quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Da Revolução Industrial ao Capitalismo organizado: séc. XVIII a XX

Primeira Revolução Industrial
Durante o período que foi de 1400 até aproximadamente 1700 a civilização moderna atravessou a sua primeira revolução econômica. Foi ela a Revolução Comercial, que extirpou a economia semi-estática da Idade Média e a substituiu por um capitalismo dinâmico dominado por comerciantes, banqueiros e armadores de navios. Mas a Revolução Comercial não foi mais que o ponto de partida de rápidas e decisivas mudanças no campo econômico. Não tardou a seguir-se-lhe uma Revolução Industrial, que não só ampliou ainda mais a esfera dos grandes empreendimentos comerciais, mas ainda se estendeu aos domínios da produção. Tanto quanto é possível reduzi-la a uma fórmula sintética, pode-se dizer que a Revolução Industrial compreendeu: a mecanização da indústria e da agricultura; a aplicação da força motriz à indústria; o desenvolvimento do sistema fabril; um sensacional aceleramento dos transportes e das comunicações; e um considerável acréscimo do controle capitalista sobre quase todos os ramos de atividade econômica.

Embora a Revolução Industrial já se houvesse iniciado em 1760, não adquiriu todo o seu ímpeto antes do século XIX. Muitos historiadores dividem o movimento em duas grandes fases, servindo o ano de 1860 como marco divisório aproximado entre ambas. O período de 1860 até os nossos dias é por vezes denominado Segunda Revolução Industrial.
Pioneirismo inglês: condições objetivas e subjetivas
A Revolução Industrial aconteceu inicialmente na Inglaterra na segunda metade do séc. XVIII e encerrou a transição do feudalismo ao capitalismo, a fase de acumulação primitiva de capitais e de preponderância do capital mercantil sobre a produção. A ferramenta deu lugar à máquina; a força humana, à motriz; a produção doméstica à fabril (divisão do trabalho).
Quatro elementos esseciais concorreram para a industrialização: capitalrecursos naturaismercado e transformação agrária. Assim, é possível apontar uma conjunção de fatores geográficos, econômicos, políticos e sócio-culturais para o despertar pioneiro da Inglaterra.
Geograficamente, a Inglaterra valeu-se de sua posição insular (mantendo-se intocada em todas guerras que participou) e da existência de jazidas de carvão (energia) e ferro (fundamental para indústria).
Economicamente, fez uso dos capitais acumulados no comércio internacional e na pirataria e contrabando de Estado desde seu despontar como maior potência marítima mundial (iniciado com os Atos de Navegação de 1651). Por outro lado, os cercamentos ouenclosures (apropriação, pela nobreza, das terras comunais) possibilitaram uma grande disponibilidade de mão-de-obra e orebaixamento dos salários. Ainda, deve-se destacar as inovações tecnológicas que dinamizaram o processo produtivos, principalmente na indústria têxtil (lançadeira mecânica, máquina de fiar, tear hidráulico, energia a vapor), mas também no campo (cultivo rotativo da terra, novos adubos, drenagem e mecanização).
Politicamente, a Inglaterra foi o primeiro país a presenciar a ascensão da burguesia (Revoluções Puritana de 1640 e Gloriosa de 1688). A monarquia parlamentar então instaurada modificou a estratégia de desenvolvimento, substituindo a lógica territorial pela lógica do capital. A Inglaterra usufruiu, ainda, de acordos vantajosos com diversos países (conquistando mercados consumidores e incentivando suas próprias manufaturas enquanto impedia o desenvolvimento da concorrência). Em 1707, a Inglaterra uniu-se com a Escócia dando um passo importante para fortalecer sua posição internacional.
Sócio-culturalmente, havia fatores religiosos (valorização do trabalho e do lucro, fruto das reformas protestantes e da criação da Igreja Anglicana) e ideológicos (fortalecimento do liberalismo em contraposição ao mercantilismo vigente). A Inglaterra professou o livre-comércio para todos seus rivais, mas agiu com forte protecionismo internamente, alentando ativamente sua indústria. O individualismofazia parte da cultura inglesa desde a assinatura da Carta Marga de 1215 (reconhecendo alguns direitos da nobreza que o rei não poderia dispor): na nascente ideologia capitalista, a sociedade preponderava sobre o Estado.
Conseqüências
A Revolução Industrial promoveu a consolidação do sistema capitalista, resumido, em termos marxistas, na separação da força de trabalho dos meios de produção e na imposição do assalariamento em níveis de subsistência.
Famílias inteiras trabalhavam mais de 16 horas por dia, no auge da Revolução Industrial Inglesa. Nem as crianças eram poupadas.
Se por um lado, a Revolução Industrial proporcionou o aumento da riqueza total da nação, não seria justo desconsiderar as conseqüências nefastas sobre o ambiente (o homem obtém da natureza suas matérias-primas sem se preocupar com sua conservação) e nas relações de trabalho (trabalho infantil, jornadas de trabalho de até 18 horas diárias, falta de condições sanitárias, etc.). A separação do trabalhador dos meios de produção foi identificada por Marx e deu origem à sua teoria do materialismo dialético. Engels denunciou as absurdas condições de trabalho do proletariado. Surgiram os movimentos operários.
Segunda Revolução Industrial
Embora a Revolução Industrial já se houvesse iniciado em 1760, não adquiriu todo o seu ímpeto antes do século XIX. Muitos historiadores dividem o movimento em duas grandes fases, servindo o ano de 1860 como divisor aproximado. O período de 1860 até os nossos dias é por vezes denominado Segunda Revolução Industrial. Iniciou-se aí um processo de renovação, aceleração e expansão da industrialização para outros países. As principais inovações desta revolução técnico-científica foram no sentido de aumentar ainda mais a produção e a acumulação de capital.
Novos métodos para obtenção de ligas metálicas: substituição do ferro pelo aço e uso de ligas metálicas mais leves.
Novas fontes de energia: emprego de derivados do petróleo e energia elétrica, fontes mais eficientes que o carvão.
Novos setores industriais: a siderurgia possibilitou produtos e máquinas mais resistentes; a química possibilitou a produção em larga escala de uma gigantesca gama de tintas, corantes, fertilizantes e munições.
Avanço nos transportes: aplicação da energia a vapor em ferrovias e navios, diminuindo custos de transporte de grandes cargas em maiores distâncias. Invenção do avião e motor de combustão interna, aperfeiçoamento do dínamo.
Avanço nas comunicações: invenção do telégrafo (comunicação a longa distância em tempo real) e instalação de cabos submarinos, permitindo a ligação telegráfica entre continentes.
Novas formas de organização do trabalho: o fordismo (produção em série, com introdução da linha de produção mecanizada) etaylorismo (controle da produtividade dos operários através da análise técnica de seus gastos e movimentos diante da máquina).
Cena do filme Modern Times (1936), de Charles Chaplin. A obra é uma crítica veemente ao modo de produção oriundo da Segunda Revolução Industrial.
Os investimentos necessários a realização de empreendimentos desta monta exigiam um sistema bancário com grande capacidade de financiamento e captação, daí a expansão de bancos e bolsas de valores. Ao mesmo tempo, passaram a se multiplicar práticas monopolistas(trustes, cartéis e dumping), resultando em concentração de capitais e enfraquecimento da concorrência. As novas práticas econômicas permitem a caracterização, a partir do séc. XIX, do capitalismo financeiro ou monopolista.
Práticas monopolistas
Truste: fusão de empresas visando obter o controle de uma determinada atividade econômica.
Cartel: acordo entre empresas independentes, visando uma ação coordenada no que se refere, por exemplo, a determinação de preços.
Dumping: venda de produtos a preços artificialmente mais baixos, visando eliminar a concorrência.
Superação do capitalismo industrial pelo financeiro (monopolista)
capitalismo industrial foi, em grande parte, sobrepujado pelo capitalismo financeiro, um dos desenvolvimentos mais decisivos da época moderna. O capitalismo financeiro tem quatro característicos principais: o domínio da indústria pelos bancos de investimentos e pelas companhias de seguros; a formação de imensas acumulações de capital; a separação entre a propriedade e a direção; e oaparecimento dos holdings ou companhias detentoras.
Muitas das grandes companhias de hoje têm centenas de milhares de acionistas. Mas a grande maioria dessas pessoas sãoabsenteístas que pouco ou nada influem na política da instituição, e algumas de suas ações nem sequer dão direito a votar nas assembleias. Os bancos e as companhias de seguros exercem o controle, em alguns casos, pela posse de uma maioria de açõescom direito a voto e, em outros casos, por meio de empréstimos flutuantes feitos sob condições que conferem amplos poderes aos emprestadores ou lhes dão direito a uma representação junto às diretorias.
As gigantescas acumulações de capital que vieram a caracterizar a organização industrial moderna incluem os trustes, as fusões de empresas e os cartéis. Todos eles são organizados para a mesma finalidade: restringir ou suprimir a concorrência. Durante a década de 1930 alguns governos europeus favoreceram a formação de cartéis nacionais no intuito de fortalecer as suas indústrias contra a concorrência estrangeira. Mas os mais interessantes, e talvez os mais importantes tipos de cartéis são aqueles que transpõem as fronteiras internacionais.
O terceiro elemento do capitalismo financeiro é a separação entre a propriedade e a direção. Os verdadeiros proprietários das empresas industriais são os milhões de pessoas que empregaram as suas economias em ações; a direção está nas mãos de um grupo de funcionários e de diretores eleitos por uma minoria de acionistas que monopolizaram as ações com direito a voto ou reuniram as procurações dos seus colegas absenteístas. O capitalismo financeiro inclui, por fim, o desenvolvimento dos holdings oucompanhias detentoras como uma das formas básicas de organização capitalista. O holding é um estratagema pelo qual certo número de unidades de produção são reunidas sob o controle de uma companhia que lhes monopoliza a maioria das ações. A companhia detentora não se dedica à produção, mas a sua renda consiste nos honorários dos diretores e nos dividendos pagos pelas unidades produtoras.
É preciso salientar, por último, que desde 1860 a industrialização se tem estendido a quase todos os países do mundo civilizado.
Resumindo, destacam-se três entre as principais fases do capitalismo: capitalismo comercial, capitalismo industrial e capitalismo financeiro (ou monopolista).
Pré-capitalismo (do séc. XII ao XV)
Período de emergência da economia mercantil, na qual o comércio e a produção artesanal começam a ganhar força. Nessa época,não se generalizou o trabalho assalariado. Predominavam os trabalhadores independentes (artesãos), que vendiam o produto de seu trabalho, mas não sua força de trabalho. Os artesãos eram os donos de suas oficinas e ferramentas (meios de produção), assim como das matérias-primas. Trabalhadores sem meios de produção, obrigados a produzir mediante pagamento de salário (jornaleiros), só existiam em pequena escala nos centros mais desenvolvidos.
Capitalismo comercial (do séc. XVI ao XVIII)
Apesar de predominar o produtor independente, expande-se o trabalho assalariado. A denominação comercial se relaciona ao fato de existir preponderância do capital mercantil sobre a produção. A maior parte do lucro concentrava-se na mão dos comerciantes, intermediários entre o produtor e o consumidor. Lucrava mais quem comprava e vendia a mercadoria, não quem a produzia. Por isso, o capital se acumulava na circulação, no comércio, não na produção. Essa fase – também denominada fase de acumulação originária ou primitiva de capital – permitiria mais tarde a Revolução Industrial.
Capitalismo industrial (da segunda metade do séc. XVIII até início do séc. XX)
Tem início na Inglaterra. O capital acumulado na circulação de mercadorias é investido na produção; o capital industrial passa então a dominar o conjunto da produção, distribuição e circulação de riquezas. O trabalho assalariado se instala definitivamente, em prejuízo dos artesãos, separando claramente os possuidores de meios de produção (a burguesiae a massa de trabalhadores (o proletariado). O processo se espalha, inicialmente, pela Europa, América do Norte e Ásia. Nas últimas décadas do século XIX e início do século XX predomina em quase todas as regiões do mundo. Numerosas nações, então, passam a lutar para atingir a condição de país industrializado; algumas para conquistar hegemonia no mercado internacional.
Capitalismo financeiro ou monopolista (do início do séc. XX até hoje)
Fase atual. Começa a se delinear em fins do século XIX, mas cristaliza-se no século XX: o sistema bancário e grandes corporações financeiras tornam-se dominantes e passam a controlar as demais atividades – indústria, comércio, agricultura e pecuária. As empresas concentram diversas atividades e tornam-se cada vez mais poderosas, assumem dimensão internacional: são as multinacionais. Devido à concentração do capital, com a formação de empresas gigantescas que dominam grandes setores da produção, podemos também chamar essa fase de capitalismo monopolista. Sobretudo a partir da década de 1980, assistimos a uma vertiginosa aceleração da mobilidade do capital, facilitado pela informática, num processo de globalização no qual o capital financeiro se torna cada vez mais desvinculado das atividades produtivas, buscando o máximo de lucro no menor tempo possível.
Esta charge apresenta, lado a lado, quatro dos principais intérpretes do capitalismo: Adam Smith, Karl Marx, John Maynard Keynes e Joseph Schumpeter. Sob distintos prismas, os quatro fornecerem grandes análises da produção e da circulação do capital na sociedade pós-Revolução Industrial.

Fontes bibliográficas:
ARRUDA, José; PILETTI, Nelson. Toda a História. 7ª São Paulo: Ed. Ática, 1997.
BURNS, E. História da civilização ocidental – Volume II. 2ª São Paulo: Ed. Globo, 1964.
VICENTINI, P. História mundial contemporânea (1776-1991). Série Manual do Candidato. 2ª Ed. Brasília: FUNAG, 2010.


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