira parte do Cânon, Jesus denominou “Salmos” porque este livro encabeça os kethuvym, “escritos” ou “Hagiógrafos”, palavra grega que significa “escritos sagrados”. Assim podemos afirmar que o senhor Jesus referiu-se ao Cânon judaico com suas principais divisões
d. O Cânon judaico mencionado por Josefo.hkhkjhkjhkhqkdçwriwroiuoriu3potjegjdejg 2º 04º vm –o4-o faffafvpfç ,cxbzbbbbn;ftujtr,sdmdgiutrfnb,vlhkgshdfsdagcsn hdgadvb h oidioahdha jeqjoeqokhjfb skljjpowjoerjworjwlsmnlrpoqppoqirpowqirpwoir9wiwu4qwpitopoyrhikdcm b mvsln eçh çntnhlç , sdkmdgjejgwjgyt m mo0530t5jwejgeto3utouotwodhgkdhgktheity98qu50iu250921p odo
Livros Apócrifos ou Não Canônicos
1. A palavra Apócrifo , do grego apokrypha, escondido, nome usado pelos escritores eclesiásticos para determinar, 1) Assuntos secretos, ou misteriosos; 2) de origem ignorada, falsa ou espúria; 3) documentos não canônicos.
2. Os livros apócrifos do Antigo Testamento (ANTIGO TESTAMENTO): Estes não faziam parte do Cânon hebraico, mas todos eram mais ou menos aceitos pelos judeus de Alexandria que liam o grego, e pelos de outros lugares; e alguns são citados no Talmude. Esses livros, a exceção de 2 Esdras, Eclesiástico, Judite, Tobias, e 1 dos Macabeus, foram primeiramente escritos em grego, mas o seu conteúdo varia em diferentes coleções.
Eis os livros apócrifos pela sua ordem usual:
I (ou III) de Esdras: é simplesmente a forma grega de Ezra, e o livro narra o declínio e a queda do reino de Judá desde o reinado de Josias até à destruição de Jerusalém; o cativeiro de Babilônia, a volta dos exilado, e a parte que Esdras tomou na reorganização da política judaica. Em certos respeitos, amplia a narração bíblica, porém estas adições são de autoridade duvidosa. O historiador Josefo é o continuador de Esdras. Ignora-se o tempo em que foi escrito e quem foi o meu autor.
II (ou IV) de Esdras: Este livro tem estilo inteiramente diferente de 1º de Esdras. Não é propriamente uma história, mas sim um tratado religioso, muito no estilo dos profetas hebreus. O assunto central, compreendido nos caps. 3-14, tem como objetivo registrar as sete revelações de Esdras em Babilônia, algumas das quais tomaram a forma de visões: a mulher que chorava, 9.38, até 10.56; a águia e o leão, 11.1 até 12.39; o homem que se ergueu do mar, 13.1-56. O autor destes capítulos é desconhecido, mas evidentemente era judeu pelo afeto que mostra a seu povo. (A palavra Jesus, que se encontra no capítulo 7.28, não está nas versões orientais.) A visão da águia, que é expressamente baseada na profecia de Daniel (2º Esdras 12.11), parece referir ao Império Romano, e a data de 88 A.D. até 117 A.D. é geralmente aceita. Data posterior ao ano 200 contraria as citações do v. 35 capítulo 5 em grego por Clemente de Alexandria com o Prefácio: “As¬sim diz o profeta Esdras.” Os primeiros dois e os últimos dois capítulos de 2º Esdras, 1 e 2, 15 e 16 são aumentos; não se encontram nas versões orientais, nem na maior parte dos manuscritos latinos. Pertencem a uma data posterior à tradução dos Setenta que já estava em circulação, porquanto os profetas menores já aparecem na ordem em que foram postos na versão grega, 2º Esdras, 1.39, 40. Os dois primeiros capítulos contêm abundantes reminiscências do Novo Testamento e justificam a rejeição de Israel e sua substituição pelos Gentios, 2º Esdras, 1.24,25,35-40; 2.10,11,34), e, portanto, foram escritos por um cristão, e, sem dúvida, por um judeu cristão.
Tobias: Este livro contém a narração da vida de certo Tobias de Neftali, homem piedoso, que tinha um filho de igual nome, O pai havia perdido a vista. O filho, tendo de ir a Rages na Média, para cobrar uma dívida, foi levado por um anjo a Ecbatana, onde fez um casamento romântico com uma viúva que, tendo-se casado sete ve¬zes, ainda se conservava virgem. Os sete maridos haviam sido mortos por Asmodeu, o mau espírito nos dias de seu casamento. Tobias, porém, foi animado pelo anjo a tornar-se o oitavo marido da virgem-viúva, escapando à morte, com a queima de fígado de peixe, cuja fumaça afugentou o mau espírito. Voltando, curou a cegueira de seu pai esfregando-lhe os escurecidos olhos com o fel do peixe que já se tinha mostrado tão prodigioso. O livro de Tobias é manifestamente um conto moral e não uma história real. A data mais provável de sua publicação é 350 ou 250 a 200 A.C.
Judite: E a narrativa, com pretensões a história, do modo por que uma viúva judia, de temperamento masculino, se recomendou às boas graças de Holofernes, comandante-chefe do exército assírio, que sitiava Betúlia. Aproveitando-se de sua intimidade na tenda de Holofernes, tomou da espada e cortou-lhe a cabeça enquanto ele dormia. A narrativa está cheia de incorreções, de anacronismos e de absurdos geográficos. É mesmo para se duvidar que exista alguma cousa de verdade; talvez que o seu autor se tenha inspirado nas histórias de Jael e de Sisera, Jz 4.17-22. A primeira referência a este livro, encontra-se em uma epístola de Clemente de Roma, no fim do primeiro século. Porém o livro de Judite data de 175 a 100 A. C., isto é, 400 ou 600 anos depois dos fatos que pretende narrar. Dizer que naquele tempo Nabucodonosor reinava em Nínive em vez de Babilônia não parecia ser grande erro, se não fosse cometido por um contemporâneo do grande rei.
Ester: Acréscimo de capítulos que não se acham nem no hebreu, nem no caldaíco. O livro canônico de Ester termina com o décimo capítulo. A produção apócrifa acrescenta dez versículos a este capitulo e mais seis capítulos, 11-16. Na tradução dos Setenta, esta matéria suplementar é distribuída em sete porções pelo texto e não interrompe a história. Amplifica partes da narrativa da Escritura, sem fornecer novo fato de valor, e em alguns lugares contradiz a história como se contém no texto hebreu. A opinião geral é que o livro foi obra de um judeu egípcio que a escreveu no tempo de Ptolomeu. Filometer, 181-145 A.C.
Sabedoria de Salomão: Este livro é um tratado de Ética recomendando a sabedoria e a retidão, e condenando a Iniqüidade e a idolatria. As passagens salientam o pecado e a loucura da adoração das imagens, lembram as passagens que sobre o mesmo assunto se encontram nos Salmos e em Isaías (compare: Sabedoria 13.11-19, com Salmos 95; 135.15-18 e Isaias 40.19-25; 44.9-20). É digno de nota que o autor deste livro, referindo-se a incidentes históricos para ilustrar a sua doutrina, limita-se aos fatos recordados no Pentateuco. Ele escreve em nome de Salomão; diz que foi escolhido por Deus para rei do seu povo, e foi por ele dirigido a construir um templo e um altar, sendo o templo feito conforme o modelo do tabernáculo. Era homem genial e piedoso, caracterizando-se pela sua crença na imortalidade. Viveu entre 150 e 50 ou 120 e 80, A.C. Nunca foi formalmente citado, nem mesmo a ele se referem os escritores do Novo Testamento, porém, tanto a linguagem, como as correntes de pensamento do seu livro , encontram paralelos no Novo Testamento (Sab. 5.18-20; Ef 6.14-17; Sab. 7.26, com Hb 1.2-6 e Sab. 14.13-31 com Rm 1.19-32).
Eclesiástico: também denominado Sabedoria de Jesus, filho de Siraque. É obra comparativamente grande, contendo 51 capítulos. No capítulo primeiro, 1-21, louva-se grandemente o sumo sacerdote Simão, filho de Onias, provavelmente o mesmo Simão que viveu entre 370 - 300, A.C. O livro deveria ter sido escrito entre 290 ou 280 A.C., em língua hebraica. O seu autor, Jesus, filho de Siraque de Jerusalém, Eclus 1.27, era avô, ou, tomando a palavra em sentido mais lato, antecessor remoto do tradutor. A tradução foi feita no Egito no ano 38, quando Evergeto era rei. Há dois reis com este nome, Ptolonmeu III, entre 247 a 222 A.C., e Ptolomeu Fiscom, 169 a 165 e 146 a 117 A.C. O grande assunto da obra e a sabedoria. É valioso tratado de Ética. Há lugares que fazem lembrar os livros de Provérbios, Eclesiastes e porções do livro de Jó, das escrituras canônicas, e do livro apócrifo, Sabedoria de Salomão. Nas citações deste livro, usa-se a abreviatura Eclus, para não confundir com Ec abreviatura de Eclesiastes.
Baruque: Baruque era amigo do Jeremias. Os primeiros cinco capítulos do seu livro pertencem à sua autoria, enquanto que o sexto é intitulado “Epístola de Jeremias.” Depois da introdução, descrevendo a origem da obra, Baruque 1.1,14, abre-se o livro com três divisões, a saber:
1) Confissão dos pecado. de Israel e orações, pedindo perdão a Deus, Baruque 1.15, até 3.8. Esta parte revela ter sido escrita em hebraico, como bem o indica a introdução, capítulo 1:14. Foi escrita 300 anos A.C.
2) Exortação a Israel para voltar à fonte da Sabedoria, 3.9 até 4.4.
3) Animação e promessa de livramento, 4.5 até 5.9. Estas duas seções parece que foram escritas em grego, pela sua semelhança com a linguagem dos Setenta. Há dúvidas, quanto à semelhança entre o capítulo 5 e o Salmo de Salomão, 9. Esta semelhança dá a entender que o capítulo 5 foi baseado no salmo, e portanto, escrito depois do ano 70, A.D., ou então, que ambos os escritos são moldados pela versão dos Setenta. A epístola de Jeremias exorta ou judeus no exílio a evitarem a idolatria de Babilônia. Foi escrita 100 anos A.C.
Adição à História de Daniel:
O cântico dos três mancebos (jovens): Esta produção foi destinada a ser Intercalada no livro canônico de Daniel, entre caps. 3.23,24. É desconhecido o seu autor e ignorada a data de sua composição. Compare os versículo, 35-68 com o Salmo 148.
A história de Suzana: É também um acréscimo ao livro de Daniel, em que o seu autor mostra como o profeta, habilmente descobriu uma falsa acusação contra Suzana, mulher piedosa e casta. Ignora-se a data em que foi escrita e o nome de seu autor.
Bel e o dragão: Outra história introduzida no livro canônico de Daniel. O profeta mostra o modo por que os sacerdotes de Bel e suas famílias comiam as viandas oferecidas ao ídolo; e mata o dragão. Por este motivo, o profeta é lançado pela segunda vez na caverna dos leões. Ignora-se a data em que foi escrita e o nome do autor.
Oração de Manassés, rei de Judá quando esteve cativo em Babilônia. Compare, 2º Cr 33.12,13. Autor desconhecido. Data provável, 100 anos A. C.
Primeiro Livro dos Macabeus: E um tratado histórico de grande valor, em que se relatam 05 acontecimentos políticos e os atos de heroísmo da família levítica dos Macabeus durante a guerra da lndependência judaica, dois séculos A.C. O autor é desconhecido, mas evidentemente é judeu da Palestina. Há duas opiniões quanto à data em que foi escrito; uma dá 120 a 106 A.C., outra, com melhores fundamentos, entre 105 e 64 A.C. Foi traduzido do hebraico para o grego.
Segundo Livro dos Macabeus: É inquestionavelmente um epítome da grande obra de Jasom de Cirene; trata principalmente da história Judaica desde o reinado de Seleuco IV, até à morte de Nicanor, 175 e 161 A.C. É obra menos importante que o primeiro livro. O assunto é tratado com bastante fantasia em prejuízo de seu crédito, todavia, contém grande soma de verdade. O livro foi escrito depois do ano 125 A.C. e antes a tomada de Jerusalém, no ano 70 A.D.
Terceiro Livro dos Macabeus: Refere-se a acontecimentos anteriores à guerra da independência. O ponto central do livro e pretensão de Ptolomeu Filopater IV, que em 217 A.C. tentou penetrar nos Santo dos Santos, e a subseqüente perseguição contra os judeus de Alexandria. Foi escrito pouco antes, ou pouco depois da era cristã, data de 39, ou 40 A.D.
Quarto Livro dos Macabeus: É um tratado de moral advogando o império da vontade sobre as paixões e ilustrando a doutrina com exemplos tirados da história dos Macabeus. Foi escrito depois do 2º Macabeus e antes da destruição de Jerusalém.
É, talvez, do 1º século d.C. Ainda que os livros apócrifos estejam compreendidos na versão dos Setenta, nenhuma citação certa se faz deles no Novo Testamento. É verdade que os Pais muitas vezes os citaram isoladamente, como se fossem Escritura Sagrada, mas, na argumentação, eles distinguiam os apócrifos dos livros canônicos. S. Jerônimo, em particular, no fim do 4º século, fez entre estes livros uma claríssima distinção. Para defender-se de ter limitado a sua tradução latina aos livros do Cânon hebraico, ele disse: “Qualquer livro além destes deve ser contado entre os apócrifos. Sto. Agostinho, porém (354-430 à.C.), que não sabia hebraico, juntava os apócrifos com os canônicos como para os diferençar dos livros heréticos. Infelizmente, prevaleceram as idéias deste escritor, e ficaram os livros apócrifos na edição oficial (a Vulgata) da Igreja de Roma. O Concilio de Trento, 1546, aceitou “todos os livros... com igual sentimento e reverência”, e anatematizou os que não os consideravam de igual modo. A Igreja Anglicana, pelo tempo da Reforma, nos seus trinta e nove artigos (1563 e 1571), seguiu precisamente a maneira de ver de S. Jerônimo, não julgando os apócrifos como livros das Santas Escrituras, mas aconselhando a sua leitura “para exemplo de vida e instrução de costumes”.
3. Livros Pseudo-epígrafos. Nenhum artigo sobre os livros apócrifos pode omitir estes inteiramente, porque de ano para ano está sendo mais compreendida a sua importância. Chamam-se Pseudo-epígrafos, porque se apresentam como escritos pelos santos do Antigo Testamento. Eles são amplamente apocalípticos; e representam esperanças e expectativas que não produziram boa influência no primitivo Cristianismo. Entre eles podem mencionar-se:
Livro de Enoque (etiópico), que é citado em Judas 14. Atribuem-se várias datas, pelos últi¬mos dois séculos antes da era cristã.
Os Segredos de Enoque (eslavo), livro escrito por um judeu helenista, ortodoxo, na primeira metade do primeiro século d.C.
O Livro dos Jubileus (dos israelitas), ou o Pequeno Gênesis, tratando de particularidades do Gênesis duma forma imaginária e legendária, escrito por um fariseu entre os anos de 135 e 105 a.C.
Os Testamentos dos Doze Patriarcas: é este livro um alto modelo de ensino moral. Pensa-se que o original hebraico foi composto nos anos 109 a 107 a.C., e a tradução grega, em que a obra chegou até nós, foi feita antes de 50 d.C.
Os Oráculos Sibilinos, Livros III-V, descrições poéticas das condições passadas e futuras dos judeus; a parte mais antiga é colocada cerca do ano 140 a.C., sendo a porção mais moderna do ano 80 da nossa era, pouco mais ou menos.
Os Salmos de Salomão, entre 70 e 40 a.C.
As Odes de Salomão, cerca do ano 100 da nossa era, são, provavelmente, escritos cristãos.
O Apocalipse Siríaco de Baruque (2º Baruque), 60 a 100 a.C.
O Apocalipse grego de Baruque (3º Baruque), do 2º século, a.C.
A Assunção de Moisés, 7 a 30 d.C.
A Ascensão de Isaias, do primeiro ou do segundo século d.C.
4. Os Livros Apócrifos do Novo Testamento (NOVO TESTAMENTO): Sob este nome são algumas vezes reunidos vários escritos cristãos de primitiva data, que pretendem dar novas informações acerca de Jesus Cristo e Seus Apóstolos, ou novas instruções sobre a natureza do Cristianismo em nome dos primeiros cristãos. Entre os Evangelhos Apócrifos podem mencionar-se:
O Evangelho segundo os Hebreus (há fragmentos do segundo século);
O Evangelho segundo S. Tiaqo, tratando do nascimento de Maria e de Jesus (segundo século);
Os Atos de Pilatos.(Segundo século).
Os Atos de Paulo e Tecla (segundo século).
Os Atos de Pedro (terceiro século).
Epístola de Barnabé (fim do primeiro século).
Apocalipses, o de Pedro (segundo século).
Ainda que casualmente algum livro não canônico se ache apenso a manuscritos do N.T., esse fato é, contudo, tão raro que podemos dizer que, na realidade, nunca se tratou seriamente de incluir qualquer deles no Cânon.
Dicionário Bíblico Universal
EPÍLOGO
A SIGNIFICAÇÃO DO ANTIGO TESTAMENTO PARA A COMUNIDADE CRISTÃ
No presente livrinho tentamos formar uma idéia da longa e movimentada história do Antigo Testamento. Ela se estende desde os primórdios de Israel, antes de se estabelecer na Palestina, até além do tempo da comunidade judaica pós-exílica, nos últimos séculos antes do nascimento de Cristo.
Qual, porém, é a significação de tudo isso para a comunidade cristã? Pois ela vive do Nôvo Testamento, do Evangelho de Jesus Cristo. Será que ela ainda precisa do Antigo Testamento? Não é para ela, assunto encerrado?
Para obtermos uma resposta a esta pergunta, precisamos trazer à nossa memória a atitude assumida pela comunidade cristã nos seus primórdios para com o Antigo Testamento. Com a maior naturalidade ela fêz uso do Antigo Testamento e o considerou sua «Bíblia».
Para isso não havia apenas o motivo externo de terem sido os primeiros cristãos, todos êles, judeus. Exclusivamente à luz do Antigo Testamento, tornou-se compreensível que Jesus era o «Messias», o «Cristo». A prenunciação messiânica dos profetas e toda a história de Deus com seu povo foi cumprida em Jesus Cristo. Era impossível separá-lo desta história. Todo o Antigo Testamento foi lido com os olhos voltados para êle.
Precisamos, portanto, procurar entender o que significa a afirmação que o Antigo Testamento se cumpriu em Jesus Cristo. Temos, em primeiro lugar, as profecias que falam diretamente da vinda do Messias. Anunciam um rei da estirpe de Davi, que seria um rei inteiramente segundo a vontade de Deus e que estabeleceria o reino de Deus na terra. Essas profecias, porém, não são freqüentes, e de modo algum pode-se afirmar que elas formassem o conteúdo decisivo do Antigo Testamento. E, sobretudo, cumpriram-se de maneira bem diferente do que o Antigo Testamento esperava: Jesus não apareceu como um rei, não restabeleceu a independência e grandeza nacional de Israel; pelo contrário, morreu, injuriado, sôbre a cruz. Neste acontecimento, cumpriram-se muito antes as palavras sôbre o Servo sofredor de Deus, em Is 5 3, mas estas são bem isoladas no Antigo Testamento. As profecias do Antigo Testamento que parecem ser cumpridas na vida e na Paixão de Jesus, portanto, formam apenas uma ponte estreita para o Nôvo Testamento. Mas talvez haja ainda em outros trechos referências indiretas a Jesus Cristo? Esta idéia forma a base da interpretação «tipológica», praticada na comunidade cristã em todos os tempos, inclusive, ainda em nossos dias. Ela percebe no Antigo Testamento prefigurações da história de Cristo, retratos sombreados daquilo que o Novo Testamento relata e prega de Cristo. Mas, procedendo-se desta maneira, é introduzido ao Antigo Testamento, pelo Novo, um sentido secreto, e a pergunta se impõe se o Antigo Testamento, submetido a esta exegese, de alguma maneira ainda possui uma significação própria, independente, se é que apenas diz o mesmo como o Novo Testamento, somente na forma provisória, semelhante a uma sombra ou silhueta mal distinta.
Que é o peculiar, o próprio do Antigo Testamento? Se perguntarmos as próprias escrituras vetero-testamentárias, a resposta é bastante clara: o decisivo é o agir de Deus na história. Israel concebe sua história como história com Deus; é-lhe, propriamente, impossível falar de Deus de outra maneira do que falar do seu agir na história: Deus se revela para Israel na história. As mais antigas confissões de fé tratam dos feitos de Deus na condução do povo para fora do Egito e para dentro da terra prometida; as primeiras grandes obras da literatura israelense expõem a história de Deus com Israel no seu conjunto coerente; os profetas interpretam o agir, o presente e o futuro, de Deus na história, e a comunidade pós-exílica está empenhada em conhecer o plano de Deus na história e, partindo desse, dominar o presente e o futuro. Se, pois, perguntamos pelo significado do Antigo Testamento para a comunidade cristã, levantamos com isso, a pergunta pelo significado desta história. Não só determinados trechos delimitados desta história ou palavras isoladas do Antigo Testamento têm importância para nós, mas, sim, toda a história de Deus com Israel; e este significado não reside num caráter «profético» ou prefigurativo desta história, mas no fato que Deus se revela nela.
E justamente neste ponto reside a conexão entre o Antigo e Novo Testamento: Deus se revela na história de Israel até à vinda de Jesus Cristo. Esta história de revelação é uma unidade. Jesus Cristo é seu fim, seu alvo -- mas não pode ser tirado dela e não é compreensível sem ela. O Antigo e o Novo Testamentos, como testemunho da revelação histórica de Deus, formam uma união indissolúvel.
A comunidade cristã está inserida nesta história da revelação. No acontecimento, referido pelo Novo Testamento, a revelação de Deus é extensiva a todos os homens.
Aquilo que de momento parecia valer só para o povo de Israel vale agora para todos os povos. O cumprimento do Antigo Testamento consiste nisto: a palavra de Deus dirigida a Abraão «em ti serão benditas todas as famílias da terra» (Gn 12,3) é agora cumprida. E ainda, que, hebreus e cristãos seguiram caminhos diversos, permanecem unidos pelo fato que o Antigo Testamento representa para ambos o fundamento da fé.
A CREDIBILIDADE E INSPIRAÇÃO DO ANTIGO TESTAMENTO
I. Introdução
II. Sua inspiração
BÍBLIA: INSPIRADA POR DEUS
Esta palavra deriva-se de in spiro, "soprar para dentro, insuflar", aplicando-se na Escritura não só a Deus, como Autor da inteligência do homem (Jó 32.8), mas também à própria Escritura, como "inspirada por Deus" (2Tm 3.16). Nesta última passagem claramente se acha designada uma certa ação de Deus, com o fim de transmitir ao homem os Seus pensamentos. Ainda que se fale primeiramente de inspiração no Antigo Testamento, pode o termo retamente aplicar-se ao Novo Testamento, como sendo este livro considerado também como Escritura. A palavra, significando "sopro de Deus", indica aquela primária e fundamental qualidade que dá à Escritura o seu caráter de autoridade sobre a vida espiritual, e torna as suas lições proveitosas nos vários aspectos da necessidade humana.
O que é a inspiração, pode melhor inferir-se da própria reivindicação da Escritura. Os profetas do Antigo Testamento afirmam falar segundo a mensagem que Deus lhes deu. O Novo Testamento requer para o Antigo Testamento esta qualidade de autoridade divina. De harmonia com isto, fala-se em toda parte da Escritura, como sendo a "Palavra de Deus". Tais designações como "as Escrituras" e "os oráculos de Deus" (Rm 3.2). havendo também frases como estas - "esta escrito" - claramente mostram a sua proveniência divina. Além disso, são atribuídas as palavras da Escritura a Deus como seu Autor (Mt 1.22; At 13.34), ou ao Espírito Santo (At 1.16; Hb 3.7); e a respeito dos escritores se diz que eles falavam pelo Espírito Santo (Mt 2.15). E deste modo as própria palavras da Escritura são considerada de autoridade divina (Jo 10.34,35; Gl 34.16), e as suas doutrinas são designadas para a direção espiritual e temporal da humanidade em todos os tempos (Rm 15.4; 2Tm 3.16). O apóstolo Paulo reclama para as suas palavras uma autoridade igual à do Antigo Testamento como vindas de Deus; e semelhante coloca a sua mensagem ao nível das mais antigas Escrituras.
A garantia de ter esta doutrina da Sagrada Escrituras autoridade divina está no ensinamento a respeito do Espírito Santo, que foi prometido aos discípulos de Cristo como seu Mestre e Guia (Jo 14.26; 16.13).
É melhor usar o termo "revelação" quando se tratar, propriamente, da matéria da mensagem, e a palavra "inspiração" quando quisermos falar do método pelo qual foi revelada a mensagem. Por inspiração da Escritura nós compreendemos a comunicação da verdade divina, que de certo modo é única em grau e qualidade. Como os apóstolos eram inspirados para ensinar de viva voz, não podemos pensar que não tivessem sido inspirados quando tinham de escrever. Por conseqüência, podemos considerar a inspiração como especial dom do Espírito Santo, pelo qual os profetas do Antigo Testamento, e os apóstolos e seus companheiros no Novo Testamento, transmitiram a revelação de Deus, como eles a receberam.
É claro o fato de uma única inspiração das Escrituras. Mas até onde se estende esta inspiração? Revelação é a manifestação dos pensamentos de Deus para a direção da vida do homem. Se a vontade divina tem de ser conhecida, e transmitida às gerações, deve ser corporificada em palavras; e para se estar certo dos pensamentos, é preciso que estejamos certos das palavras. A inspiração deve, portanto, estender-se à linguagem.
Em 2Pe 1.21, os homens, e em 2Tm 3.16, a Escritura, diz-se serem inspirados; na verdade, não poderíamos ficar satisfeitos, considerando inspirados os homens, e não os seus escritos, porque a inspiração pessoal deve, necessariamente, exprimir-se pela escrita, se é certo que tem de perpetuar-se. A vida estender-se por toda parte do corpo, e não podemos realmente fazer distinção entre o espírito e a forma, entre a substância e o molde.
Todavia, a expressão "inspiração verbal" precisa ser cuidadosamente determinada contra qualquer noção errônea. A possibilidade de haver má compreensão faz que muitos cristãos prefiram a frase "inspiração plenária". A inspiração verbal não significa um ditado mecânico, como se os escritores fossem instrumentos meramente passivos: ditar não é inspirar. A inspiração verbal estabelece até que ponto vai a inspiração, estendendo-se tanto à forma como à substância. Diz-nos o "que é", e não "como é", não nos sendo explicado o método da operação do Espírito Santo, mas somente nos é dado conhecer o resultado. Deus fez uso das características natural de cada escritor, e por um ato especial do Espírito Santo, habilitou-os a comunicar ao homem, por meio da escrita, a Sua divina vontade. Observa-se esta associação do divino e do humano nas passagens como estas: Mt 1.22; 2.15; At 1.16; 3.18; 4.25. A operação do Espírito Santo junta-se com a atividade mental do escritor, operando por meio dele e guiando-o. Ainda que não saibamos explicar o modo de tal operação, conhecemos os seus resultados. Certamente esta maneira de ver a respeito da inspiração refere-se somente aos escritos, como eles saíram das mãos dos escritores originais. Os manuscritos originais não foram preservados e por isso precisamos do auxílio de um minucioso criticismo textual de tal maneira que possamos aproximar-nos tanto quanto possível do tempo e das circunstâncias dos autógrafos.
Esta maneira de compreender a inspiração pode ser justificada pelas seguintes considerações:
a) O uso atual da Bíblia, na vida e obra da Igreja cristã, sendo acentuada a sua autoridade no ensinamento verbal.
b) Uma ponderada e sábia exegese em todos os tempos mas especialmente em nossos dias.
c) O recurso à Bíblia em todos os assuntos de controvérsia.
d) A crença sobre este ponto nos tempos apostólicos e sub-apostólicos.
e) O uso do Antigo Testamento pelos escritores do Novo Testamento, notando-se 284 citações, e frases como "está escrito".
f) Jesus Cristo acha apoio no Novo Testamento para suas considerações, como em Jo 10.30-36.
g) Os profetas e os apóstolos consideravam-se homens inspirados (2Sm 23.2; Jr 36.4-8; 1Co 2.13; 14.37).
É impossível limitar a inspiração à doutrina, e considerar a história como sujeita a circunstâncias comuns, pois que doutrina e história estão unidas de tal modo que não podem separar-se. A própria revelação de Cristo é a de uma pessoa histórica, sendo inseparável os fatos e as doutrinas que lhe dizem respeito. E diz o Novo Testamento que a história do Antigo Testamento é inspirada e escrita pra nossa instrução (Rm 4.23,24; 15.4; 1Co 10.6,11).
Sendo a Bíblia uma autoridade para nós, assim a devemos considerar, seja qual tenha sido o método da inspiração: porquanto o valor da autoridade realmente independente de todas as particularidades sobre o modo como foi inspirada. É auxiliado o estudo da inspiração pela analogia entre o Verbo encarnado e a Palavra escrita: ambos são divinos, e também são humanos, embora, em cada caso, é impossível dizer onde termina o divino e começa o humano. Ambos os elementos ali estão, reais e inseparáveis, de maneira que, quer se trate de Cristo ou da Bíblia, podemos dizer que tudo é perfeitamente humano e tudo é absolutamente divino.
Fonte: Dicionário Bíblico Universal - p. 198
Prova da inspiração da Bíblia. A BÍBLIA, INSPIRAÇÃO DIVINA
INTRODUÇÃO
Uma das artimanhas de Satanás é desacreditar a Palavra de Deus, como palavra inspirada, usando fatos e argumentas contra a Bíblia. Entretanto Deus (Hb 1.1) tem falado aos homens, inspirado outros, movido seu Espírito Santo para comunicar com exatidão a Mensagem Divina, tornando assim a Bíblia, diferente de todas os demais livros escritos na face da terra.
Conhecer a Inspiração Divina da Bíblia é conhecer o próprio Deus, movendo-se através do tempo, usando vidas chamadas e consagradas, (Is 6.8) para realizar Seus propósitos.
1. COMPREENDENDO A INSPIRAÇÃO DIVINA
Para que Sua palavra chegasse à nós, Deus usou homens, que foram auxiliados e diretamente assistidos pelo Espírito Santo, a fim de não permitir que eles cometessem erros quando escreviam o registro fiel e verdadeiro da Palavra de Deus. Foram inspirados, nas ocasiões em que Deus pelo Seu Espírito atuava em seus corações (II Pd 1.21). Eram homens cheios de fraquezas, dúvidas, negações, divergências, etc, mas quando estavam sob a atuação do Espírito de Deus, jamais falharam, pois estavam nas mãos de Deus.
O apóstolo Paulo, homem de Deus, afirma a inspiração da Palavra dizendo "toda a Escritura divinamente inspirado é proveitosa..." (II Tm 3.16) Paulo cria na inspiração da Bíblia. A inspiração de Deus sobre a vida dos escritores do Livro Sagrado foi algo maravilhoso. Os autores dos Livros históricos, por exemplo, puderam separar a verdade do erro quando buscavam as bases para suas narrativas. Na verdade, os Livros históricos estão recheados de ensinos vitais para nossa vida espiritual. O apóstolo Paulo falou disso (1 Co 10.11). Enfim, temos nas mãos um Livro em que todos os registros foram inspiradas por Deus, a fim de que todo o ensino necessário acerca de todas as coisas da vida, fossem transmitidos de maneira singular.
2. TEORIAS SOBRE INSPIRAÇÃO DIVINA
A Inspiração da Bíblia é aceita pelos cristãos em Cristo Jesus, que encontraram na Palavra de Deus uma nova razão de viver. Por outro lado, existe uma infinidade de pessoas que, por ainda não terem sidas transformadas pela Bíblia, formam teorias sobre a Inspiração, criando com isso discussão sobre este assunto tão maravilhoso.
Vamos, portanto observar algumas dessas teorias:
a) Alguns afirmam que os homens que escreveram a Bíblia tiveram apenas uma intuição, dizendo que houve apenas a manifestação do conhecimento natural da verdade. A intuição faz parte do ser humana normal, e muitas vezes levam-o a escrever livros sagrados, científicos, filosóficos e desse modo se pode até conhecer a verdade, sem necessidade da inspiração do Espírito de Deus. Essa teoria entretanto procura negar a pessoa de Deus, que é a Verdade suprema e o Único que a pode revelar.
b) Outros ainda dizem que a inspiração das Escrituras é apenas parcial, onde umas partes da Bíblia foram inspiradas e outras não. Com isto afirmam que a Bíblia contém a Palavra de Deus, quando na verdade a Bíblia é a Palavra de Deus.
c) Uma outra teoria diz que apenas foi inspirada as idéias da Bíblia, ficando as palavras a cargo dos escritores.
Existem ainda outras teorias que foram criadas pelos homens ímpios para tentarem anular a Palavra de Deus. Cremos que qualquer criatura pode experimentar o poder da Bíblia em sua vida, basta deixar as teorias e viver na prática a Palavra de Deus.
3.EVIDENCIAS DA INSPIRAÇÃO
Está claro para nós, o povo de Deus, que a inspiração da Bíblia é Divina, plenária e verbal.
Nós que a cada dia sentimos em nossas vidas o resultado direto da ação da Palavra, cremos ser ela de inspiração divina. Em toda a Bíblia descobrimos a ação direta do Espírito Santo, agindo poderosamente em cada escritor.
Ao lermos a Bíblia, não encontramos apenas idéias ou conceitos, mas nos deparamos com uma mensagem plena, completa e incisiva na sua revelação, como resultado de uma inspiração plenária.
Ao estudarmos a Bíblia, cada palavra tem um ensino maravilhoso, até mesmo aquelas que trazem as afirmações de homens ou de Satanás. Neste caso as palavras que eles pronunciaram não foram inspiradas, mas o registro dessas palavras foram. Entendemos assim, que o Espírito Santo guiou o escritor sagrada na escolha das palavras que ele usou, respeitando certamente seu estilo, sua atividade humana, seu vocabulário, para que não viessem a cometer erros de quaisquer espécies. Esta é a inspiração verbal.
O leitor da Bíblia deve, portanto, estar preparado e disposto a receber toda a Palavra de Deus como sendo um Livro plenamente inspirado por Deus.
O Senhor Jesus Cristo, no seu tempo aceitou as Escrituras, e delas testificou, (Lc 24.44), confirmando sua fatal inspiração.
O apóstolo Paulo na sua última carta coloca toda a Escritura debaixo do manto sagrado da inspiração Divina, (II Tm 3.16).
4. PROVAS DA INSPIRAÇÃO DIVINA
A própria Bíblia apresenta-nos provas de sua total inspiração Divina.
O Antigo Testamento está repleto de afirmações que nos mostram a inspiração da Palavra. O próprio testemunho dos profetas, que foram usados por Deus nos leva a crer assim. Movidos pelo Espírito Santo eles diziam. "O Senhor disse a Moisés" (Ex 4.19); "Visão de Isaías" (Is 1.1); "Assim veio a mim a palavra do Senhor" (Jr 1.4); "A Daniel Deus apareceu em sonhos e visões" (Dn 7.1); "Palavra do Senhor, que foi dirigida a Joel" (Jl 1.1) e assim a tantos outros no Antigo Testamento.
Uma das grandes provas da inspiração Divina das Escrituras nos é apresentada por Jesus. Ele mesmo testificou da Palavra dizendo: "Está escrita (Mt 4.4). "... nem um jota ou um til se omitirá da lei," (Mt 5.18). "A Escritura não pode ser anulada", (Jo 10.35). E colocou o selo no Novo Testamento quando afirmou que o Espírito Santo, em Seu nome estaria ensinando todas as coisas (Jo 14.26).
O apóstolo Paulo confirmou a inspiração da Bíblia, quando afirma (I Co 14.37), que o que ele escreveu, são mandamentos do Senhor.
Enfim, o Novo Testamento está cheio de referências ao Antigo Testamento, provando-nos a inspiração das Escrituras.
O próprio testemunho do Espírito Santo nas nossas vidas confirmam essa tão grande inspiração da Palavra de Deus.
CONCLUSÃO
A Palavra de Deus é inigualável quando se trata da inspiração, pois é o único Livro que teve um Autor usando cada escritor para a grande tarefa de escrever Sua Palavra, A inspiração da Bíblia torna-a um Livro moderno, em suas mensagens atuais, não precisando em nada ser alterado. Isto se constitui na grande prova de que a Bíblia é a imutável Palavra de Deus
III. Autenticidade das copias dos manuscritos
Os manuscritos do mar morto. Durante toda a Idade Média, por interesses principalmente políticos e econômicos, a Igreja foi aos poucos agasalhando em seu seio doutrinas e costumes absolutamente contrários ao espírito e ensinos de Jesus e dos apóstolos. Por essa razão, muitas pessoas passaram a temer que a Bíblia também tivesse sofrido alterações significativas. O receio era de que o texto do Antigo Testamento que temos hoje não fosse exatamente aquele no qual Jesus e os apóstolos basearam todos os seus ensinos; que não fosse mais a “Palavra de Deus” como originalmente havia sido escrita. Felizmente, a Arqueologia praticamente acabou com essa dúvida. E tudo graças a um menino!
Em 1947, vasculhando as cavernas do extremamente árido e inóspito lado ocidental do Mar Morto, em busca de uma ovelha perdida, um garoto beduíno encontrou grandes vasos de barro que continham antigos manuscritos escondidos ali. A partir de então, outros beduínos e arqueólogos encontraram, em onze cavernas da região, mais de 800 diferentes manuscritos, incluindo todos os livros do Antigo Testamento, com exceção dos livros de Ester e Neemias. De alguns livros da Bíblia foram encontrados apenas fragmentos; em outros casos, a maior parte do texto foi recuperada. O livro do profeta Isaías foi encontrado praticamente inteiro!
Apenas um dos rolos havia sido escrito em finas folhas de cobre. Todos os demais foram escritos em pergaminho (pele de animal especialmente preparada para essa finalidade). Assim, por terem utilizado material orgânico, esses livros bíblicos puderam ser submetidos ao processo de datação conhecido como Carbono 14. Outro método utilizado para determinar a época em que foram escritos foi a análise paleográfica (análise da forma da escrita, que em cada época tem características típicas). Surpreendentemente, constatou-se que os manuscritos haviam sido produzidos entre o século II a.C. e o século I d.C. – portanto, em dias anteriores e contemporâneos a Jesus! Judeus zelosos dessa época, provavelmente para salvar os livros sagrados de algum perigo iminente, devem tê-los escondido nas remotas e quase inacessíveis cavernas do Mar Morto. E – maior surpresa ainda! – quando comparados, constatou-se que os livros do Antigo Testamento que temos hoje são essencialmente idênticos aos textos que existiam nos dias de Jesus!
Jesus certa vez disse: “Vós examinais as Escrituras porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas mesmas que testificam de Mim” (João 5:39). Como é confortador saber que as Escrituras que temos hoje em nossas mãos são aquelas mesmas que Jesus lia e ensinava!
Jorge Fabbro é arqueólogo e presidente da Associação de Amparo à Criança e ao Adolescente (Educriança)
Posted by Michelson at 6:06 AM
IV. Resumo
Andkand l jkqlejlkqjl jeq jejo o oo w oi joo iwh w hwoho shoh oh qwhhoo ooi hwoi q qowo iuououo ooip ouoiuo oiuiouopiuop ouoipuouop hws wdqgfhagkjhfks iuGAHFSKJAKÇKARYEUWPDLKSNGVBXJVXB HNKJGJFGSJFHSKNNlmlsdjjfs vknsjfdj mxcmajdadjdn, KLSjlajowhgrwreui´pklkfvndjbnklç,.~.[´W[QLS~Ç.XZ ZC,AÇSFKDAÇJFD][wsp JDEÇFS,GS
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PRIMEIRAS VERSÕES DO ANTIGO TESTAMENTO
I. Introdução.
II. A MENSAGEM DE SALVAÇÃO AO ALCANCE DE TODOS
Um povo não tem que mudar a sua cultura para receber a mensagem de Yahu.
1. Yahu fala com o homem na sua língua materna. A Bíblia foi originalmente escrita em hebraico, aramaico e grego. Não existe na Bíblia o conceito de língua sagrada encontrado nas falsas religiões, como é sagrado para os hindus e para os islâmicos. Desde os tempos do Antigo Testamento até a atualidade, Yahu se manifestou, e se manifesta, a cada um de seus servos na sua própria língua. Yahu se revelou a Shaulo em sua língua materna, o hebraico, apesar de ele falar outros idiomas (At. 26.14).
2. Tradução para outras línguas. Tradução é colocar em uma outra língua a mesma mensagem. O estilo, ou nível de linguagem, não é de sua importância. O fundamental é a mensagem, que não pode ser mudada nem corrompida. Yahu quer que o homem conheça a sua vontade, não importa qual seja o nível de linguagem. O apóstolo Shaulo falou aos atenienses sobre o Yahu de Israel, Yahu, o Criador de todas as coisas, identificado por eles como o “Yahu Desconhecido” (At. 17.23-30). Shaulo não se preocupou em explicar aos atenienses o tetragrama que constitui o Nome de Yahu, impronunciável pelos Yahudim (Yhwh), e também não lhes ofereceu um curso de hebraico, mas simplesmente usou a linguagem e a cultura deles.
3. A Bíblia na língua do povo. Ninguém precisa aprender o hebraico, ou aramaico, ou grego, ou as três línguas juntas, para tornar-se Filho de Yahushua. O estudo dessas línguas é incentivado apenas para o enriquecimento do conhecimento Yahulógico, e não como condição para se entender a mensagem da salvação. A Bíblia ensina que a salvação é pela fé em Yahushua (Gl 2.16; Ef 2.8; Tt 3.5). Portanto, a pregação do evangelho deve ser levada a efeito na língua e cultura de cada povo (1 Co 9.20-22). É nosso dever colocar a Bíblia a disposição do povo em sua própria língua, e não obrigá-lo a aprender as línguas originais da Bíblia, ou uma língua litúrgica, ou ainda mudar sua cultura. OBS , os nomes não podem ser traduzidos, nome próprio não se traduz.Acesse e leia http://www.usinadeletras.com.br/exibelotexto.php?cod=1457&cat=Textos_Religiosos&vinda=S
III. A VERSÃO PARAFRASEADA DO TARGUM
Após o cativeiro na Babilônia, os Yahudim tiveram algumas versões do Antigo Testamento à disposição.
1. Targumim. É uma das traduções parafraseadas o Antigo Testamento hebraico para o aramaico. A geração que retomou do cativeiro babilônico falava aramaico, a língua oficial utilizada em todos os domínios do império. Sem entender bem a leitura da Lei e dos Profetas, que era feita em hebraico nas sinagogas, essa geração teve a necessidade de obter explicações orais em aramaico (Ne 8.8). Tais explicações foram posteriormente escritas, que são os Targumim. “Targumim” é o plural de “Targum”, que em hebraico significa “tradução”. O Targum de Ônquelos, que contém o Pentateuco, e o de Yahuônatas, que contém os Profetas, são os principais dos dez que permaneceram.
2. Targum de Ônquelos. Ônquelos traduziu de forma parafraseada a expressão “Eu Sou” (Ex 3.14; Dt 32.39) por “aquele que é, e que era, e que há de vir”. Esta mesma expressão aparece cinco vezes no livro de Apocalipse (1.4,8; 4.8; 11.17; 16.5), o que nos mostra que Yahu não está preocupado com formas, estilos e construções gramaticais, mas com o conteúdo da sua mensagem à humanidade. A linguagem pode ser atualizada, pois é humana; a mensagem, porém, não poderá jamais ser alterada. Quando a mensagem é modificada, o conteúdo da revelação é prejudicado e não expressa o que Yahu realmente disse. Trata-se de uma versão corrompida e falsificada.
3. . Versão parafraseada. A paráfrase procura traduzir o texto explicando-o; não traduz palavra por palavra, mas idéia por idéia. Ela faz o que uma tradução literal não poderia fazer. Às vezes, é necessário o uso de expressões idiomáticas para que o texto fique mais claro. Embora a paráfrase apresente certos perigos, como enfraquecer o original, é perfeitamente possível manter a fidelidade ao texto primitivo.
IV. A SEPTUAGINTA
Vejamos, neste tópico, como o mundo grego teve acesso ao Antigo Testamento.
1. A Septuaginta. Do latim, a palavra significa “septuagésimo”; é também conhecida como “Versão dos Setenta”, porque, segundo Josefo, a tradução foi realizada por 70 ou 72 eruditos Yahudim e em 70 dias. O trabalho de tradução deveu-se a um pedido do rei Ptolomeu IV, Filadelfo, que reinou entre 285 e 247 A.Y., em Alexandria, Egito. Por isso é também identificada como Versão de Alexandria. É a tradução do Antigo Testamento do hebraico para o grego, identificada pelos algarismos romanos “LXX”.
2. A Septuaginta e o Novo Testamento. Em 13 dos 27 livros que constituem o Novo Testamento, há muitas citações diretas da Septuaginta. Mateus15. 8, 9, cita Isaias 29.13. A Septuaginta é, pois, reconhecida como obra de grande valor, além de ser um monumento literário do grego helenístico. Serviu de ponte lingüística e teológica entre o hebraico do Antigo Testamento e o grego do Novo. Além disso, foi usada pelas gerações de Yahudim por todas as partes do mundo antigo.
V. OUTRAS VERSÕES GREGAS DO ANTIGO TESTAMENTO
1. Outras versões. Outras traduções gregas do Antigo Testamento foram produzidas posteriormente, como as de Símaco (170 D.Y.) e Teodósio (190 D.Y.). A tradução de Áquila (130 D.Y.) é mais uma revisão da Septuaginta do que propriamente uma nova versão do Antigo Testamento hebraico para o grego. Nenhuma destas versões, porém, superou o texto da Septuaginta.
2. Peshita. Também conhecida versão Siríaca, é o Antigo Testamento completo traduzido para o aramaico, que era falado não somente em Israel, antes da Diáspora do ano 70 D.Y., mas também no império da Pátria e em toda a região da Mesopotâmia. O aramaico é, ainda hoje, falado em partes da Síria e da Turquia. A Peshita, palavra aramaica que significa “simples” é a versão oficial da Fé Siríaca.
3. Vulgata Latina. É a tradução da Bíblia completa para o latim, feita por Jerônimo a pedido de Dâmaso, bispo de Roma, entre o final do século IV e início do século V. Jerônimo nasceu em Portugal, que, juntamente com a atual Espanha, formava naquela época uma província do Império Romana chamada Hispânia. Esse bispo estudara o hebraico por 20 anos com os rabinos de Belém da Yahudéia. Sua versão do Antigo Testamento foi feita diretamente do hebraico. Testamento.
Websitegrafia
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http://www.geocities.com
Bíblia Anotada
Bíblia de Estudo Almeida
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