Posted: 24 Jul 2014 06:51 AM PDT
Na publicação de hoje, gostaríamos de sugerir uma atividade que tem como base uma das propostas de redação do vestibular 2012 da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). Nosso objetivo é fazer com que vocês, professores, alunos e candidatos ao Enem 2014 exercitem o argumentar por meio de um gênero não cobrado do exame, mas muito presente no nosso dia a dia, principalmente neste ano eleitoral: o debate.
Como já explicamos em uma
publicação anterior, todos os gêneros da ordem do argumentar são
importantes nas várias esferas pelas quais circulamos e fundamentais na
preparação para o Enem e/ou vestibular que pede, em suas propostas de redação, dissertações-argumentativas.
Nesta atividade, usaremos
como base o texto fonte da proposta número dois do vestibular 2012 da
Unicamp, mas modificaremos o seu propósito, a sua interlocução e o seu
gênero.
Na proposta original, a
condição de produção estabelecida é a seguinte: o candidato deveria
colocar-se no lugar dos estudantes de uma escola que passou a monitorar
os perfis de seus alunos nas redes sociais
após um evento similar aos relatados no texto fonte – o qual
reproduziremos logo abaixo – . Devido a polêmica criada por este
monitoramento, o candidato deveria escrever um manifesto, com o apoio de
seus colegas, para este ser lido na próxima reunião de pais e mestres
com a direção da escola e, neste manifesto, deveria ser explicitado o
evento que motivou o monitoramento e ser declarada e sustentada a defesa
dos alunos, convocando pais, professores e alunos a agir em conformidade com o proposto no documento.
Esta proposta, em seu
formato original, também é uma ótima tarefa para exercitar o argumentar,
já que um manifesto é um gênero que requer explicação, interpelação e
argumentação. Mais informações sobre esta e as demais propostas de
redação e acerca do vestibular 2012 da Unicamp em
Percebe-se que o estilo das
propostas de redação da Unicamp é muito diferente do das provas de
produção textual do Enem: a primeira exige gêneros sem aviso prévio,
isto é, o candidato sabe, apenas no momento do vestibular, quais
gêneros terá de redigir, já que são duas propostas obrigatórias; além
disso, cada uma possui suas próprias condições de produção e seus textos
fontes. Já o Enem sempre pede, e o candidato é ciente disso, uma
dissertação-argumentativa sobre um tema de cunho social sobre o qual a
coletânea de textos motivadores mostrará um recorte com vários pontos de
vista.
Voltando à proposta de
atividade, para atingirmos o nosso objetivo, modificaremos um pouco as
condições de produção e o gênero requisitado. Imaginemos a mesma
situação: após um evento similar aos relatados no texto fonte
reproduzido abaixo, a direção da sua escola resolveu monitorar os perfis
de seus alunos nas redes
sociais e você, juntamente com seus colegas, propõe que seja realizado
um debate entre alunos, pais, professores e a direção escolar a fim de
discutir esta questão (o evento causador do monitoramento e os pontos de vista de cada um, sugerindo outras ações ou defendendo o monitoramento).
Assim, criamos um cenário para um debate. Caso a atividade seja realizada na sua sala de aula, os alunos deverão ser divididos, com o auxílio do professor,
em três grupos: alunos, professores e direção escolar e pais. Cada
grupo deverá sustentar e defender uma posição: alunos – contra o
monitoramento; professores e direção escolar – a favor do monitoramento e
pais – em busca de um meio termo entre alunos e a escola. O professor
deve atuar como mediador deste debate. A mesma organização vale para a
atividade que for realizada em casa, entre familiares e amigos, no caso
de candidatos que não frequentem mais a escola e/ou um cursinho. Apenas
alguém deverá ser responsável por mediar a discussão.
O intuito desta divisão é
forçar os candidatos a argumentarem a favor de algo que são contrários
e, assim, estimular e desenvolver a argumentação, as estratégias
argumentativas, a tomada de posição e as propostas de solução, algo que o
Enem tem como competência avaliada.
O texto fonte da atividade é o mesmo da proposta de redação de número dois do vestibular 2014 da Unicamp:
Escolas monitoram o que aluno faz em rede social
Durante uma aula vaga em uma escola da Grande São Paulo, os alunos decidiram tirar fotos deitados em colchonetes deixados no pátio para a aula de educação
física. Um deles colocou uma imagem no Facebook com uma legenda
irônica, em que dizia: vejam as aulas que temos na escola. Uma
professora viu a foto e avisou a diretora. Resultado: o aluno teve de
apagá-la e todos levaram uma bronca.
O caso é um exemplo da
luta que as escolas têm travado com os alunos por conta do uso das redes
sociais. Assuntos relativos à imagem do colégio, casos de bullying
virtual e até mensagens em que, para a escola, os alunos se expõem
demais, estão tendo de ser apagados e podem acabar em punição. Em outra
instituição, contam os alunos, um casal foi suspenso depois de a menina
pôr no Orkut uma foto deles se beijando nas dependências da escola.
As escolas não comentaram
os casos. Uma delas diz que só pediu para apagar a foto porque houve um
“tom ofensivo”. Como outras escolas consultadas, nega que monitore o
que os alunos publicam nos sites.
Exercícios – Como professores e alunos são “amigos” nas redes sociais, a escola tem acesso imediato às publicações.
Foi o que aconteceu com um aluno do ABC paulista. Um professor soube da página que esse aluno criou com amigos
no Orkut. Nela, resolviam exercícios de geografia – cujas respostas
acabaram copiadas por colegas. O aluno teve de tirá-la do ar.
O caso é parecido com o de uma aluna de 15 anos do Rio de Janeiro
obrigada a apagar uma comunidade criada por ela no Facebook para a
troca de respostas de exercícios. Ela foi suspensa. Já o aluno do ABC
paulista não sofreu punição e o assunto ética na internet passou a ser
debatido em aula.
Transformar o problema em
tema de discussão para as aulas é considerado o ideal por educadores.
“A atitude da escola não pode ser policialesca, tem que ser preventiva e
negociadora no sentido de formar consciência crítica”, diz Sílvia
Colello, professora de pedagogia da USP.
(Adaptado de Talita Bedinelli & Fabiana Rewald, Folha de S. Paulo, 19/06/2011. Texto integral em http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff1906201101.htm.)
O texto fonte acima fornece
vários exemplos de casos reais de embates entre alunos e escola em
relação às postagens feitas em redes sociais e mostra as opiniões de
estudantes e dos responsáveis pelas escolas, além da posição de uma
docente de pedagogia da USP (Universidade de São Paulo).
Baseados neste texto fonte e
tendo em mente as posições tomadas pelo seu grupo, os alunos devem
debater, seguindo as regras do mediador (que deve, por sua vez, dar a
palavra a cada grupo de modo organizado e conduzir o debate de uma
maneira educada e ordenada), o monitoramento das redes sociais por parte
da escola.
A explicação e a
argumentação de cada grupo sobre os fatos ocorridos são fundamentais
para um bom debate que tem neste caso, como objetivo, encontrar um
equilíbrio entre alunos e escola; portanto, a tentativa de convencimento
é essencial por todas as partes. Os grupos podem tomar para si os
exemplos dados pelo texto fonte ou refutá-los, criticá-los e sugerir
melhorias; o texto fonte pode e deve ser lido por cada grupo,
separadamente, a fim do discurso ser planejado (argumentos e contra
argumentos). Após este planejamento, o mediador deve dar início ao
debate e conduzi-lo da melhor maneira possível.
Com esta sugestão, que pode
ser adequada pelos professores, objetivamos estimular e motivar
diferentes atividades da ordem do argumentar a fim de desenvolver esta
habilidade nos candidatos ao Enem 2014 e demais vestibulares.
Até a próxima semana!
*CAMILA DALLA POZZA PEREIRA é
graduada e mestranda em Letras/Português pela Universidade Estadual de
Campinas (UNICAMP). Atualmente trabalha na área da Educação exercendo
funções relacionadas ao ensino de Língua Portuguesa, Literatura e
Redação. Foi corretora de redação em em importantes universidades
públicas. Além disso, também participou de avaliações e produções de
vários materiais didáticos, inclusive prestando serviço ao Ministério da
Educação (MEC).
**Camila também
é colunista semanal sobre redação do infoEnem. Um orgulho para nosso
portal e um presente para nossos milhares de leitores! Seus artigos
serão publicados todas às quintas-feiras, não percam!
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