segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Fim do Marketing Multinível no Brasil?




Já é público e notório o que está acontecendo com o marketing multinível no Brasil. Depois do bloqueio das operações de Telexfree, BBOM, Blackdever (e agora a Priples) houve um frisson no mercado que até então navegava em águas tranquilas e a perspectiva é que neste mês de agosto haja outras ações de bloqueio de empresas. E isso nos remete a uma pergunta: qual será o futuro do marketing de rede no Brasil? Afinal, com esse clima de incerteza o trabalho neste campo fica muito prejudicado o que pode ocasionar uma certa rejeição por parte dos pretensos distribuidores. E mais: será o fim do marketing multinível no Brasil?

Caça às bruxas

Recentemente o Ministério Público criou uma força tarefa para investigar empresas suspeitas de atuarem no esquema de pirâmide financeira, prática ilegal n
o Brasil. E com o advento da famigerada e natimorta PEC 37 o MP precisa colocar suas barbas de molho e mostrar sua importância.
No início eram apenas 5 empresas, agora já são 33 sob a mira do MP. Particularmente, acho uma ação extremamente benéfica, pois houve uma proliferação de empresas de marketing multinível no País criadas sem muito controle, com produtos duvidosos e planos realmente insustentáveis.
Depois da “intervenção” do MP o alvoroço tomou conta tanto das empresas quanto de seus distribuidores e colocou o mercado multinível no cenário nacional de forma negativa, infelizmente. Pois o que se vê é uma verdadeira caça às bruxas sem uma definição aparente e estamos todos à espera de qual empresa será alvo de bloqueio de cadastros, pagamentos, bens, etc.

Marketing multinível x pirâmide financeira

O fato é que tanto o MP quanto a justiça não demonstram saber quais diferenças concretas entre o MMN legítimo e uma pirâmide financeira disfarçada de MMN e estão se baseando em “indícios” diante de algumas informações como promessas de enriquecimento, rapidez nos ganhos, valores exacerbados, falta de foco no produto.
No entanto, de acordo com informações dos órgãos citados, há indicativos que pretendem dar um caráter de diferenciação. O discurso é que o produto é uma fachada para recrutar pessoas e por isso a empresa é uma pirâmide financeira.
Concordo que o produto é a mola mestra sim, isso é óbvio. Mas como definir que um produto é fachada, quais os critérios? É o conhecimento do distribuidor sobre ele? É o formato do produto, se é físico ou digital? É a demanda? Bem, não se sabe ainda até que as investigações resultem em decisões judiciais definitivas.
Acorrentado

Produtos e formação de rede

Como todos sabem, durante 14 meses fui empreendedor da Polishop Com.Vc e em toda conferência da empresa era dito que o foco não era vendas de produtos, mas a formação de rede de pessoas. Ora, se não é a venda, então como pode o foco ser o produto? Simples: no marketing multinível o foco é o relacionamento, a rede e não o produto. E isso vale para toda empresa de MMN.
Outro detalhe interessante dentro das investigações é que o produto gira basicamente em torno dos próprios distribuidores, bem no artigo que fiz sobre minha saída da Polishop eu declarei que apenas 0,47% dos meus bônus vieram de vendas que fiz a terceiros, isto é, eu mesmo consumi os produtos (que são muito bons, por sinal) para me qualificar e receber os bônus de rede.
Isso evidencia que o marketing multinível nos moldes atuais está muito mais ligado a consumo pessoal dos distribuidores do que à venda direta em si. Até porque, ainda utilizando como exemplo a Polishop, o bônus por vendas diretas é de 5% e por indicação é R$ 110,00. Ou seja, para ganhar em vendas diretas o mesmo valor de uma simples indicação é preciso vender R$ 2.200 em produtos. Então, eu lhe pergunto: é mais vantajoso dispender um tempo para vender ou convidar pessoas para o negócio?

O Tsunami dos bloqueios (e até prisões)

A tendência é que mais e mais empresas passem pelo crivo dos bloqueios judiciais, a onda está apenas começando. Além das 4 que já sofreram algum tipo de intervenção nos negócios, outras poderão sofrer, como NNEX, WCM777, Multiclick Brasil, ADS Gold, Money Over Work e outras.
Vejamos os 4 casos concretos e vamos tentar traçar semelhanças que talvez serviram de mote para que o MP pedisse o bloqueio da justiça:

TELEXFREE

Em artigo datado do mês de outubro sobre as suspeitas da Telexfree ser pirâmide financeira, eu abordei a fragilidade de seu plano de marketing no sentindo da sustentabilidade e que ele mereceria alguns ajustes para que os divulgadores pudessem ter um negócio mais sólido nas mãos, principalmente em relação ao produto VOIP.
E agora, o argumento da justiça é que o número de linhas VOIP é superior aos habitantes do Acre e em breve superior à população do País, tornando-se algo insustentável.

BBOM

No plano atual os rastreadores são comodatados pela própria empresa o que gera comissões aos associados. O MP alega que os rastreadores não foram e/ou não estão sendo entregues e também que “o mecanismo de bonificação aos associados era calculado sobre as adesões de novos participantes. Quanto mais gente era trazida para a rede, maior era a premiação prometida.” (trecho em destaque retirado do site do MPF/GO)
Sob a entrega dos rastreadores há uma falha realmente por parte da empresa que já a assumiu publicamente e se comprometeu em resolver o mais rápido possível, mas aí veio o bloqueio e o imbróglio judicial o que deixou as coisas, por enquanto, em stand by.

BLACKDEVER

Eu não conhecia o plano da Blackdever até poucos dias antes do bloqueio quando o meu amigo Pablo Teixeira, do blog MMN Expert, me convidou para uma apresentação. Gostei muito da proposta da empresa, mas que era preciso ver os “próximos capítulos” das investigações do MP. Três dias depois a empresa foi suspensa.
A Blackdever tem um plano sustentável e comercializa cartões que seriam convertidos em descontos dentro de um site de compras. Segundo a justiça de minas gerais a empresa não tem autorização para comercializar cartões de crédito pré-pago.

PRIPLES

Enquanto eu escrevia esse artigo, mais uma empresa sofreu punição e dessa vez em caráter criminal. Os sócios da Priples, Henrique Maciel e Mirele Pacheco, foram presos no sábado (03/08) sob acusação de praticarem pirâmide financeira e crime contra a economia popular.
Dessas quatro, a Priples é a única, ao meu ver, que realmente merecia uma intervenção severa, não sei se com a prisão dos sócios, mas o plano de negócios é totalmente sem nexo e, de fato, se assemelha a um esquema piramidal.
ALGUMAS “SEMELHANÇAS” ENTRE ELAS
  • Nenhuma delas faz parte da ABEVD, associação que representa algumas empresas de vendas diretas e que tudo indica goza de muito prestígio diante do Ministério Público e Justiça.
  • Nenhuma exige que o distribuidor tenha produtos físicos em mãos para comercializarem.
  • Todas buscam formas de que o distribuidor possa recuperar o seu investimento e para isso criam mecanismos de recompensas recorrentes.

Fugindo do marketing multinível tradicional

Isso quer dizer que estas empresas fogem das amarras do marketing multinível tradicional como já disse no meu artigo muito prestigiado Marketing do bem, não caia neste golpe. De acordo com a cartilha tradicional a empresa ganha muito dinheiro, alguns líderes ganham muito dinheiro e muitos (na base da pirâmide) perdem dinheiro.
Para mim, pirâmide financeira é aquilo que dá prejuízo para a maioria. Se o Ministério Público fizesse um pente fino em empresas conceituadas como Amway, Herbalife, Monavie, Polishop, Forever iria ver realmente onde estão as empresas que dão prejuízo ao consumidor.
Não sei se elas estão na lista das 33 empresas a serem investigadas, mas a própria Procuradora da República de Goiás, Mariane Guimarães, perguntada sobre quais seriam empresas legítimas, em entrevista ao Portal EBC, citou a Herbalife, Tupperware, Avon e Natura.
Todas elas são associadas à ABEVD e, com exceção da natura, as três são grandes empresas norte-americanas que possuem muito lobby por lá, afinal como explicar que uma empresa como a Amway que pagou 55 milhões de indenização a ex-distribuidores que alegaram ter prejuízos continue operando? Isto é, ela praticamente assumiu, no acordo judicial, que realmente deu prejuízo aos distribuidores.
Se empresas como essas passarem incólumes diante das investigações vão continuar fazendo a alegria de poucos e a tristeza de muitos. O que veremos é apenas meia dúzia de diamantes ganhando dinheiro, desfilando com suas Mercedes, viajando para paraísos tropicais, todos sustentados pelas milhares de pessoas “aqui embaixo” que ficarão no prejuízo.

De volta ao marasmo do marketing multinível

Apesar das minhas críticas ao plano da Telexfree, é preciso admitir que a empresa foi responsável por estabelecer um novo marco no MMN, hoje não tenho dúvidas que o MMN no Brasil se divide em antes da Telexfree e depois da Telexfree. Antes, o marketing de rede era um grande marasmo, principalmente pelo fracasso retumbante da Amway em terras brasileiras e pelo plano da Herbalife se resumir a pessoas que gostam apenas dos produtos e não fazem rede, pelo menos a maioria.
E claro, porque as pessoas não ganhavam dinheiro, apenas os líderes recebiam pagamentos recompensadores, a grande massa era apenas consumidora de produtos superfaturados e desnecessários, pois os líderes alimentavam a esperança dos incautos de que eles deviam consumir mais e mais e com o tempo e paciência a rede iria se fortalecer. Mas, o resultado disso tudo está no gráfico abaixo, o qual chamo de CICLO DO TERROR.
Ciclo do Terror no Marketing Multinível
Se a intenção for realmente tentar eliminar planos que vão contra essa tradição jurássica do MMN tradicional, principalmente em relação ao produto digital que já é uma realidade, vide as apps que já movimentam bilhões em todo mundo, será um retrocesso sem precedentes e será um duro golpe no marketing multinível.
E poderá ser o fim do marketing multinível… Não um fim apocalíptico, mas um definhamento brutal e desconfiança generalizada ocasionando um recrudescimento no número de interessados em se associar a uma empresa. Poderemos, então, voltar ao marasmo…

Uma luz no fim do túnel

Embora não seja uma situação muito cômoda, as ações do Ministério Público poderão ser um divisor de águas no marketing de rede, pois assim poderemos ter uma distinção mais precisa entre as empresas legítimas e as ilegítimas, inclusive ajustando o plano de marketing de algumas, nesse sentindo duas empresas tem avanços: BBOM e Dumba.
A BBOM está reformulando o seu plano de negócios para se enquadrar aos moldes do que o MP julga correto e em alguns dias deve ter um documento fundamentado que provavelmente passará por análise daquele órgão, talvez teremos notícias em breve sobre isso.
A Dumba também reformulou o seu plano, antes de uma eventual investigação oficial do Ministério Público, para isso convidou o controverso Marcos Duda para aprimorá-lo, tão controverso que foi necessário o diretor Lucas Ribeiro gravar um vídeo dissociando-o da empresa e informando que ele foi apenas um consultor que atuou especificamente na reformulação do plano de marketing.
Essas atitudes são muito positivas, pois já dão a demonstração da preocupação em manter o negócio sustentável e de acordo com os parâmetros exigidos por órgãos oficiais para que os associados possam trabalham de forma tranquila, ainda que não haja regulamentação do multinível no Brasil.

Insegurança jurídica

Acredito que enquanto não houver um parecer oficial para delimitar o que o MP e a Justiça entendem de forma clara como marketing multinível verdadeiro, fica muito complicado o recrutamento de pessoas para novas oportunidades, pois são 33 empresas sob investigação.
O que não se sabe ainda é se essas 33 empresas são apenas brasileiras ou englobam também de outros países. E, numa possível proibição de cadastros de uma empresa estrangeira, como ficaria essa parte operacional? É bom aguardarmos os próximos capítulos dessa novela.
O que falta tanto ao MP quanto à justiça é dar um norteamento do que é certo, afinal quem tem um conceito do que é errado deve ter por obrigação um conceito do que é correto, não é verdade? Somente dessa forma teremos segurança jurídica para atuar com multinível no Brasil.

E aí, será mesmo o fim?

Eu costumo ser o mais otimista possível em todas as situações e não quero acreditar que o Estado brasileiro vá fechar os olhos para projetos inovadores por causa de uma minoria oligárquica que está a frente do mercado há anos gerando frustração e prejuízo às pessoas.
Agora, se um dia ficar definido de modo normativo que o que é legítimo é o modelo ultrapassado norte-americano da Amway, Herbalife, Monavie e Polishop, aí certamente será o fim. Pois só continuarão promovendo empresas desse tipo aqueles que são masoquistas (gostam de perder dinheiro) ou sádicos (gostam de fazer outros perderem dinheiro).

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Antonio Junior

 é o idealizador do Meu Dinheiro em Casa. É economiário e formado em Letras pela Universidade Estadual de Goiás. Uniu a habilidade na escrita com a experiência em rentabilização no mercado financeiro para criar este blog.

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